domingo, 31 de dezembro de 2017

Girassol

Manda essa chuva embora
Para longe do meu coração,
Que a luz do Sol agora
Tomará toda a imensidão.

Esse Sol que chegou no momento
Fazia-se oculto desde então,
Mas agora em novo tempo
Veio livrar-me da escuridão.

Poderia a chuva molhar os olhos
E o barro em meus pés prender-me,
Mas fiz das lágrimas ladrilhos
Para assim eu conhecer-te.

O Sol que agora me ilumina
No momento está distante,
Mas a sua luz o amor culmina
Que a saudade já é constante.

Fabiano Favretto

Meu maior acerto

Talvez tu tenha sido o que de melhor
Me ocorreu neste fatídico ano.
Em uma época de enganos,
És a única certeza que eu tive - a maior.

Fabiano Favretto

O que me ofereces

Transcrever-te em versos
Não é fácil como pensei.
Fácil seria percorrer campos ermos
Que um dia já andei.

Porém tu és caminho misterioso,
Uma rosa que não desabrochou
E que assim não me revelou
Qual o seu desejo fervoroso.

Pois bem, o Sol ainda nasce
E a primavera se foi há algum tempo,
Mas quem sabe a rosa floresce

E nesse sublime momento
Eu possa ver o que me ofereces
Dando a mim um certo alento?

Fabiano Favretto

Quero ser Orion

Não sei se tu irá querer
O pouco que tenho a te oferecer:
A minha companhia
E quem sabe alguma poesia.

Sei que sou limitado
E ainda repleto de falhas;
Talvez algo que tenho te valha
E seja de seu agrado.

Sois tão bela e fulgurante
E da natureza és parte como Ártemis,
Porém é mais benevolente

E alheia à toda maldade, és feliz;
A tua boca anseio constantemente
Tornando você tudo o que eu mais quis.

Fabiano Favretto

sábado, 30 de dezembro de 2017

Versinho das 17:40

Por mais que a distância me mate
E por mais que a saudade aperte,
Não tem nada que a sua lembrança aparte
Afinal te querer não é um flerte.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

vinte

Se verso vistes
Ou vice-versa,
Em vinte versos
Eu versejava
Versos tristes.

Fabiano Favretto

Drink

Todo jazz
É um convite
Ao álcool.

Fabiano Favretto

Chuva

Para Francielle

Todas as águas que hoje correm,
Acabam por chegar ao mar.
As águas que em meus olhos nascem,
Nascem por te admirar.

Se a chuva é o bastante
Para poder nos distrair,
Façamos dela fator importante
Para poder deste modo nos unir.

Assim que cada água cair,
Poderia tu em meu abraço estar
E em ti eu fazer carinho, fazer-te rir
Afim de toda sua tristeza espantar.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Quarta à noite

Desde ontem eu tenho pensado
Na tua presença, e essencialmente
Na tua forma tão assim, eloquente.
Lembro de ter te beijado.

Lembro inclusive de seus olhos,
Eles atuavam ao mesmo tempo
Em que me mostravas contento.
Eram olhos bons, mas perigosos.

Eu ainda tenho pensado em seu abraço
E lembrado dos arrepios por sentir
Seus beijos carinhosos em meu pescoço.

Toda noite de quarta deveria possuir
Alguma possibilidade desse enlaço,
Do sereno, e de seu perfume eu sentir.

Fabiano Favretto


terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Aracnofobia

O que me preocupa
De forma tamanha
É ter achado somente
A perna da aranha.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Poema ascoso I

Cagando lendo Pessoa,
Cagando lendo Drummond;
A vida tá tão bosta
Que tu só caga pro meu coração.

Fabiano Favretto

sábado, 16 de dezembro de 2017

Ofélia II

Por mais sublime que nos livros seja,
E que tivestes morte entre águas e flores,
Eu preservo na memória a sua imagem
Com cabelos ruivos, mãos suaves e cores.

Fabiano Favretto

O rio ainda corre

Todo esse calor me faz querer
O frio sério do inverno,
Pois o frio da solidão é o inferno
Que todo dia me fazes viver.

Quando a noite chega sozinha
E traz consigo essa brisa pífia,
Entrega a mim zombarias:
Sórdida e simples artimanha.

Ofélia, tua ausência me preocupa,
Mas o meu orgulho é maior que eu,
E todo meu ser assim já ocupa.

Ofélia, o que você me ofereceu,
Com a morte uma disputa,
Em ti buscar, o que não é meu.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Olvido surdo

És o poema mais triste
Que eu já escrevi,
Com versos que vivi,
Com os "nãos" que me rimastes.

És dor e ilusão,
Onde nas estrofes invento,
Lágrimas, ao sabor do vento
E maldita solidão.

És a métrica do absurdo
Onde mora a palavra mortal,
Que dita sempre em múrmúrio

Rasga o silêncio fatal
De um olvido surdo
Entregue à todo o mal.

Fabiano Favretto

Boêmio

No boteco
Bateu a bituca
Depois
de Batucar
A guimba
No balanço
Da balada.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Tentador

Destruí minha mente
Afim de tentar te encontrar,
Mas não pude te achar
Nem em meu inconsciente.

Sou um tanto deprimente
Estando sufocado em angústia.
De mim já não tenho empatia
E meu viver já é dormente.

Destruí meu coração
Em busca de um amor,
Mas o quebrei sem intenção

Me restando somente dor.
Estou ficando sem ação
Que o final é tentador.

Fabiano Favretto

Polos

Os opostos se repelem,
Os atraídos se atraem.
Os distraídos se atrevem
E os traídos de distraem.

Fabiano Favretto

Você e eu

Você e eu,
Não temos como dar certo,
Afinal não aconteceu
Nada além do incerto.

Somos componentes
Da receita do desastre,
Eternos reagentes
De uma química nunca ilustre.

Você e eu,
Não temos como ser felizes;
Nenhum de nós esqueceu
De nossas cicatrizes.

Somos incongruentes,
Dois números irreais
E tão assim inequivalentes
Nos tornando racionais.

Você e eu,
Como água e óleo juntos
Não misturados, mas valeu
Todo o tempero dos elementos.

Somos diferentes
E em tudo que me vi, te enxerguei.
Somos diferentes
E em tudo que te vi, eu te amei.

Fabiano Favretto

Um e dois

Vamos dançar agora
A valsa que nunca dançamos,
Pois o tempo passa e avançamos:
A vida não demora.

Vamos valsar agora
A dança que nunca valsamos,
Afinal o contento passa e ficamos:
A felicidade vai embora.

Vamos rodar agora,
Pois o ritmo está marcado;
Não quero ir embora

Queria contigo ter ficado,
Porém do ritmo estás fora
Por ter sempre me matado.

Fabiano Favretto

23:23

As horas contam
Sobre você,
As horas contam
Como você me deixou.

As horas contam
Sobre mim,
As horas contam
Como o meu eu me ensinou.

Mas as horas contam
E sempre fui tão ouvinte.
Agora é tarde
E as dores se aprimoram.

As horas contam
E já passam das onze e vinte,
Então agora é tarde
E esse tempo me apavora.

Fabiano Favretto

domingo, 3 de dezembro de 2017

Lua cheia de nós

A Lua Cheia
Cheia de crateras
Cheia de significados.
A Lua Cheia
Cheia de sonhos 
À força arrancados.

Fabiano Favretto

Nada

Cara, quando você chega
À uma noite de domingo,
Você percebe que não
Te restou nada além de
Uma madrugada
De ansiedades e fantasmas.

Fabiano Favretto

Do compasso do tempo

Cada ano somado
É subtraído de tua existência,
E assim, em essência,
Seu tempo é aniquilado.

Em cada aniversário passado,
Comemora-se o tempo presente,
Ao passo que nem sempre este
Merece ser comemorado.

Quanto mais existo, menos sou
Pelo fato de que menos me resta.
Desse sólido, me sobraram as arestas

E lembranças do tempo que passou;
Seriam as causas, estas,
Determinantes de quem sou?

Fabiano Favretto

Defeito

O único defeito do vinil
É ter que sair do seu profundo
Estado de melancolia
Para virar o disco na vitrola.

Fabiano Favretto

domingo, 26 de novembro de 2017

Tatuagem

Será que o tal do amor
É isso de estar presente,
E ao mesmo tempo distante
Cercando-nos de dor?

Tatuei em ti minhas iniciais,
Não para fazer de ti a minha propriedade,
Mas para indicar toda a sobriedade
Dos meus sentimentos principais:

O que sinto por ti é puro,
Diferente da tinta que sai.
É igual uma ferida no escuro

Que como na luz cicatrizando vai,
Ou então a coragem que procuro
Que em sua presença se esvai.

Fabiano Favretto

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Aurora

O dia diminui
O volume
Do vaga-lume?

Fabiano Favretto

Letras

A primeira foi F;
Marca de nascência no rosto.
Amor de infância,
Faria muito gosto
Se hoje a encontrasse.

A segunda foi A;
Cabelos loiros,
E dos olhos ainda lembro:
Olhos castanhos,
Mas a mim ela não lembra.

A terceira foi T;
Adolescência à flor da pele,
Mas distância presente.
Só foi um abraço.
Foi um tempo triste.

A quarta foi F;
Tempos de faculdade.
Que abraço apertado,
Do qual sinto saudades.
Ao vê-la sinto ansiedade.

A quinta foi C;
Quase entrei em briga por ela,
Mas afastamo-nos logo.
Hoje nos falamos pouco.
Gostaria que ela me chamasse.

A sexta foi M;
Mas essa me arrebentou ao meio.
Saiu rezar e voltou com um não,
Com interesse alheio
Ao que passávamos então.

A sétima foi C;
Tão longe morava-mos
Que fazíamos planos
Para podermos nos ver:
Nunca concretizados.

A oitava foi L;
Lindos olhos tinha ela
E um lindo coração.
Não poderia amá-la
Por não merecê-la até então.

A nona foi S;
A ela dediquei a minha vida.
Foram tempos muito bons,
Mas nas vindas e idas,
Ela me matou, pelo que parece.

A décima foi a J;
Anônima e de tempos alheios.
Falamos ainda por outros meios,
Mesmo que eu e ela não possamos
Mostrar do que se gosta.

A décima primeira é a T;
Mas de mim não faz questão.
Fico triste até então
Por não saber onde ir
Sem a companhia que costumava ter.

A décima segunda é a I;
Mas dessa não tenho mais esperança.
Tenho lutado tanto,
Que sou insignificância;
Nenhum beijo consegui.

Fabiano Favretto





domingo, 19 de novembro de 2017

Arrisque

O Sol tem luz,
Eu tenho Whisky;
Arrisque adivinhar:
Qual me seduz?

Fabiano Favretto

Travessia de graça

Hoje pedestre
Atravessa na faixa.

Fabiano Favretto

Todo domingo é um luto

Campo Largo morto
Neste domingo
E em todos os outros.
Assim eu ando entre lápides:
Bares, biblioteca, museu...tudo fechado.
Como sobreviver a estes breves dias
Sem que me pegue a melancolia?

Fabiano Favretto

Estio

Solo
O Sol,
Elos
Áridos.

Fabiano Favretto

Dizes

Não minta que você não fala,
Não fale que você não mente.
Não digas que algo sente,
Quando não sente o que dizes.

Fabiano Favretto

Escuridão irrelevante

O céu se fecha
E o solo some sob seus pés;
Fechastes os olhos,
Mas as imagens
Permanecem fixas
Em sua memória,
À prova de toda
Essa escuridão.

Fabiano Favretto

Expectativas > realidade

Não te mostre mais
Do que aquilo que podes ser.
As expectativas criadas podem
Levar todos ao chão.

Fabiano Favretto

Plataformas

Teus pés cansados na chuva
São plataformas
Enquanto o mundo
Desaba chorando;
O tempo esvai-se,
E a dor vai-se somando.

Fabiano Favretto

Lugares

Lugares sem senhas,
Sem filas,
Onde esperar somente
É a ordem natural.
Na pífia existência
Talvez não existam,
Nem em qualquer universo tangível,
Mas sim, na imagem turva
Do pensamento livre.

Fabiano Favretto

Caos e café

O poeta da entropia
Não tem fé
E não tem alegria;
O poeta tem café.

Fabiano Favretto

Passos

Fugir fugir
Correr correr
Agir agir
Sofrer sofrer
Cair cair
Morrer morrer

Fabiano Favretto

Vida.txt

Oh céus, esta vida
De escritório,
É uma vida acessório
Nunca bem vivida.

Fabiano Favretto

Nublado sempre

Sol, não te atrevas
A mostrar sua iluminada face!
Não dê luz à este cinza domingo.

Domingos devem ser tristes
Quando não se está
Com seus amigos,
Quando não se está

Com quem se ama.

Fabiano Favretto

Talvez uma definição

A vida é a soma
Dos desencontros
Das pessoas certas
Em tempos inexatos.

Fabiano Favretto

O que é?

O que é a vida?
Tenho me perguntado.
Mas o significado
Não soube dizer ainda.

Fabiano Favretto

Ficção de domingo

Dizíamos então:
"- Vamos sair,
dançar, nos divertir..."
Mera ficção.

Fabiano Favretto

Dissecado

Na sala de anatomia
Meu coração dissecado;
Ali, assim ocorreria
Uma aula, órgão analisado:

-Prestem atenção, classe
Eis um coração de poeta!
Vejam a forma incorreta...
O que ele diria se falasse?

Mas coração não fala
Muito menos depois de morto,
E quando morto à bala

Não tem mais desconforto,
Não mais se abala
E não bate mais torto.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Movimentos do ritual para o nada

I - Do acordar:

Acordo e vejo a parede branca.
Acordo mas dormindo não estava,
Pois sono nos sonhos me levava,
E nestes não há verdade franca.

Meus pés tocam o chão frio,
Mas não encontro terra firme.
Não há nada que me afirme
Que ainda não saí do trilho.

Minhas mão percorrem o cabelo
Em busca dos primeiros pensamentos;
Encontro em mim alguns lamentos:
Nada do que vejo tem sido belo.

Permaneço sentado sem ação
Torcendo para que o acaso surpreenda;
Há apenas uma mosca na janela,
Nenhuma outra distração.

II - Da caminhada ao banheiro:

Enrijeço todos os músculos do corpo,
E em movimento metódico
Lento, porém períodico
Levanto com máximo esforço.

Tudo fica escuro por alguns segundos,
E perco a noção do espaço,
Pareço não encontrar o pedaço
Que está faltando em meu mundo.

Arrisco o primeiro passo,
É doloroso assumir mais um dia.
Outro passo, e a dor voltaria
Junto com meu velho cansaço.

Passo a passo chego ao banheiro,
Mas carrego todo o peso da vida;
Quão pesada é essa pequena ida
Para ver meus olhos marinheiros.

III - Da métrica da pasta de dentes:

Sabor de menta artificial,
O mistério das duplas cores contínuas;
Verde, simétricas as quatro linhas
Convergem sempre ao final.

Que segredo escondem os tubos,
Onde pastas de dente são guardadas,
Refrescantes, talvez amargas - resignadas
Fazem no dia o primeiro roubo.

Não tenho forças para apertar
E a pasta de dente chega ao final...
Essa derrota ainda me persegue afinal
Ao dormir e ao despertar.

Coloco toda minha pouca força
Entre meus dedos afinal,
E num movimento fatal
Nada faço mesmo que retorça.

IV - Da troca de pele necessária:

Desnudo e com frio,
Retiro os trapos de dormir.
Com a temperatura a cair
Eu não mais rio.

Visto a pele necessária,
Vã representação de "ordem",
Ordem essa que outrem
Julga ser não temporária.

Me vejo no espelho sujo,
Vestido daquilo que não sou.
Vestido para onde vou,
Representando ser dito e cujo.

A pele trocada fica em casa,
Mas à tarde volto para buscá-la.
Temo um dia não encontrá-la
E viver alheio sob esta casca.

V - Da morte diária:

Tudo simétrico e acertado,
Estou pronto para mais uma morte.
E a despeito da própria sorte,
Meu destino tenho encarado.

Mais um passo à frente,
O ar frio encontra meus pulmões,
Espasmos, gemidos, leões
Não seria uma manhã diferente.

Todo metro a mais andado,
Mais sinos tocam tristes
Não percebe? Não ouvistes?
É um triste e doce chamado.

Estradas de concreto onde vais
Além das curvas habituais,
Leva-me além destas quais
Me façam esquecer de meus ais.

Fabiano Favretto


domingo, 5 de novembro de 2017

Das fotografias esquecidas

Do retrato
De minha vida
Sobrou somente
Uma moldura.

Fabiano Favretto

Sinto muito

- Não estou bem.
- Então você sente?
- Não sinto nada.
- Desde quando?
- Olha, sinto muito.

Fabiano Favretto

Resíduo

Acordes menores
Demonstram o começo
De uma semana cujo desfecho
Terá dos maus os piores:

A ausência da vida diária
Que em suma é sofrível,
E tal ocasião jamais preterível
Será aceita de forma ordinária.

Não que eu tenha me acomodado,
Mas agora as dores já me fazem parte
E ainda tem me incomodado;

A forma como procuro arte,
Ou os gestos quando tenho andado
Mostram que o meu eu é descarte.

Fabiano Favretto

E quem tem conseguido?

Estou ficando louco
Com essa falta de sorte

E assim tampouco,
Não tenho evitado a morte.

E quem tem conseguido?

Fabiano Favretto

Mais um domingo

O que um domingo tem para oferecer
Além de uma cama vazia e gelada?
O que um domingo tem para oferecer
Além de uma tarde fria e nublada?
O que um domingo tem para oferecer
Senão o tempo rápido como escárnio?
O que um domingo tem para oferecer
Senão uma dose de infortúnios?
O que um domingo tem a oferecer
Além da solidão puramente ácida?
O que um domingo tem a oferecer
Além da desesperança nunca plácida?
O que um domingo tem a oferecer
Senão essa taça de amargura?
O que um domingo tem a oferecer
Senão essa realidade sórdida e dura?

Fabiano Favretto

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Ondas

Aqueles cabelos negros,
Cabelos negros e cacheados
Que lindos por inteiro,
Me deixam encantado.

Cabelos onde gostaria
De me perder noite e dia
Nas voltas que eu voltaria
E voltar porque queria.

Cabelos belos e perfumados,
Neles me encontraria feliz,
Pois estou assim tão admirado

Que não há palavra que me diz
O quanto deve ser deslumbrado
Tal momento que eu tanto quis!

Fabiano Favretto

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Time out

O dia hoje
Nada mais me tem a oferecer
Além das possibilidades
De subtração de felicidades.

Fabiano Favretto

Bolso furado

Sou o melhor
Em perder pessoas
Pelo caminho:
Esses tempos
Eu mesmo
Me perdi
Sozinho.

Fabiano Favretto

Nada vida

Sobre vida
Sobrevivida,
Sobrevida.
Nada antes,
Nada sobre 
A vida.
Vida? (Ida)
(Sobre)Vivida
Antes que não
Sobre nada.

Fabiano Favretto



06:40

O celular desperta
E me sento na cama.
"Meu Deus" eu penso.
Meu Deus! Exclamo.
E ali fico
De mente vazia
Tentando encontrar
Qualquer resquício
De sanidade que
Possa ter restado.

Fabiano Favretto

domingo, 29 de outubro de 2017

Que horas são?

Existem tempos
Em que a vida se arrasta,
E tudo é muito simples;
A metodologia do viver
Torna-se automática
E a vida tão previsível
Como um relógio.

Fabiano Favretto

Tédio

Fazer amor
Para perder o tédio:
Porque o vazio é dor
E o prazer remédio.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Todo dia um murro em ponta de faca

Furastes os olhos para não ver - O amor é cego.
Tampastes os ouvidos para não ouvir - As paredes tem ouvidos.
Endurecestes o coração para não amar - Água mole em pedra dura...

Fabiano Favretto

Fuligem

O que fazer com essa vida
Se viver não é o melhor que faço,
E as ações não justificam os meios
E as dores são iguais ao meu cansaço?

"Deixa pra lá" é o que me dizem,
Mas deixar as dores é afogar-me
Na inexistência e fuligem.

Fabiano Favretto

Vida LP

Lado A da vida acabando,
Se virar o disco
Vai ficar acabar escutando
Somente chuvisco.

Fabiano Favretto

Faz tempo

Não sei mais ser feliz.
Felicidade é coisa
Que a gente perde com o tempo,
É daquelas coisas que a gente
Tem quando criança.

Fabiano Favretto

domingo, 22 de outubro de 2017

Re Corrente

Corrente de ar,
Corrente de ferro,
Corrente marítima;
Corrente a matéria,
Recorrente o elo:
Acorrentar.

Fabiano Favretto

Não me diga

Não me diga que a vida é um mar de rosas.
Não me diga que domingo é um bom dia.
Não me diga coisas além das velhas histórias,
Não me diga nada além do que eu vivia.

Não me diga que está tudo bem,
Não me diga respostas formuladas.
Não me diga o que me convém:
Não me diga porque não me diz nada.

Fabiano Favretto

Morrer antes do fantástico

Eu tento, eu juro que tento.
Mas é inevitável, é infelizmente inevitável.
Domingos são eternos somente até as 16 horas.
Depois, eu juro que tento.
Mas é inevitável, é infelizmente inevitável.

Fabiano Favretto

Você é a minha quase

Você é quase memória
Que quase resolvi guardar.
Mas quase também, agora
Quase lembrei de deslembrar.

Você é quase motivo
Que quase resolvi usar
Como quase causa, e vivo
Para hoje quase me lamentar.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Perdas

Ao acordar, todos os sentidos
Faziam-se plenos.
Tomou café amargo:
Perdeu o paladar.
Pegou ônibus lotado
Indo ao trabalho,
E assim perdeu o horário.
No trabalho,
A labuta intensa
Fez ele perder a força.
Perdeu o ânimo
Quando recebeu críticas ruins
Pelos seus colegas,
Sem merecê-las!
Perdeu a visão por olhar
Somente para uma tela de computador.
Perdeu a audição quando
O maquinário fez-se a única
Música disponível e necessária.
Perdeu o tato
Por suas mão tocarem objetos intangíveis.
Perdeu o olfato
Pois o cheiro de tinta e resina
Eram o único aroma presente.
Perdeu o ímpeto de resposta
À qualquer estímulo externo.
Chegou em casa, com seus pés cansados
E mãos trêmulas de abstinência de realidade.
Perdera também a fome.
Ligou a TV, e em meio às notícias despejadas,
Perdeu o último lampejo que tinha de esperança.
Perdeu a sanidade, e por fim,
Perdeu em um dia, mais uma vez
A própria vida.

Fabiano Favretto



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Ser

Fui ser resignado;
Fui ser feliz;
Fui ser participativo;
Fui ser de expectativas;
Fui um ser de uma incólume
Irrelevância existencial.

Fabiano Favretto

Crônica curta do afoito

BANG BANG!

- Era corajoso, mas quem atirou,
está vivo por aí.

Fabiano Favretto

Nada

Buscastes nos céus
O sentido da vida,
Nos mares a razão
Da sua existência,
E em terra firme
Motivos para caminhar:
Nada encontrastes.

Fabiano Favretto

Limites

É feriado, ficaste sozinho
E teu peso é tão denso
Quanto o seu próprio desespero.
Teus amigos chamaram,
Mas hoje não foste forte.
Amanhã também não o será.
Preparou seu telescópio,
Mas a Lua a ti negou o brilho.
As estrelas desapareceram
Nas entranhas da noite nublada.
Está só no universo,
E tal mistério não vai além
Dos limites do próprio
Coração.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Obrigado

Obrigado por me matar
Uma vez mais,
Antes que eu criasse,
Ou simplesmente tentasse
Criar aquela tenaz
Força para te amar.

Fabiano Favretto

Romantismo contra a corrente

O mundo não suporta mais os românticos
Pelo que representam e pelo que são;
Por não fazerem mais sentido
Nesse tempo e nesse espaço em questão.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Não mais

Estou só
E isso já é fato;
É verão no inverno,
É frio no inferno,
E no último ato
Eu não tenho mais dó.

Fabiano Favretto

Vida miséria

Estou perdido,
Os amigos são poucos,
Mas os fantasmas,
Vários.
Na agitada rotina,
Findamos os dias,

Loucos e sem alegria:
Vida miséria.


Fabiano Favretto

Marés

Casa cheia
Mente vazia
Lua cheia
Noite vazia
Taça cheia
Vida vazia

Fabiano Favretto

Busca

Em busca de mim,
Em busca de liberdade;
Em luta contra o fim
Em luta pela verdade.

Em tempo de retrocesso,
Em tempo de desigualdade:
Em busca de sucesso,
Em busca de realidade.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Feira

Sábado é dia de feira.
Entre laranjas ácidas,
Melões maduros
E peixes que já perderam
O brilho dos olhos,
Encontro talvez
Uma marca
Ou resquício
Do que já chamei de vida.

Fabiano Favretto

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Você é o gatilho

Mudo facilmente
Meu estado psicológico
De satisfação,
Para abertamente
Um nível patológico
De auto-destruição.

Fabiano Favretto

Por isso tenho azia

POESIA É PARA QUEM
TEM ESTÔMAGO,
E NÃO CORAÇÃO!

Fabiano Favretto

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

E daí?

E daí se eu corro?
E daí se sofro?
Não pedirei
So-cor-ro,
Não perderei
O fôlego.
E daí se eu morro?

Fabiano Favretto

domingo, 17 de setembro de 2017

Tango de Setembro

A minha vida
É um tango
Que na chuva danço
Com a desesperança.

Fabiano Favretto

Para um domingo ferrado e um coração esquecido.



"El día que me quieras
la rosa que engalana,
se vestirá de fiesta
con su mejor color.
Y al viento las campanas
dirán que ya eres mía,
y locas las fontanas
se contarán su amor"


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Poema tedioso

Tédio é o que tenho,
E mais do que teria.
Mas eu não queria
Que fosse tão sério...

Tédio que mata
A vontade de amar,
Mas não de se matar
Por quem se ama.

Tédio morno
Tédio meio.
Tédio tão parelho
Tédio transtorno.

Tédio tédio
Tão metade
Tão médio
Tão tédio.

Fabiano Favretto

sábado, 9 de setembro de 2017

Causos capilares

Mentiras cabeludas
E calvícies verdadeiras.

Fabiano Favretto

sss

Stress
Strauss
Strass

Fabiano Favretto

De flores

Coroada de flores,
Ofélia foi
A paisagem mais bonita
De todos os meus sábados.

Fabiano Favretto

Brasa viva

Cabelos cor de fogo
E lábios como lava,
De um vulcão em brasa
Onde sempre eu me jogo.

Mas tão quanto quente,
É demasiado inacessível:
Não por processo crível
Ou por ato inconsequente.

Queria alcançar tal boca,
Queria sentir o calor dos lábios;
A vontade de queimar não é pouca

E os motivos são vários
Para amarmo-nos (de forma louca?)
Afim de em cinzas acabarmos.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Talvez

Tenso,
Tensão,
Tesão.
Penso,
Peso,
Peço?
Não!

Talvez...

Fabiano Favretto



Todos adormecidos

Quando acordaremos
De nosso sono?
Quando descobriremos
Que não vivemos
Nossos sonhos?
Quando saberemos
Quem realmente somos?
Quando esqueceremos
Que nós nunca fomos?

Fabiano Favretto

domingo, 27 de agosto de 2017

Não sei o que significa, mas achei bonito

Sou a eternização
Do subverso
Auto-inconsciente.

Fabiano Favretto

E o que não é?

Pode dizer que sou uma farsa!
Até eu já percebi que isso é real.

Fabiano Favretto

Campo largo, 27-08-17

Só uma luz acesa
Ao lado da biblioteca
Representando precisamente
O gosto do povo
Pela leitura.

Fabiano Favretto

Não sei

Tens veneno
Mas não é serpente;
Tens cheiro bom,
Mas não é perfume;
Tem belas cores
Mas não é flor.
Como chamar tua boca
Se dela não sei o sabor?

Fabiano Favretto

De ausências

Eu não estou apaixonado;
Apenas gosto de você.
Foram erradas
Aquelas palavras:
Só agora posso perceber.
Quis seu corpo:
Me foi negado.
Quis seu beijo:
Nova negativa.
Quis sua presença:
Nem isso pude ter.
Até quando tu será feita
De AUSÊNCIAS?

Fabiano Favretto

Suicídio acidental

Domingos me matam
Igual a todas as mulheres:
Começam bem, e ao final do dia,
Me obrigam a cometer
Suicídio acidental.
Nenhum domingo é diferente,
Mas tenho morrido pouco
Da segunda causa.

Fabiano Favretto

da Piedade

Observador crítico
Fatídico
Em busca de vítimas.
A sanguinolência
Na ponta da caneta,
Mas nada acontece
Na cidade da Piedade
(hoje nada escrevi).
A minha ferramenta
Literária
De destruição
Permanece incólume.

Fabiano Favretto

Ou quase isso

É noite de domingo
Ou quase isso.
Sinto um sofrimento crescente.
Ou quase isso.

Fabiano Favretto

Finalidades

Flores de plástico
Tem a mesma finalidade
Que o café solúvel.

Fabiano Favretto

Por saber

Uma terceira vida
Que não participei,
Pois assim sei
Que não me foi permitida.

Talvez seja melhor
Este desvio de caminho
Onde escolhi andar sozinho
Por saber o que é o amor.

Fabiano Favretto

sábado, 26 de agosto de 2017

Caótico

Qual a minha redenção
Neste mundo caótico e sombrio,
Onde não vejo mais brilho
E sequer vejo coração?

Fabiano Favretto


Projeto

Projeto de vida,
Do que significarei;
Por onde andarei
E quando a partida...

Por que planejar
Se o amanhã é incerto?
São tantos excertos
Para se considerar.

Se tenho planejado,
Não me percebi;
Estou tão cansado

Que a vida não vi
Talvez ter acabado
E assim sobrevivi.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Resposta

Piá fazendo arte,
Desceu o barranco
De seu barraco
Para um barraco
Em arcádia
Sem reboco.

Fabiano Favretto

são

Efêmero
Presente.
Distante
Enfermo.
Vão
Obscuro,
Futuro
São.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Sobretudo compridos e ruivos.

Cabelos compridos,
Cabelos ruivos;
Sobretudo compridos.
Sobretudo compridos e ruivos.
Que perdição,
Que sol poente.
Que estrada quente,
Que desolação.

Olhando do cais
À meia noite
A lua sumindo
Entre meio
Cabelos compridos,
Cabelos ruivos;
Sobretudo compridos.
Sobretudo compridos e ruivos.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Show da ruiva

Vou resistir por você,
Porque somente te assistir
não me basta mais,
Já que te quero mais
E mais à ti estou querendo ir
Como posso ter você?

Fabiano Favretto

Palpite de nada com coisa alguma

Estou com palpite
De coração.
E de tal palpitação,
Antes que eu grite,
Penso que não
Tenho condição
Que evite
Tal situação.
Na busca do não
Tão intermitente
Fica o palpite e a ação
Tão tão tão
Inconsequente.

Fabiano Favretto

sábado, 19 de agosto de 2017

Dos rápidos amores impossíveis

A moça de rosa
Nesse sábado chuvoso:
Maravilhosa,
Mas de tom rigoroso.

Eu nesta cafeteria
E ela do outro lado da rua;
Ah como eu adoraria
Beijar a boca tua.

Fabiano Favretto

O bicicleteiro

O bicicleteiro na chuva;
Molhado na chuva.
O bicicleteiro na chuva molhado
Pedalando na chuva,
Olhos quase cerrados.
O bicicleteiro na chuva
De cabeça inclinida
De cabelos molhados.
O bicicleteiro na chuva
De pés molhados
De água de chuva.

Fabiano Favretto

domingo, 13 de agosto de 2017

Dualidades rimantes

A Felicidade
É uma qualidade
Impossível.
A Tristeza
É uma qualidade
Inevitável.
Ambos
 Os acontecimentos
Rimam.

Fabiano Favretto

Obituário habitual

Morro
Pelo menos
Uma vez
Por dia.

Fabiano Favretto

Regras

Mas afinal,
O que é poesia?
Seria um tal
Nível de entropia,
Que em cada momento
Revoluciona e vicia
Nos dando alento?
Ou seria a quebra
De tudo que se sabe
De regras
Quando o coração se abre?

Fabiano Favretto

Saudade

Tão lenta
E tão violenta.
Tão devagar
E tão de matar.
Saudade.

Fabiano Favretto

Quase nada

Estou me sentindo
Tão pouco,
Quase inexistência.

Fabiano Favretto

Estapafúrdio

Hoje acordei
Tão absurdo e
Irrelevante;
Mais do que fui,
Menos do que
Eu me tornei.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Behavior

Não penso
Não imagino;
Não venço,
Meu amigo.
Não vivo,
Não durmo:
Me esquivo
E consumo.

Fabiano Favretto

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Não te desanimes!

Não te desanimes!
Ainda existem bocas que beijam 
E mãos que acariciam; 
Não te desanimes! 
A vida é longa como o mar onde velejam 
Os pensamentos que jamais cansam. 
Não te desanimes! 
O destino não é um tapete onde traçamos 
As nossas vitórias ou desenganos. 
Não te desanimes ! 
A vitória virá se continuarmos tentando, 
Embora nem sempre ganhamos. 
Fabiano Favretto

Por antecipação

Sessenta minutos de paz
Não seria menos que uma ilusão
Porque sabemos que o tempo se faz
Um sofrimento por antecipação;

Mesmo que o momento não seja este,
E que momento ruim esteja por vir
Como farei para não me induzir
A esquecer o tempo, se este me viesse?

Fabiano Favretto

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Não vou!

Não, não vou me curvar
Meus joelhos já não dobram mais.
Não, não vou me curvar
Porque a liberdade não deve ser utopia.
Há quem diga que devemos ser felizes
Com o que temos,
Mas a felicidade não está no consentimento,
Mas sim na idéia de que novos objetivos
Surgem a cada instante.
Não, não vou me curvar
E aceitar que poucos têm o poder.
Não, não vou me curvar
Perante qualquer tipo de "liderança"
Fútil e ameaçadora.
Não, não vou me curvar,
Porque a felicidade não me permite
Se curvar perante o mundo.
Não, não vou me curvar
Perante chefes ou supervisores.
Não, não vou me curvar perante
Qualquer tipo de admoestador.
Não, não vou me curvar
Não vou!
Não vou!

Fabiano Favretto

27

Para o amigo Leandro.

Possuía longos cabelos,
E uma grande sede por liberdade.
Entendia de motores e carros,
Da essência da velocidade.

Mas fez 27, e correu
Correu como o vento voa
E voou como o som se entoa:
Assim ele transcendeu.

Não mais corre, e agora,
Nem Raul toca em seu Rádio.
Meu amigo foi-se embora

Deixastes saudades, e nesse estado
Haveria de estar ouvindo agora
No céu um bom rock ritmado.

Fabiano Favretto

domingo, 23 de julho de 2017

Bendito Whisky

O frio estremece,
O jazz aquece.
O amor aparece;
E o whisky, amortece.

Fabiano Favretto

Canto de desabafo

Meu canto de desabafo
Não é um canto qualquer,
Pois se sozinho estiver,
Não estarei estupefato.

Esse meu canto
Não é aqui, nem lá
Não é em si, nem acolá;
Nem sequer dá dó.

Esse canto eu canto
E assim é,
É assim sem pranto,

Sem desencanto,
Sem fé
Sem próprio canto.

Fabiano Favretto

Dó a Dó

As notas estão
Todas soltas
No braço do violão;
Basta querer encontrá-las...
Ou não!

Fabiano Favretto

Corrói

Quando o vinho bate
Em conjunto com a vida,
Apanho, é um embate
De tanta dor sofrida.

E o Blues que me move,
Mas não menos me dói,
Pois este cão se comove
E minh'alma se corrói.

Fabiano Favreto

Glicose

Famigerada
Glicose,
Oh meu Deus,
De doce terei
Doce overdose.

Fabiano Favretto

domingo, 16 de julho de 2017

Paradoxos Culinários

Se eu cozinho
Quando estou só,
É porque de alguma maneira
Eu te encontro.

Frito, empano, asso,
Degusto.
Sozinho.

Se eu te encontro,
Eu não mais cozinho.
Seu tempero é suficiente,
E sua boca me devora.

Se eu cozinho,
Quando estou só
Sempre erro nas porções:
Não cozinho para mim somente;
Cozinho dois corações.

Fabiano Favretto

fAzia

Azia
Faz parte;
Mas antes,
Eu fazia
Arte.

Fabiano Favretto

Pele

A luz do sol
Adentrava pela janela
E pela cortina
Fazia desenho de rendas
Na tua branca pele;

A luz do sol
Te iluminava, e você bela,
Dama fina,
De beleza, uma oferenda
À flor da pele;

À luz do sol
Você como uma vela,
Não mais uma menina;
Vai, antes que me prenda
E o meu coração sele.

Fabiano Favretto

Eu, domingo

Domingo
Sendo
Domingo
Sobrevivendo ao
Domingo
Sofrendo
N'um domingo
E morrendo
Domingo.

Fabiano Favretto

terça-feira, 11 de julho de 2017

Para uma boca vermelha

I

Seguia a minha estrada,
Era noite e a Lua subia.
A tarde que era finada,

Dela nenhum resquício havia;
Começava o sereno a cair
E a dor, meu peito consumia.

A Lua continuava a subir
E a cor nunca foi tão amarela;
Lembrava que decidira fugir

Mas o coração não foge dela
A fim de se acabar aos poucos
Como assim acaba fina vela.

Eram dias deveras tão loucos!
Mas breves assim permaneciam
Como permanece meu peito: rouco.

II

As dores ainda me consumiam
E as penas eram as mesmas, então;
Eram as solidões que cresciam

E ocupavam todo meu coração.
Dei trégua à minha caminhada
Que fiz feroz até então:

Em silêncio na beira da estrada,
Respirei fundo e acendi um cigarro.
Não vi movimento, não havia nada

Além de na garganta o pigarro.
A Lua mais alta agora
Iluminou o chão de modo bizarro:

Sabe-se era noite, e a essa hora
Não deveria a rua estar iluminada
Pensei comigo: vou-me embora!

III

Retomei o ritmo da caminhada,
Temendo olhar por onde andei,
Com medo do que havia na estrada.

No entanto a Lua - me espantei
Parecia agora tão imóvel!
Como ela, assim paralisei:

Vinha vindo um automóvel,
Alta velocidade em minha direção,
O carro pilotado, ignóbil

Atingiu-me de raspão.
Um momento rápido anterior
Foi a minha salvação:

Um reflexo, movido pelo horror
Fez meu corpo um pouco se mover;
Mesmo assim fui atingido de dor.

IV

Pensei que iria morrer,
E o automóvel foi embora.
Meu sangue começou a escorrer,

Não sabia o que fazer naquela hora.
Comecei a me mover lentamente
Arrastando meu corpo de hora em hora

Para fora da estrada, que latente
Serpenteava em direção à cidade,
Mas estava eu tão distante

E sabia agora de minha dificuldade
De permanecer ao menos lúcido,
Sobrevivendo à própria calamidade.

Estava quase todo plácido,
Exceto pelo estado do peito meu:
Eu era tudo, menos lúcido.

V

A Lua ainda parada no céu
Sarreava do estado em que me achava:
Oferecia simples, o brilho seu.

Era a imagem do que faltava
Que a dor fez aumentar.
A noite fria assim avançava,

E uma luz no chão se fez cintilar:
Era um batom vermelho
Lembrei-me de você o usar

Naquela noite, em frente ao espelho
Enquanto olhava-me e sorria.
Sua boca como meu sangue vermelho

E seus olhos beijar, eu deveria;
És por mim (em segredo) amada
Mas morro (sozinho) assim, todavia.

Fabiano Favretto





quinta-feira, 29 de junho de 2017

Nonsense

Nonsense
Poesia minha
Quando escrita;
Não pense
Que cada linha
É a minha favorita.

Fabiano Favretto

Escolha

Minhas
Escolhas
São as suas,
Antes que
As minhas
Escolhas
Tu escolha.

Fabiano Favretto

Verde-abacate

E se o mundo fosse um abacate,
E o caroço fosse o núcleo?
Se o Mundo apodrecesse
E o caroço germinasse,
Teríamos uma nova esperança,
Esperança de gerar novos mundos.
Mas se novos mundos abacates nascerem
E caírem por terra, e os caroços destes germinarem,
E cada um criasse assim novos mundos?
Assim seriam criados sistemas planetários,
Galáxias, um universo verde-abacate.

Fabiano Favretto

domingo, 25 de junho de 2017