segunda-feira, 30 de outubro de 2023

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Nem rimo

Mais tropeços,

Tanta graça

Que até me esqueço.


Muito passo.

Tanto penso,

Que enrosco o cadarço.


Muito tento

Tanto faz

Já nem ligo mais



Fabiano Favretto

Quinta-feira

Na poltrona,
Num canto afastado
No Secos e Molhados,
Sozinho eu espero
O som da campainha.

Ela toca,
Eu levanto e me junto à mesa.
Dez lugares, eu,
Um sofá,
Duas poltronas.

Devagar, meu reino afastado
É invadido por clientes
Enquanto me ocupo em dar cabo
De um pão com bolinho.
Vejo meu mundo antissocial desabar
A cada pessoa a sentar nas poltronas e sofá.
Acabo minha refeição 
E nada mais me resta
Além de um vazio
Que certamente não é fome.

Pago a conta,
E vou em direção ao carro
Que possivelmente
Me esperou sozinho
Sem muito entusiasmo.

Fabiano Favretto 



segunda-feira, 4 de setembro de 2023

mas não o suficiente

O palco era escuro
Mas não o suficiente
O tempo era a noite
Mas não o suficiente
E basta um pouco de luz
Para ver as sombras.

O palco era chuvoso 
Mas não o suficiente
O céu era nublado
Mas não o suficiente
E basta um pouco de luz
Para ver os reflexos

O clima era de ventania
Mas não o suficiente 
A noite era gelada
Mas não o suficiente
E basta um pouco de luz
Para ver demais

Fabiano Favretto 


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Insight

Como penso?

Não faço ideia.


Fabiano Favretto

Piadinha da desilusão

O mágico

Ensina 

Seus truques.


Fabiano Favretto

O voo

Belos sonhos não são suficientes

Para um ser que em si mesmo viu alma.

Pela janela observo pássaros que voam

Em seus próprios sentidos existentes.

Deles invejo uma possibilidade gigante

Que não me cabe por hora.

A busca de significado

É implacável e me devora:

Meus genes não me deram asas,

Mas sim várias penas

Que um dia serão pagas.

Do alto vejo uma possibilidade gigante:

Homem é menos que bicho,

E instintivo é mais que pensante.


Fabiano Favretto



quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Por um fio

Estou em segundo

Na corrida dos carecas :

Cal-vice.


Fabiano Favretto




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Muito 

Sono e tontura,  acho que

Na bebida acabei 

perdendo a 

Mão.

Fabiano Favretto

Onde foi meu dia?

Onde foi meu dia?

Devo ter copiado de ontem

E colado em uma planilha!

Mas eu não vi meu dia:

Entre uma reunião e outra

O contato com o tempo eu perdia.

Acordei, almocei.

O sol adentrou pela janela

E me assustei.

A tarde vai acabando

E o dia eu nem vi

Findando.

Onde foi meu dia?

Mais um se foi

E o que eu fazia?

Só sei que o tempo ia

E eu parei agora

Poesia.


Fabiano Favretto

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Download

A descarga:

O rugido do monstro porcelânico,

Engole tudo o que é dejeto,

Tudo o que é antagônico.

E na madrugada,

Na profunda fossa,

Ouço o timbre das gotas:

No alto,

O monstro está a preparar-se

Para mais um descarrego.


Fabiano Favretto


Iluminura

Para que gastar tanto em lápis-lazúli,

Se a cor vermelha é a melhor?


Fabiano Favretto

Alguns

Eu é um outro,

e juntos somos aqueles.


Fabiano Favretto

Tragos verdades

Exasperado e impaciente

Desejo passar agora os dias que não vieram,

Pois meio que inconsciente

Eu sinto que não vivi nem os dias que passaram.


O tempo é meu Karma

E o medo do amanhã é presente;

Ora, qual a grande arma

Para matar o tempo de hoje e sempre?


Sinto agora a minha boca amarga,

E o peso ainda é grande sobre os meus ombros.

Muito me foi tirado em escala larga

Deixando em mim somente escombros.


A brevidade da vida me assusta

E a morte tem andado a passos largos.

Como poderia eu, de forma astuta

Encarar a realidade sem tomar uns tragos?


Fabiano Favretto

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Catarata

Operei a catarata:

Não vi mais

Nenhuma outra

Queda d'água.


Fabiano Favretto

Contém ironia:

O ferro não vai mais.


Fabiano Favretto

Caicai

Pobre 

Coitado:

Pobre,

Cai todo.


Fabiano Favretto

Telhado de vidro

Mira,

Mas me erra.

Me abaixo:

Dessa vez

Era pedra.


Fabiano Favretto

Rigor Mortis IV

I - Mãos atadas


O homem segurava um copo de uísque

Sem gelo e sem piedade.

Após um gole deixou a metade

Assim como o seu próprio enfoque.


Um zumbido permanente incomodava

O violeiro que sentado, uma explicação ouvia.

Com um desconforto ele permanecia

Enquanto na proposta ele pensava:


"Ouvi dizer que você é caboclo valente,

Que de visagens e feras medo não têm,

Então digo que teus serviços a mim convêm

Neste momento de causas latentes.


Não leve a mal as mãos amarradas,

Precisava trazê-lo a mim rapidamente,

Mesmo que de maneira inconveniente

Na forma de uma emboscada.


Vejo que leva consigo estes medalhões

Que muito me deixaram intrigado.

Então ouça o que direi, mas com cuidado

Não repetirei novamente estas informações!


Porém antes, se comigo concordar 

Em manter o mínimo de inteligência,

Agirei também com coerência

E eu mesmo irei te soltar".


II - Pensamentos


O violeiro só pensava na viola

Que no momento não estava consigo

E na chance que havia surgido

De concluir a sina que o assola


"Sei no que está pensando agora,

Mas fique tranquilo, eu te digo:

Sua viola está segura comigo,

Após nossa conversa tu a leva embora."


Levantados à claridade do dia,

Os medalhões causaram reflexos

Criando desenhos complexos

Na mesa que na sala havia.


O violeiro então falou:

"O que é um fósforo em meio o inferno?

E para que esse demorar eterno

Vamos, diga o que farei, e logo eu vou!


Devolva a minha viola e os medalhões,

E me explique logo o que pretende,

Meu tempo é curto, sei que você entende,

Então chega desses seus sermões!"


"Ora, ora, alguém aqui está bravo!"

Respondeu o homem com uma risada,

Seguida de uma cara fechada

Enquanto acendia um cigarro.


III - A proposta


"Estávamos te observando

Enquanto você sozinho tagarelava

E da árvore a viola tirava.

Achamos isso bem estranho.


Aproveitando sua distração,

Meus capangas o cercaram,

A viola de ti tomaram

E a mim te trouxeram, então.


Sou um homem de muitas ambições,

Ambições deste e de outros mundos.

Sei que você tem interesse profundo

Em consertar certas questões...


Então te digo algumas informações:

Das bestas que tu procuras,

Tenho interesse em duas,

Te mostrarei delas as localizações.


Tu me trará aceso neste lampião

O fogo que delas surgir quando as matar,

Mas preste atenção, não deixe o fogo apagar

Senão todas suas tentativas terão sido em vão.


Deverá pegar o trem que sai às onze

E desembarcar na cidade da louça.

Vá até o cemitério, feche os olhos e ouça

O farfalhar de asas na cruz grande."


IV -  Justa


"Aceita esta proposta?

Estamos assim pois não houve outro jeito

Quero que saiamos satisfeitos,

Acredito que é uma oferta justa"


"Justa é uma palavra forte

Para um homem que está amarrado.

Vamos, me solte rápido,

Aceito a proposta, não aceito a morte.


Caso eu não consiga trazer as chamas,

O que você fará então?"

O homem vira de costas e olha para o chão,

E em uma voz rouca exclama:


"A morte seria lucro para você,

Se não trouxer o que peço;

A pena que eu te ofereço

É algo pior do que o diabo pode oferecer...


Mas não se preocupe agora,

Eu saberei de tudo o que acontecerá!

Tenho olhos e ouvidos lá

Então não poderá fugir desta obra"


Após olhares trocados,

O homem solta o violeiro, que fraco se levanta

Entrega a viola e para a porta aponta

Lá fora está um dia ensolarado.


V - O Sol, a fome e o pão


Sentiu-se traído e com ódio reprimido.

Sentiu-se completamente sozinho,

Sentiu o sol no caminho

Sentiu-se até pelo diabo esquecido.


Chegou o final da tarde e o sol baixava.

A paisagem era bela, mas incerta

A estrada era longa, porém estreita.

Chegou a noite e a lua no céu se encaixava.


Eram nove horas,

A estação de trem estava perto,

Porém a fome causava aperto

Não comia havia eras.


Chegou na estação,

Mas a fome chegou primeiro.

Sentiu um bom cheiro,

Que vinha de um balcão.


Não tinha nenhum trocado

Para comprar uma refeição,

Quando estava desistindo, então,

Alguém apareceu ao seu lado,


E logo se retirou.

Deixou com o violeiro um pacote,

Com um pão, uma passagem e um bilhete:

"Pão que seu contratante amassou."


VI - Cruz grande e penas


Comeu o pão, engoliu incertezas,

E ouviu o trem chegando na estação.

Segurou a passagem com as mãos

E entregou no guichê sem delicadeza.


Estava sozinho no vagão,

Parecia uma longa viagem.

Era o único personagem

Daquela locomoção.


Onze e trinta quatro,

Onze e quarenta e sete.

A estação então aparece

E o trem diminui o passo.


Da estação do trem via-se

A cidade da louça que silenciosa dormia,

Mas o violeiro muito acordado e em agonia

Para a direção do cemitério voltava-se.


Adentrou o cemitério,

E andou até a cruz grande.

Encarou-a por um instante

E seus olhos fechou, sério.


Ouviu um farfalhar de penas

E abriu os olhos rapidamente;

Viu um anjo com asas resplandecentes,

Mas as asas eram pretas!


Fabiano Favretto



Xarope

Dor de amor

É escarro:

Do meu peito

Só sai

Catarro.


Fabiano Favretto

Ema toma

Tatuada na pele

Uma grande ave:

Ema toma

Banho de tinta

Roxa.


Fabiano Favretto

Adição

- Some logo daqui!
- Até quanto?

Fabiano Favretto

Socorro

É-se, 

Ou esse?


Fabiano Favretto

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Léxico

E me desdiz que o léxico

Deixa lastro

De disléxico que me é.


Fabiano Favretto


Gota vermelha

Mira errada

E dor aguda:

No meu dedo espetada

Uma agulha.


Fabiano Favretto 

Meu testamento

Indivisível 

Matéria

Invisível

Do nada.


Fabiano Favretto

Caí da cama

Desprender-me

Assim como uma folha faria,

E despencar-me

De um sonho

Em grande queda livre.

Do céu ao chão

Meu corpo é vento

Rompendo em ondas

De atrito e caos.


Fabiano Favretto

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Bate

 À minha companheira maravilhosa, Karoline.


Você sabe quando bate:

Um dia você está distraído

E pow!

Encontrou o amor de sua vida.


Não é escolhido, apenas bate.

Foge do controle,

Foge da essência da racionalidade.

Mas bate forte,


Mas tão forte,

Que chega doer.

Se causasse hematomas,

Seria eu uma berinjela.


Depois que você recebe a pancada,

Esquece de todas as outras dores.

Para quem batido foi de bom grado,

Certamente o que é mais porradas?


Bate forte como deve bater,

Mas sem nenhuma violência.

O amor bate com certeza

Na batida do sem doer,


E assim vai me batendo,

Todo dia, toda hora.

Latente, síncrono,

Em compassos periódicos


O amor na batida se aprimora.

Podem-se passar anos, décadas,

Que o amor continua me batendo no ritmo certo:

Tenho a melhor compositora.


Fabiano Favretto

sexta-feira, 10 de março de 2023

Carrilhão

Vivo eternamente no passado

Dos dias que um dia virão,

E mesmo assim despreocupado

Sinto que não piso no chão.


Pulo semanas em uma tarde,

Chega a noite e se foi o verão.

Um ano passa como se não

Fosse eu um covarde:


O tempo mesmo não se importa

Com todo esse desafinado alarde

Da vida involuntariamente torta


E que ruidosamente tem esse efeito

Nas engrenagens velhas

Do carrilhão do meu peito.


Fabiano Favretto

Eco

Na minha cabeça somente
O som da rima ecoa, 
O significado, não mais.

Fabiano Favretto

Carte

Tenho um plano

Cujos pontos

Não tem fuga,

Nem forma e

Nem sentido.


Fabiano Favretto

Pleníssimo

Pleonasmo seria dizer 

Que você é um pleno asno.


Fabiano Favretto

2d

Corri toda a silhueta
Da minha existência
Definindo-a 
Em um plano cartesiano
De incertezas.

Fabiano Favretto

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Passado

Tirei os atrasos

E cheguei no passado.


Fabiano Favretto



Haicai

Ortográfico,
O chapéu da escrita
Levantou voo.

Fabiano Favretto

Haicai

Ave molhada,
Sonha alto no voo.
Uma onda vem.


Fabiano Favretto

Caso de aderência

Joguei uma frigideira pro alto

E "pá" nela!


Fabiano Favretto

(M)Eu

Eu é um outro, eu
Estou literalmente estranho às letras, eu
Sou alheio aos temas que
Eu antes julgava meus.
Eu era eu,
E meu passado eu,
Pretérito meu
Imperfeitamente
Eu.

Fabiano Favretto


Sequei

Eu matei

Minha poesia,

Valor não dei

Enquanto tinha.

Eu vacilei,

Passaram os dias

E assim sequei

Não escrevia.


Fabiano Favretto