sábado, 30 de junho de 2012

Pensamento


"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
                                               Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Quando ganhei meu violão..

   Foi naquele mesmo ano que mudamos para Balsa Nova, 
e isso foi uma experiência diferente. Trocar de escola, é
sempre difícil no começo, porém acho muito interessante 
conhecer gente nova, com gostos diferentes.
   Após quase um ano da data da mudança, eu conheci bastante
pessoas diferentes na escola, e na sala, fiz amizades e me 
infiltrei em uma das "panelinhas".
   Era natal, ou quase. A minha curiosidade à respeito de 
meu presente era muito grande, eu não tinha a mínima idéia 
do que ganharia. Meu pai me convidou para ir à uma loja com ele.
Sem ao menos perguntar o motivo do convite, aceitei, e fomos 
para Campo Largo, calçadão da XV onde ficava a dita loja.
   A atendente veio toda sorridente perguntando qual o nosso 
desejo, e meu pai responde: "Um violão".
Meu pai sabia tocar violão, mas com o tempo, ele vendeu o violão
que tinha foi desaprendendo. Simplesmente achei que ele estava 
interessado em voltar à tocar violão, porém para minha surpresa,
o violão era para mim!
   A razão pela compra do violão até agora não sei, mas agradeço 
muito ao meu pai pelo presente. Através deste instrumento acabei 
encarando a música de uma forma diferente, dando um valor maior à
mesma, assim como aos músicos que a reproduzem.
   Motivado, tentei desvendar os segredos deste instrumento cheio 
de cordas. Confesso que logo após alguns dias de luta, desisti e 
o guardei ao lado do guarda-roupa. Uma vez ou outra e o pegava para 
tentar, era só uns 5 minutos e logo eu parava.
   Na escola, descobri que uma galera estava aprendendo a tocar 
violão também, e isso me motivou muito, encarei com mais garra e 
consegui formar meus primeiros acordes, para tocar minha primeira 
música no violão - Que país é esse. Desde aquela música, fui treinando 
cada vez mais, e ainda treino. Ainda não sou dos melhores, mas sei 
que não preciso agradar a todos. 
   Para mim, o violão é uma forma de relaxamento e também de descontração, 
serve como terapia para quem está estressado. Hoje meu violão, 
velhinho e todo riscado, porém, sempre companheiro e presente, 
ainda cumpre sua função: Proporcionar momentos de diversão para mim XD


sábado, 16 de junho de 2012

Acordou

Poema não-rimado


Quando você vê aquela pessoa
E não sente mais borboletas no estômago,
Não sente mais aroma de flores
E o tempo não passa mais lentamente..
É porque você acordou!

Quando ela passa,
Não acontece mais nada.
Nem sinos mais tocam.

A vida segue
Em ritmo acelerado,
Em meio à trivialidades.
Espero que um dia,
Eu volte a dormir
E os sinos voltem a tocar.


                     Fabiano Favretto

sábado, 9 de junho de 2012

Morte do Leiteiro


Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

                                             Carlos Drummond de Andrade