quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Dama de copas

Para Maiara

Parece que o meu jogo virou,
E eu não tinha uma carta na manga,
Quando apareceu de copas, uma dama
Minha sorte no jogo acabou

Uma estratégia, um pequeno blefe,
Era tudo o que eu precisava ter
Mas ela no entanto iria compreender
Minha jogada e me achar um patife

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

Eu era o rei detentor de todas as cartas,
E minha coroa era ego inflado pelo whisky,
Eu era louco, breve, sozinho e triste
O às de espadas era a minha marca

E quando a dama de copas apareceu,
O meu jogo ensaiado acabou
De rei fui à valete, ela me transformou,
Foi a carta coringa, ela me venceu.

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

Mas das cartas, ah ela sabia de todas
E sabia tudo sobre a vida e a morte.
Ela lia minha mente, via nas cartas a sorte
Ela me marcou, parece que sofrer virou moda

A quinta carta, a dama de copas
Virou e também virou o meu destino,
O que era par de ases, virou desatino
Perdi tudo, até os botões de minha roupa

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

O que seria nas cartas uma vitória normal
Foi na mesa virada, a causa de minha mudança,
E agora até que tenho uma boa esperança,
De que a dama de copas comigo faça casal

O que no amor seria mais um grande vexame
Foi nas cartas que eu fiz a minha melhor aposta
Ganhar e perder aquilo que mais se gosta
Ganhar e perder o vício por mais que você ame

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte.


Fabiano Favretto

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Peças

Você tem mais que uma carta na manga,
Você tem os coringas à seu dispor.
Você tem feito as regras e não é de hoje,
Você tem ganhado sempre me destruído.

A peça que faltava no quebra-cabeças,
A peça é aquela que nunca existiu.
A peça então você não achará,
A peça foi você que a perdeu.

Fabiano Favretto


Reina

E hoje a noite cai,
Mas não são os relâmpagos:
É o tempo que se esvai
Levando junto o encanto.

E te amei nessa tempestade
Enquanto não chegava calmaria,
Era como se uma metade
Minha que facilmente esvaia.

Mas na madrugada
O silêncio reina
Em meio à estrada

Onde a hora teima
Fazer insistente chegada
Feito chama que queima.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Culta

A vida é demasiada curta
Para viver sem arte!
A vida é demasiada culta
Porque viver é uma arte!

Fabiano Favretto

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Metafísica da palavra

E do alto da colina, ouve-se um grito que ecoa por quilômetros:
REVOLUÇÃO!!!!
- Por que escolheu esta palavra?
- Não escolhi, ela se escolheu.
- Não, você deve ter pensado nela!
- Entenda, minha cara: a metafísica das palavras é de que estas sempre existiram. É exatamente como a morte, que é o resultado da vida... A palavra é o produto do silêncio.
- A morte é inevitável!
- A palavra é necessária.

Fabiano Favretto

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Líquido âmbar

Não compreende-se viver
Se não há whisky.

Fabiano Favretto

De antemão

Estou tão ansioso
Que de viver já esqueço,
E antes de ficar idoso,
Meu Deus, eu já padeço!

Fica tão difícil respirar
Quando o mundo cai ao chão.
Já é de se esperar
Que eu morra de antemão.

Está faltando inspiração
Nas escolhas que eu faço:
Se o resultado é sempre não,

Já espero o embaraço
Como uma sólida visão
Neste meu tempo-espaço.

Fabiano Favretto

Aos trigais

Quem em sua beleza dourada
Esconde os segredos do vento,
E os mistérios da terra e da garoa?

És pequena semente plantada,
Jamais deixada ao alento.
Também alimenta quem voa.

É mar de jade em juventude,
Onde no horizonte faz linha
Buscando as nuvens mais altas!

Em sua sazonal magnitude
És o prefácio da farinha,
Que seu valor ainda mais exalta.

Labirinto para os pequenos,
É cama e lar para quem a deseja
E quem em ti podem ver a calma.

O teu sibilo de vento eterno
É a liberdade que o homem almeja
Para entender sua própria alma.

É tu sob as estrelas,
Da Terra a parte mais nobre
Onde até a Lua a ti faz saldação:

É das riquezas amarelas
A que chega às mãos pobres:
Da fome é a redenção.

Fabiano Favretto

Voam

Somente os pássaros
Comem migalhas
Sem perder a dignidade.

Fabiano Favretto

Poema de dois minutos

Ânsia e idade
No tempo que
O homem tem
Fracionado.

Ansiedade
No tempo que
O homem tem
Cultivado.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Paixões antissépticas

O amor é o machucado
Que ardia quando você passava
Mertiolate ou mercúrio-cromo.

Fabiano Favretto

Paixões antiderrapantes

O amor é a aquaplanagem
Que o seu carro dá
Na curva mais perigosa.

Fabiano Favretto

Paixões antiaderentes

O amor é uma panqueca
Que você joga para cima
Torcendo para que ela
Não fique grudada no teto.

Fabiano Favretto

domingo, 25 de novembro de 2018

Sobres de outubro

Hoje escreverei tudo
O que não escrevi em outubro:
Até pelo que eu me lembro,
Nada escrevi neste novembro.

Escreverei sobre os dias
Que foram adiados de minha vida:
Estes foram somente corridas
Onde de prêmio nada havia.

Escreverei sobre as lacunas de vida
Que diariamente se sucederam:
Tantas as lacunas se criaram,
Que com a morte já tenho dívida.

Escreverei sobre os domingos,
Doloridos em sua essência:
Tenho nestes dias abstinência
De amores e de amigos.

Escreverei sobre a febre
E também sobre a náusea:
Tenho em mim essa ânsia
De viver de modo nobre.

Escreverei sobre a chuva
E sobre a neblina madrugueira:
A água me cai como uma luva
E a neblina me faz pensar besteira.

Escreverei sobre o amor
E sobre outros folclores:
Nem todas as coroas são de flores
Nem todo ouro tem valor.

E ainda escreverei sobre a morte,
Que se faz hoje a minha amiga:
Não por ser da vida, a inversa sorte,
Mas por ser a barreira mais antiga.

Escreverei sobre a ausência,
Que no mês passado dissipou-se:
De repente emancipou-se
Mas em mim ainda manteve essência.

Escreverei sobre viagens e embaraços
Dentro e fora da cabeça:
Que nenhuma distância permaneça
Fora da distância de um abraço.

Mas agora escreverei sobre a sorte,
E a fortuna que nunca me foi concedida:
Toda felicidade a mim proibida,
Será retificada após a morte?

Escreverei também sobre os ais
E sobre os estados de minhas mãos:
Seriam marcas naturais
Cicatrizes que nunca curarão?

Escreverei mais sobre aquele outubro 
Que tanto me foi alheio:
Se esse mês não foi devaneio,
Neste verso a verdade descubro.

Escreverei sobre o whisky,
Que tem sido meu segundo sangue:
Vampiro, sede que não se estingue,
Alcoólatra, medo, imundície.

Escreverei sobre o cigarro,
Que tem me deixado doente:
Amarelas meus dentes,
Palavra "amor" é um escarro.

Escreverei sobre a gasolina,
Sobre a borracha e sobre o aço:
Tanta mobilidade, tanto pedaço
Por uma dose de adrenalina.

E finalmente escreverei sobre mim,
Que de eu mesmo nada disse:
Quem me dera eu me descobrisse
No caminho de um mês com melhor fim.

Fabiano Favretto


domingo, 18 de novembro de 2018

Das confissões cibernéticas

Me desculpe, meu recanto,
Por aqui quase não mais vir,
Mas é que por enquanto
Tristeza não consigo sentir.

Tu que foi meu médico,
Um divã para minhas crises,
Um psicólogo, meu remédio,
Apoio, foco, criador de diretrizes,

A ti, meu blog querido,
Dedico este soneto,
Pois é um grande amigo,

E que sempre correto,
Esteve comigo,
E isso ainda será perpétuo.

Fabiano Favretto


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Violeiro sem sertão

Quando o violeiro não tem mais sertão
Sobram somente magoas e a terra seca no Coração
Quando o violeiro esquece a própria vida
Mas recorda o passado, esta ferida tao doída

Eu procurei o meu sertão
Mas só achei meu coração

Quando o violeiro sabe o seu destino
Sobram somente pedras e terra seca no caminho
Quando o violeiro esquece seu ponto de partida
Recorre à sua sina, esta amiga tao querida.

Eu procurei o meu sertão
Mas só achei meu coração

Fabiano Favretto

sábado, 20 de outubro de 2018

Luador Crescente

Lua agora crescente,
É crescente em problemas.
Trará maiores dilemas
Quando encher completamente.

Lua que deveria dar esperança,
No alto brilha a pico.
Eu nesta viagem fico,
Com meu coração em mudança.

Minha terra me espera,
Mas a dúvida nunca me deixou;
Se este sentimento restou,
O amor se recupera?

Lua que nada me diz,
E agora entre nuvens se esconde,
Porque não me responde
O que de errado eu fiz?

Sua luz prata intensifica
A clareza das nuvens.
Em minha mente há fuligem
Que minhas ideias sacrifica.

Lua que cresce em minha dor,
Haveria maneira de salvar-me?
Pois no ato de embriagar-me
É que vejo breve esplendor.

Pela janela vejo cidadezinhas
Que permanecem sempre bucólicas.
Em meu peito, vontades caóticas
De fazer tu somente minha.

Rezas para a Lua para que me afaste,
E eu rezo a Lua para que tu me ame.
Por mais que teu nome eu proclame,
Nada muda que me abandonaste.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Impressionism

Música para sonhar,
Não para se ouvir.
Entre acordes encontrar
Espaço para sentir.

Fabiano Favretto

Morte e impressionismo

Morte moderna,
Entre boleros o fim:
Coisa antes nunca vista!
Acabaria assim
Com impressão onírica:
Movimentos, enfim,
Com grande pausa rítmica.

Fabiano Favretto

Amores líquidos

No tempo dos telegramas,
As tristezas demoravam a chegar.
Às vezes se perdiam no caminho.

Fabiano Favretto

Quebra de distâncias

Tudo acontece
A mais de 600km,
E a distância
Não impede que isso
Possa te afetar
Profundamente.

Fabiano Favretto

Era luz

Quem antes era luz,
Na vida hoje é cruz.
Como estar indiferente
Se sou sobrevivente?

Uma vez mais entre abismos
Parado simplesmente permaneço.
A vida é apenas um adereço
Onde cultivo o meu cinismo.

Fabiano Favretto

Dia do caos

Num dia assim
A vida muda
E a angústia aprofunda:
Não vejo um fim.

A paz acaba
E a vida segue.
Não se consegue
Manter-se na estrada.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Poema de bosta desbota

Cor desbota
Cor de bosta
Cor desbota de bosta
Cor de bosta desbota

Fabiano Favretto

Soneto da vida que vai

Quando a vida vai
E não mais volta,
Em mim surge a revolta
E a felicidade se esvai.

Me tomam as horas
E me tiram os dias,
E de maneiras frias

O tempo vai embora.
A vida que me resta
É além do que alcanço.
Olho pela fresta

Equilibro-me ao balanço
Do que ainda presta
Para ver se longe avanço.

Fabiano Favretto

Ao fado

Amor fati,
Amor fútil.
Raiva Fácil
Ódio útil.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

r elevado à sexta potência

Se "r" é a incógnita,
"r" ao começar.
Pode ser que quando "r",
Possa você resultado encontrar.
"r" quando está certo,
e "r" para poder errar!
Se supostamente eu "r",
Pode ser que eu "r" ao acertar.
"r" elevado à sexta potência
Pelo motivo de sempre errar.
Mesmo que eu sempre "r",
A resposta irei solucionar,
Afim de permitir que "r²"
E no meu quadrado ficar.

Fabiano Favretto

R^6

Recolorir
Redesenhar
Resisto
Reconstruir
Registro
Recomeçar

Fabiano Favretto

Transposições

Transposições
De notas no braço
De minha vi(da)ola.
Ora, Sol maior por nós
Acabando em Dó menor de mim...
A sétima com Lá sabe Deus quando
Você cairá em Si.

Fabiano Favretto

Outubro rima com?

Primeira rima de outubro:
Se tentar novamente,
Juro que descubro!

Fabiano Favretto

Linhas, rimas e atalhos.

Na falta de caminhos curtos
Encara-se o longo trajeto.
Não espero que isso seja objeto
Nem o motivo de meu surto.

Na falta do atalho,
Encaro o longo trecho.
Não levo comigo apetrecho
Já que eu sempre falho.

Quando há falta de palavras,
No silêncio me escondo.
A falta de rimas

Na prosa vou transpondo,
Para que em linhas ínfimas
Eu vá me decompondo.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Todas as paredes

Todas as paredes
São grossas e opacas.
Não me mostram verdades,
Não me mostram as placas.

Não quebro os tijolos
E a parede permanece.
Estou perto do solo
Quando a morte aparece.

Fabiano Favretto

Meia visão

Não confunda Semiótica
Com semiologia:
Tu gosta de signos,
Mas não são dessa terminologia.

Fabiano Favretto

Bauman Boêmio

Amor líquido:
Whisky que fala, né?

Fabiano Favretto

Derradeira

Morte derradeira
No domingo;
Morte derradeira
No whisky;
Rima derradeira,
Assim findo:
Rima derradeira
Não existe.

Fabiano Favretto

Respeitem!

Se solidão é o que resta,
Nada de beijos e abraços.
Respeitem o poeta!

Fabiano Favretto

Retroluz

Mesa retroiluminada,
Mas a luz é de mercúrio.
Realidade eliminada:
Sei de meu destino pífio.

Fabiano Favretto

Verso universo

Pesado é o mundo
Pesado neste verso.
Onde eu me encontro
Neste universo?

Fabiano Favretto

Exclamo

Eu não escrevo:
Eu reclamo.
Mas é só no fim
Que eu exclamo!!

Fabiano Favretto

Confusão

Costumam confundir dom
Com escrever poesia:
Tudo é 50% ódio,
E 50% azia.

Fabiano Favretto

Efeito

Nem que ela pisque,
Sei que o efeito
É do whisky.

Fabiano Favretto

Dia d

Domingo
Com "d" de depressão.
Um dia encontrarás alguém,
Hoje não.

Fabiano Favretto

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Campos Estelares

Nesta vasta terra, nenhuma terra lhe foi apresentada. A ferramenta de trabalho está encostada nos sonhos mais profundos, alheio à toda seca e pobreza. Eis que o agricultor ganha asas e pode enfim buscar campos distantes além-firmamento. Planetas de cores tão vivas... arar os anéis de Saturno não parece algo impossível.
A Via-láctea, um verdadeiro campo de algodão celeste, repleto de espaços estelares, parece uma terra fértil para se plantar os mais belos sonhos.
Chegando o homem ao seu destino, confrontou em seu eu todo o mistério do universo. Tudo o que aprendera e o que lhe foi apresentado na Terra era agora algo insignificante diante de tamanha imensidão. Preparou assim a sua enxada, e com um golpe certeiro recuou os planetas que poderiam atrapalhar o crescimento de sua esperança.
Despejou ali as sementes que desejava e adubou com férteis e brilhantes constelações.
Admirou-se com o clima, vendo que haveria chuvas de meteoros. Ficou preocupado, mas tal sentimento logo se esvaiu quando percebeu que seria apenas uma garoa de estrelas-cadentes. Sorriu quando viu sua esperança florescer perante as adversidades universais e sentiu-se satisfeito ao ver que nem tudo está distante.
Chega a época de estiagem, onde tempestades solares afligem o campo de nosso agricultor. Por sorte ou colaboração involuntária dos corpos celestes, faz-se um eclipse que barra todo excesso de luz. Como o dia de repente virou noite, procura o nosso trabalhador um abrigo para repousar, e deitado debaixo de uma nebulosa, ao observar os desenhos abstratos do espaço profundo, adormece com um belo sorriso de lua.
É madrugada, e o cantar do galo acusa que a sina não havia mudado. Abrindo os olhos de modo sôfrego, vê sua enxada encostada ao pé da árvore, ao passo que o céu estrelado acusa que a noite não tinha deixado espaço para nuvens invasoras.
Com olhos lentos e ternos busca ainda reconhecer seus campos de sonhos estelares, antes que sumam perante o raio solar da realidade.

Fabiano Favretto


domingo, 9 de setembro de 2018

Sem bússola

Pedido
De socorro
S.O.S
Perdido
Descendo o morro

Fabiano Favretto

Existência de vida

Não se pode decidir pela morte
Por estar distante de nosso controle:
A existência, a vida não precede,
Pois viver é dessa condição o aporte.

Fabiano Favretto

Fome de vida

Fome de vida
Que de mim foi tirada
E trancafiada
Em cela esquecida.

Inerte e redundante
Em ciclos de ignorância,
Em noites de irrelevância
Eu sigo adiante.

Mas é abismo e cascalho
E é labirinto.
É um lamento falho

Que de mim sai sussinto
Quando me atrapalho
Quando nada mais sinto.

Fabiano Favretto

Neblina

Tanto tudo passa
E tudo dá voltas,
E quando a visão embaça
Não há reviravolta.

Fabiano Favretto

Acorde

No domingo findo
Me matando a esmo,
Para que no dia
Que está vindo,
Acorde eu mesmo.

Fabiano Favretto

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Explicação para o vazio

É que em minha existência
Não há qualquer essencia.
É por isso que tomo substâncias
Em todas as variadas circunstâncias.

Causa mortis, sereno e madrugada:
Em mim mais mortes programadas.
Torço para ouvir agora uma música triste
Para apagar em mim tudo o que existe.

Fabiano Favretto

Agouro

Na escura estrada
Como de costume,
A noite em negrume
Fazia-se instaurada

Em baixa velocidade
Estava eu a dirigir
E meu peito a digerir
Os fantasmas da realidade.

Hey Bulldog era a música que ouvia
Enquanto a chuva aumentava.
A estrada se encharcava
E meu medo só crescia!

Ouço lampejos e raios iluminam,
Enquanto o som posterior,
Hades, deus do mundo inferior
E Zeus, batalhas iniciam.

No semáforo fechado
Sinto presságio de má sorte:
Aquele que me anuncia a morte,
Com olhar tenebroso, velado

Estava em meio a rua,
De sangue, faminta a sua boca
Que aberta, quase pouca
Ofegava maldade pura.

Era um cão que se aproximava,
Em seus passos inaudíveis
Me causavam medos indizíveis
Ao passo que o fim se aproximava.

A um metro de distância ele estava
Enquanto um clarão no céu surgiu.
Aquela imagem demoníaca sumiu
E acelerei enquanto o sinal mudava.

Respirei aliviado enquanto dirigia,
Mas a imagem desse cão
Não sei dizer por qual razão
Em minha cabeça permanecia.

Cheguei em casa, e estacionei.
Dentro do carro permaneci,
E assim quase me esqueci
Que os faróis não desliguei.

Olhei para o painel de modo trivial,
A quilometragem marcava
O número da besta, mas achava
Ser uma coincidência ocasional.

Os faróis eu desliguei,
E retirei a chave da ignição,
Mas quando surgiu um clarão
Novamente paralisei.

Pelo reflexo do retrovisor,
Vi a malévola silhueta canina
No banco traseiro, o odor da saliva
Seu hálito de morte exalando horror.

Fabiano Favretto



Punhos cerrados

Não quero dormir.
Quero resistir!
Não quero me suprimir
E nem desistir.

O grito será alto
E a voz só aumentará.
Meu punho não se omitirá
Diante de qualquer sobressalto!

Fabiano Favretto

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Abismos negros

Para Fabiane

Teus olhos tão negros
São também profundos,
E neles me afundo
Em busca de teus segredos.

Teus olhos são abismos,
Onde o chão não existe,
E se neles meus olhos persistem:
Caio caio em mil achismos.

Doravante, um infinito,
Em meio a este instante visual.
Me sinto tão finito

Pois não há imensidão
Com amor mais bonito,
Que faz de mim expropriação.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Sobre o Chopp e Corações #10

A pergunta
Que fica:
Aguento mais
Uma birita?

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #9

Bebida quente
Coração frio.
Há quem aguente
Um coração vazio?

Fabiano Favretto

Turvo

Meu raciocínio
É turvo:
Na tua lembrança
Me conturbo.

Fabiano Favretto

Alguns goles por dia

A vida é curta demais
Para colocar gelo no whisky.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #8

No copo de chopp
Me afogo:
É tanto mar,
Para pouco fogo.

Fabiano Favretto

Não respectivamente

Bukowskando,
Drummondiando;
Me buscando,
Me odiando.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #7

Se fica 
Só o copo,
Na cama
Eu capoto

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #6

Quando
O mundo gira
O meu copo
Vira

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #5

Quando
O efeito chega
O coração
Festeja.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #4

Cada gole
Gelado
É um beijo
Apagado.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #3

A caneca
Se esvazia
E minha dor
Alivia

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #2

A caneca 
É gelada
Feito coração
Da amada

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #1

Não há chopp
Que não
Encha o vazio
De um coração
Sombrio.

Fabiano Favretto

domingo, 12 de agosto de 2018

Vidas

Ninguém liga para a vida
De milhões de baratas,
Estão todos na torcida
Por assassinato em massa.

Minha vida não vale mais
Que a vida de meu irmão.
Podem dizer que perdi a noção,
Apenas vivi demais.

Fabiano Favretto

Sol

O pôr do sol
Em ouro tudo transforma,
Pois no dia tudo pesou
Com sua luz em boa forma.

Fabiano Favretto

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Dai-me

Dai-me forças e inteligência;
Dai-me o dom da ciência.
Dai-me glória e sabedoria
Dai-me a chance de ter alegria.

Amém

Fabiano Favretto

Vai em cima de bolos de aniversário

A felicidade é a pequena chama de uma vela 
Exposta ao temeroso vento de um furação.

Fabiano Favretto

Das terças

Compre, consuma,
Tenha um Iphone.
Beba, fume,
Encha os pulmões de oxigênio
Antes que o ar esteja cheio de fumaça.
Use psicotrópicos e tome conhaque:
O baque será igual
A uma manhã de segunda-feira.
Desvie das sombras em um dia quente,
Desvie das marquises em dias chuvosos,
Desvie da piedade que possa ser encontrada em você!
A sorte não se encontra,
A morte se encontra.
Chute uma lata,
Quebre uma garrafa em uma placa de "PARE".
Piche as paredes de teu quarto,
Piche seus braços como telas definitivas,
Mas não esqueça de pichar
Os muros de suas limitações.
Quebre uma lápide
E coloque uma mesa de bar no local.
Quebre a cabeça
Quebre a rotina
Quebre a vida miserável
Que te quebra todo dia.
Mas não esqueça
Que sempre haverá uma terça-feira ruim
Depois de uma segunda desastrosa.
Ânimo, o sistema quer você morto,
Mas ele não sabe que você já está morto por dentro.
Sorria, você simplesmente anda entre todos
Sem saber onde vai, e porque vai.
Caronte sempre será seu melhor gondoleiro.
Admita, uma terça-feira nunca te será suficiente.

Fabiano Favretto

Calmaria

Teu corpo, eu queria
Teu corpo, e com ele faria
Teu corpo, sim, faria!
Teu corpo se contorceria.

Meu corpo, eu queria
Meu corpo, contigo faria,
Meu corpo, sim, faria!
Meu corpo se contorceria.

Nossos corpos, eu queria
Nossos corpos, a gente faria,
Nossos corpos, sim, faria!
Nossos corpos pós-tormenta: calmaria.

Fabiano Favretto

Juízo do sem juízo

Coração, se acalma!
Se ela vai,
Não te sobra nada!

Fabiano Favretto

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

menos e mais

Já se matou por muito menos
E já se viveu por muito mais.
A ordem dos fatores não altera
Os produtos desiguais.

Fabiano Favretto

Transe verbo!

Transe verbo!
Transe estado
Transe ação.

Transo moderno
Intransitado
E em transação.

Fabiano Favretto

terça-feira, 31 de julho de 2018

Espero que goste

Terminei julho,
Juntei os cacos
E fiz um embrulho.

Fabiano Favretto

Corações condecorações

Entender de corações
E de alegorias:
Com decorações
Imitar alegrias...

A vida é uma piada
Que sempre se repete,
E só não é mais engraçada
Pois nem tudo a nós compete.

Mas eu entendo de corações,
E dos títulos que eles carregam:
Buscamos condecorações
Alimentando egos que nos cegam!

Fabiano Favretto

Beijo e desejo

Beijo,
Só a flor no jardim.
Desejo,
Já me chegou ao fim.

Fabiano Favretto

domingo, 29 de julho de 2018

Recaída

Sofri mais uma recaída
E procurei recursos
Para ouvir a sua voz.
Não se trata mais de "nós":
Cada um seguiu seu curso
Mas eu não vi saída.

Fabiano Favretto

Exposição

Museus?
Meus olhos
Nos seus.

Fabiano Favretto

Ficou

Café acabou...
Foi a poesia,
A xícara ficou.

Fabiano Favretto

Com

Café
Com fé
Com fel
Com felicidade

Fabiano Favretto

Na água flores

Na água as flores
Estão aos poucos definhando,
E eu pouco a pouco me desafiando
A não ter mais rancores.

As flores estão morrendo,
Mas todos estamos!
Neste ponto chegamos:
Estamos vivendo?

Fabiano Favretto

Abomina


Inspiração?
Esta centelha divina...

Meu coração?
Emoções abomina.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Loiros cabelos

Para Pamela

Com atitude mais que certeira
Ela viajou milhas e milhas assim,
Para resolver tudo, por fim.
Ela sempre tomou a dianteira.

Ela é mais que bonita:
Ela é autenticamente bela.
Queria poder de perto vê-la
Mas ela é minha criptonita!

Que pele alva ela tem,
Igual o mais brilhante luar!
Qual aroma que me vem,

Quando um abraço formos dar?
O Sol não me aquece mais tão bem:
Seus loiros cabelos é que irão me esquentar.

Fabiano Favretto



Grampeador

Grampeador
Com grampos
Brandos
Forjados com amor.

Fabiano Favretto

Alzheimer seletivo

Lembro do que
Deveria esquecer;
Esqueço do que
Deveria lembrar...
Alzheimer seletivo
É o motivo
De tanto fazer
Eu me ferrar.

Fabiano Favretto

Pouco sei

Pouco sei,
Pouco vi;
Só sei
Que escrevi!

Fabiano Favretto

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Falta alcool

Quanto mais sóbrio se está,
Mais triste também há de ficar.

Fabiano Favretto

Tampouco

Minhas forças se anulam,
Meus ombros se arrebentam;
Meus pensamentos não aguentam
Esses dias que se acumulam...

Viver sem nenhuma mistificação
É saber que os dias são somente dias,
E que no fim destes, não há alegria
Nem qualquer boa emoção.

Vivo pelo fim do dia
Para poder respirar um pouco.
Se hoje me foge a poesia,

Como não ficarei louco?
Há tanto mais que minha azia,
E não vejo o fim... tampouco!

Fabiano Favretto



Transtornado

Tem dias que você quer
Chutar o balde,
Mas o balde 
Está transbordando.
Tem dias que você quer
Colocar a cabeça no lugar
Mas você sabe,
Está transtornado.

Fabiano Favretto

terça-feira, 24 de julho de 2018

Extremamente viciável

Baco,
Afrodite.
Sou fraco,
Acredite.

Fabiano Favretto

Ponteados

Quando se tem ponto e vírgula, se enumera;
Quando se tem um só ponto, acaba-se a frase.
Mas quando se tem três...

Fabiano Favretto

segunda-feira, 23 de julho de 2018

CCCCC

Contrações
Constrições
Contusões
Concussões
Corações.

Fabiano Favretto

Frio fim

Pele branca gelada,
Grama branca geada.
Sangue coagulado
Sob o amor sepultado:

Porque derrubastes
Meu sorvete napolitano?

Fabiano Favretto

Sinos sinais

Se os mortos não amam
E os fantasmas não falam,
Por que à meia-noite
Os sinos sempre badalam?

Fabiano Favretto

Ácidos

Ácido e
Flácido,
Meu estômago
Antes básico
Agora não digere
Nenhuma palavra
De alienação!

Não engulo em seco
E não ouço mais
Quem eu seguia!
Meu estômago é um beco
Onde jamais
O ódio habitaria...
(Mas agora habita!)

Tempos mudam,
Ácidos se criam:
Minhas palavras
Hão de derreter
Todos aqueles
Que me obrigan
A obedecer...

Fabiano Favretto



domingo, 15 de julho de 2018

Paradidático

O nosso lençol usamos
De modos paradidáticos,
Jamais de modos pragmáticos
Nesse amor que lecionamos.

Pássaros cantarão lá fora,
E nossos corpos dançarão na cama
Nesse aprendizado de quem se ama,
E no final da aula não iremos embora.

Fabiano Favretto

Marcas de amor

Deixe marcas em minha pele,
Como aquele desenho que fizestes.
Deixe marcas que se revelem,
Como uma rosa que floresce.

Deixe a marca em mim,
Assinatura de seu perfume!
Aroma que dure até o fim,
Até que surjam os vagalumes!

Deixe a marca do seus lábios,
Como rosa e carmim!
Como o caminho de um sabio,
Quero mostrar o melhor de mim.

Mas deixe a marca que eu gosto,
A marca com fervor!
Que posso ver em seu rosto
Depois que fazemos amor!

Fabiano Favretto

Marca de laço

Deixe marcas em mim,
Mas não marcas no coração.
Deixe marcas em mim,
Mas nao me deixe no chão.

Deixe marcas em mim,
Mas marcas que eu admire!
Deixe marcas em mim,
Mas marcas que ninguém tire!

Mas não faça marcas
Simplesmente por marcar,
Porque por mais que faça

Eu te amar,
A marca me enlaça
A ponto de me matar.

Fabiano Favretto

sábado, 14 de julho de 2018

Soneto pigmentado

Inventei uma cor
Jamais catalogada,
E que se bem explanada,
Pode ilustrar o amor:

Cor quente e fria,
Com variação constante:
Pigmento colorante
Que queima e dá hipotermia.

Essa cor primeiramente,
Não é melhor que as demais:
Ela colore somente

Os nossos ais,
De formas incoerentes,
De formas naturais.

Fabiano Favretto

Er...

Ar
Are
Arre!
Erra
Era
Er...

Fabiano Favretto

Não Bem

Não, meu sábado não!
O domingo tudo bem,
Mas meu sábado não!
Se tu não faz por bem,
Negam-te: sempre não!
Se tu age por bem,
Contigo será um não.
Hoje estarei bem?
Não, hoje não!

Fabiano Favretto

terça-feira, 10 de julho de 2018

Cor de Laranja

Cor laranja que gosto,
Mil sóis nesta cor acolhem:
É um sorriso que me socorre,
E a bonita luz em teu rosto.

Laranja, cor, tijolo, chão:
Cítrico paralelepípedo
Que resplandece vívido
Em constante ilusão.

Cabelos cor de laranja,
Cabelos que reluzem sempre!
Cabelos com beleza recorrente
Da ponta dos fios até a franja.

Laranja também é a vida,
Que em cor quente tem passado!
Laranja, tom adocicado
Com a cor da tua beleza vivida.

Fabiano Favretto

Mortos os ponteiros

Sobrevivi até as 18 horas
Para saber que não haveria
Vida alguma nos ponteiros
Do velho relógio da esperança.

Fabiano Favretto

Clichês

Case,
Tenha filhos,
Ame,
Tenha um emprego,
Trabalhe,
Financie sua casa.
Compre um carro flex,
Financie seu carro.
Envelheça,
Vá ao médico,
Compre uma TV grande.
Abra uma cerveja às vezes
E morra de tédio
Todos os domingos
Sentado em todo o clichê
Acumulado em suas costas.

Fabiano Favretto

Liberdade black friday

Estou fadado à toda liberdade,
Desde que esta seja adquirível
Nas lojas (a preço acessível)
Sem muita dificuldade.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Eita essa Poesia

Eita essa Poesia,
Coisa difícil de escrever!
Só ela me alivia
Só ela me deixa viver!

Se a caneta corre
E versos norteia,
Minha vida socorre,
Minhas vistas clareia.

Poesia que é minha,
E que de mim faz parte:
É a derradeira vinha
De onde eu colho arte!
Fabiano Favretto


sexta-feira, 6 de julho de 2018

Ai de mim

Queria eu hoje
Estar fora de mim:
Poderia ser embriagado,
Em transe,
Em coma...
Queria eu hoje
Estar fora de mim,
Pois tenho hoje em mim
Todo o peso do mundo,
Do mundo que eu conheço.
Talvez não seja tão vasto,
E talvez não seja tão pesado.
Meu mundo é talvez
O bastante
Para me jogar de joelhos
E me derrotar.
Queria eu poder fugir
Para além
De minhas próprias barreiras!
Mas o mundo é uma esfera,
E se eu contorná-lo
Acabarei uma hora
No mesmo ponto.
Ai de mim!
A seleção perdeu,
O amor não veio,
E as vergonhas financeiras
Podem começar a surgir.
Ai de mim!
Queria eu hoje
Estar fora de mim,
Pois é ali fora
Que talvez 
A felicidade se encontre.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 5 de julho de 2018

De-pressões

Tanto tempo de pressão,
Muito tempo depressão.

Fabiano Favretto

Pressões

Dois versos poderiam dizer uma explosão:
Quando o meu eu sai de si mesmo
Meu corpo não suporta a pressão.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 4 de julho de 2018

alter-ego

Briguei comigo mesmo
E não me perdoei por isso.

Fabiano Favretto

Semente saudade

Semente de saudade plantada
Na terra do peito irrigada:
É saudade que germina,
A saudade vira muda.

Quem me dera, quem me dera
Colher os frutos, quem me dera!
Desta árvore que tanto cresce,
E na primavera me floresce.

Saudade cada vez mais forte,
Saudade é quase igual a morte.
Folhas da saudade ao vento balançam,
E na sombra d'ela pássaros cantam.

Saudade enraizada,
Em meu coração é eternizada.
Torço que neste frio inverno
Ela seque, me tirando do inferno.

Saudade, saudade que reina,
Se ela seca, sei que queima
Na lareira de um novo amor,
E devolve para mim meu calor.

Mas saudade, sua madeira é muralha,
Que sempre me atrapalha
E me priva de poder enxergar
Aquela que poderia me mudar...

Fabiano Favretto

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Permanência

A existência
Precede a essência
A menos que
A ausência
Preceda tudo o que
De ti faz permanência.

Fabiano Favretto

domingo, 1 de julho de 2018

Diferente

Este domingo me limitou
Ao espaço de nenhuma interação.
O tédio que se instalou então,
O meu tempo apagou.

Cheguei ao estágio que sempre evitei:
Dormir! Dormir para sanar a ociosidade
(Livro algum pode fazer com sinceridade).
Como reduzir o vazio em que me achei?

Fabiano Favretto

sábado, 30 de junho de 2018

Demodê

Morrer de amor 
É tão ultrapassado!
Viver com amor
Me parece mais sensato.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Para onde

Perdi minha sexta,
Não sei onde ela foi.
Sei que ela se foi:
Nesta noite não houve festa.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Pena de morte

A morte é a pena
Que cai quando
O vento do tempo
Para de soprar.

Fabiano Favretto

Madeeeeeeeeeeeeira

Um grito em meio às árvores
É mais silencioso
Que uma árvore em meio aos gritos.

Fabiano Favretto

Prefixos

Meu coração é cheio de prefixos,
Que vão opondo DESamor e DESabrigo;
Há aqueles que quando vão me afastando, 
Vão ao mesmo tempo acabando comigo:
Me DESmascarando, me crucifico.
Prefixo A gosta de me negar:
Quando quero assim me afogar,
Tento me jogar no mar.
Se coloco A na frente,
Não me resta prefixo, me resta Amar.

Fabiano Favretto

A forca

Saturno tem menos anéis
Que os dedos de suas mãos.
Tem agora em seu coração
Veneno de mil cascavéis.

A lua reflete menos luz
Do que seus olhos bonitos.
Tem mais tempo que o infinito
Tem uma boca que seduz.

Tenho mais água na boca
Do que tem água no mar,
E tenho mais medo de te amar
Do que medo de ir à forca.

Fabiano Favretto


Mentirinhas

Eu não sei mentir
Que eu sei mentir muito bem,
E minto que te amo também
Só para te ver sorrir.

Fabiano Favretto

terça-feira, 19 de junho de 2018

Papo com E.T's. ou seres deste e outros mundos #1

- Se eu te dizer que vou pra biqueira, ou se vou pra Saturno, pra qual lugar acha que eu vou?
- Não faço ideia...
- Mano, eu falo em códigos, entendeu?
- Cara, não sei mesmo.
- Eu vou pra biqueira fumar uma pedra e de lá vou pra Saturno, manja?

Fabiano Favretto

domingo, 17 de junho de 2018

Homo Sapiens Fracassus

Fracasso como homem,
Fracasso como bicho.
E agora, como faço,
Me encaixo em qual nicho?

Fabiano Favretto

Poeta morre sozinho

Talvez tenha começado
A escrever poesia
Para justificar esta solidão
E também esta sina
Que me acompanha até então:
Poesia é minha mera justificativa
Para remoer toda esta situação,
E rir/ chorar de minhas amarguras,
Que sempre me atiram ao chão.

Estou a apenas um passo
De considerar-me poeta,
Para que de forma completa
Eu não assuma todo meu fracasso.

Fabiano Favretto

Soneto de toda sombra

Acaba mais um final de semana,
E com ele, minha vontade de viver,
Pois não tive nenhum momento de lazer
E agora meu peito só reclama.

Roubastes, sim, minha vontade
E pela falta desta, sinto remorso.
Mais uma vez assim me torço
Por achar que é dura a verdade.

Pareces bonita neste domingo,
E alheia à culpa alguma;
De ressentimento não tem um pingo,

E eu aqui nessa penumbra!
Esse domingo agora findo
Imerso em toda sombra.

Fabiano Favretto

sábado, 16 de junho de 2018

Somente nãos

É visto que não posso contar
E é visto que a presença faltaria,
Pelo fato de que não podes acreditar
Que eu sou uma boa companhia.

De todos os convites que aceitastes,
A nenhum honrou com sua presença.
Me deixou sem chão, me quebrastes
Sem se preocupar com o que aconteça.

Estou hoje deveras magoado
Pela sua falta de consideração.
Estou agora meio frustrado

E por isso, de antemão,
Te darei o recado:
De mim terá somente um "NÃO".

Fabiano Favretto

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Não tenho escolha

Vou procrastinar meu amor
Para o próximo dia dos namorados,
Pois esse ano estou ocupado
Armazenando todo o meu rancor.

Vou procrastinar minha paixão
Para o próximo dia de São Valentim,
Pois no momento não vejo para mim
Qualquer possibilidade além do caixão.

Vou procrastinar meu romantismo
Para a próxima data comercial,
Pois agora só vejo o cinismo;

Vou procrastinar esse tom nupcial
E evitar tanto consumismo:
Melhor esperar o carnaval.

Fabiano Favretto


Narciso enamorado

No espelho,
Eu namoro no espelho!
No reflexo do espelho
Que eu me vejo
Eu namoro.
E de nada mais o reflexo
Me interessa como eu mesmo,
Pois eu me namoro
E minha imagem eu amo.
Minha imagem eu namoro
E no espelho eu me amo.

Fabiano Favretto

domingo, 10 de junho de 2018

Futuro diálogo

O tempo para nossa primeira conversa
É hoje!
Mas o tempo para a minha coragem
É talvez amanhã.

Fabiano Favretto

Garota intensa

Garota imensamente intensa
Que em suas fotos me aparece,
E a mim tanto enlouquece
Por eu querer que me conheça.

Garota intensamente linda
Que em suas fotos, tatuagens vejo.
Vê-la pessoalmente é um desejo
Que agora não me finda.

Garota mais do que bonita,
Sua ausência é injusta:
Por tu me parecer infinita,

Por viver sem aquilo que ofusca,
Por ofuscar a estrela que conflita
E deixar esse desejo que me assusta.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Fases

Não acerto as crases,
Não acerto as frases:
São todas elas "quases";
São todas elas fases.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Força invisível

Oh centelha divina de esperança,
Sinal de celular que me afasta do ostracismo
E proporciona o acesso à rede
Para eu poder ver conteúdo irrelevante,
Permanecei aqui!
Sinal invisível que me anima,
Afim de possibilitar o uso do Whatsapp,
Não saia daqui!
Sem internet não há mundo,
Sem internet, tampouco há vida!
Afastai-me daqueles que vivem à sombra
Das verdades alheias ao Facebook.
Afastai-me daqueles que vivem
Suas vidas miseráveis
Sem qualquer like ou comentários
Em seus status!
Que todo wi-fi abençoe
E encha a casa
De conteúdo pífio
E fakenews.

Amém

Fabiano Favretto

terça-feira, 5 de junho de 2018

Tocante

O violino tocante
Agora neste tempo,
Me dá ar neste instante
E também me dá contento.

O som, um paradoxo,
Faz minha existência se esvair,
Não de modo ortodoxo
Ao fazer meu peito contrair.

As cordas e o arco,
Falta saliva em minha boca!
Neste rio musical, um barco,
Navega sôfrega a minha voz rouca.

Fabiano Favretto

Sonos e monstros

Não há razão.
Os monstros
Que em mim habitam
Se criam
À penumbra de minha lucidez.
O sono da razão
É a liberdade
De todas as feras
Que de mim são feitas.
O sonho da razão
É a meta que não alcanço,
E meus fantasmas
Se aproximam
Enquanto desfaleço.
Sobre esta mesa,
Meu corpo é inerte
Assim como meus pensamentos.

Fabiano Favretto



segunda-feira, 4 de junho de 2018

Desde que

A felicidade se encontra do outro lado da ponte,
Desde que ela não caia.

Fabiano Favretto

Este é um deles

Alguns poemas meus
São carne moída:
Servem somente
Para eu encher linguiça.

Fabiano Favretto

Ais as

Ideais,
Ideias.
Jamais
Tolas.

Fabiano Favretto

As ais

Ideias,
Ideais.
Tolas?
Banais.

Fabiano Favretto

Banquete e subterfúgio

Colocaram minha cabeça
Em um prato de prata
E em volta dela, meus pensamentos!
Nunca poderia achar
Que se comiam ideias
E de sobremesa, ideais.
Meu cérebro com gosto degustado 
Foi em mordidas breves acabado.
Não restando nada mais,
Devolveram minha cabeça
Livre de qualquer ímpeto.
Agora desses vazios banais,
Espero que a teimosia apareça.
Afinal, cabeça vazia
É oficina do capeta?

Fabiano Favretto


Nada a ver

Minha face
Tão defronte
Ao espelho
Explícito,
Explicitamente
Recuava
Ao reflexo
Convexo
Da minha
Retina
Que desatina
E não vê:
Nada a ver.

Fabiano Favretto