quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Overdose

- Preciso de uma dose fatal de você!
- Está louco? Dose fatal? Jamais farei isso!
- Se não posso ter uma dose fatal de você,
administre em doses pelo resto da minha vida.

Fabiano Favretto

Frustração

Em imagens, como a Hera parecia.
Digo mais: Em essência, 
Parecia uma Titã.

Mas hoje,
Eis que pessoalmente
Singela flor é que parecia.

Verdadeira rosa.
Flor linda e sincera,
De sorriso encantador.

Nem sequer se dava conta
Que a sua beleza 
Aos meus olhos impressionava.

Vislumbrante encontro trágico:
O perfume perfeito 
E o toque sutil da pele.

Um segundo.
Talvez,
Um milésimo de segundo.

Tempo suficiente
Para meu coração
Explodir em mil pedaços

Pedaços de vã esperança.
Expectativas desgastantes
Agora me incomodam.

Expectativas melhor fariam
Se sumissem!
Já é certa a frustração.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Biônico

Desprovido de calor humano
Triste vaga o homem biônico,
O qual de sua amada separado
Busca tristemente o sentido de seus circuitos.

Um único órgão humano:
O coração transplantado de um poeta qualquer,
Descompassado e alternadamente
Bate em meio à sujas engrenagens.

Queixas mecânicas,
Sofrimento orgânico,
Confuso estava
O pobre Homem Biônico.

Tal qual relógio de cabeceira
Despertado para a vida de outros,
Queria além de sua função
Amar sem ter problema.

Uma máquina não ama,
É o que todos vem falando.
Mas por baixo dos olhos de lâmpada
Ferrugem por água é formado.

Anos de corrosão chegaram e passaram. 
Enferrujado e amassado o miserável ficou.
Reciclado metal de sua arquitetura
Nova função o indivíduo ganhou.

Aproveitado poucos pedaços
De sua rude estrutura foi feito
Um colar com pedrinhas brilhantes
Estampava da amada querida o peito.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

AMOrTE

A   M  O  R
M  O   R  T
O   R   T   E
R   T    E   A
T   E    A  M
E   A   M  O

Fabiano Favretto

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Stalker

Dia e noite vigiando
Os sussurros de sua mente
Sou o stalker maldito
Que de sua alma se alimenta.

Sei o que faz,
Cada movimento seu.
Sou o vigia atento
De sua triste rotina.

Ouço suas palavras
E manipulo suas ações.
Sou o ventríloco louco
Que te arrasta pelos cantos.

Pareço inocente,
Mas você não imagina:
Sou o seu pensamento suicida
Das noites de domingo.

Tente livrar-se de mim.
Quem sabe hoje não obterá êxito?
Sou a morte oportuna
À bater em sua porta.

Estarei aqui.
Estarei sempre vivo.
Sou o seu pensamento:
O seu legado de dor.

Fabiano Favretto

domingo, 20 de outubro de 2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Senhorinha

A mão incerta, tremelicava em movimentos de zigue-zague, no ato de coser a colcha surrada ainda do tempo do casamento. A cadeira-de-balanço rangia a cada vez que a cadeira pendia para trás, produzindo um som engraçado e desafinado.
A senhorinha assoviava enquanto costurava. Logo terminou. As mãos ainda trêmulas percorreram todo o cabelo cor de prata, como se seus pensamentos estivessem espalhados e com este gesto pudesse ordená-los novamente. Apoiou um dos cotovelos no braço da cadeira e com um movimento quase que de preguiça levantou-se. Veio ao meu encontro e me deu um abraço caloroso. Passamos a tarde toda conversando sobre coisas da vida, coisas que aconteceram nos tempos de mocidade. Uma nostalgia tomou conta do ambiente.
Conversa vai, conversa vem e o tempo passou. Eu disse que iria para casa. A senhorinha pegou na minha mão e com um sorriso sincero agradeceu a companhia. Disse há muito tempo não tinha uma conversa boa como aquela, e que provavelmente não mais a teria. Assustei-me com a afirmação e perguntei qual o motivo de ter afirmado tal coisa. Ainda sorrindo, porém desviando o olhar para o chão, disse para eu reparar em seus cabelos brancos. Não entendendo o motivo da pergunta, quis perguntar, mas fui interrompido por ela, que agradecendo a mim, foi me levando em direção à porta.
Agradeci a hospitalidade, acenei com a cabeça e comecei a andar em direção à minha casa. Parei no portão, e olhando para trás, vi na janela a sua silhueta, que em poucos segundo desapareceu na penumbra de sua casa.
Certa manhã, acordei com batidas à minha porta. Levantei rapidamente e fui atender. Olhando em direção à rua não avistei ninguém, mas quando olhei para o chão, encontrei um envelope, o qual peguei e logo o abri. O envelope continha uma foto minha e da senhorinha, e uma carta avisando que a senhorinha havia morrido na madrugada passada. Lágrimas rolaram por minha face e molharam a folha branca do papel, borrando parte do texto escrito em nanquim.
O tempo passou: dias, semanas, meses e anos. A cadeira da senhorinha continua existindo, porém com alguns reparos e algumas peças novas. Hoje quem senta em seu lugar, sou eu. Olho-me no espelho e vejo cabelos brancos. Quando os toco sinto a presença da senhorinha, e parece que a vejo sentada na mesma cadeira, costurando e sorrindo. Há coisas que o tempo faz-nos esquecer, mas também há coisas que nem o tempo consegue apagar.
Vejo o retrato que recebi no envelope aquela vez, no dia posterior ao dia derradeiro, e levo comigo a certeza de que Senhorinha ainda continua viva, em suas histórias, carisma e sorrisos.
Sorrio agora: chegou a hora de partir. Não, eu não vou para casa, eu vou encontrar Senhorinha.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Norte



Perdi meu norte,
Meu rumo acabou.
Perdido no mundo
Sozinho estou.

Perdi minha vida,
Miserável fiquei.
Perdido de tudo
Muito andei.

Perdi minha rota,
Minha bússola quebrou.
Perdido no tempo
O seu perfume ficou.

Perdi minha esperança,
Meus olhos não lhe procuram.
Perdido nos becos
Feridas não curam.

Fabiano Favretto

O que fazer?

Quero falar,
Mas não devo.
Devo falar,
Mas não quero.
Quero querer
E falar não faço.
O que fazer?

Fabiano Favretto