sábado, 28 de junho de 2014

Colo

No sono solo,
Sonho contigo.

Em meu abrigo brigo,
E acordo em seu colo.

Fabiano Favretto

Minha viola

Não desafina.
Minha viola
Tem guizo de cascavel.

Não desafia
Minha viola.
Tem poder de elevar-te ao céu.

Não debocha.
Não fales mal
De minha viola de pinho.

Não desabrocha. 
Não vejas mal
A minha viola não é espinho

Não viola a minha viola.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Beira

Sem eira
Nem beira,
Na desolação.

Não fuja
E não queira
Quebrar meu coração.

Fabiano Favretto

terça-feira, 24 de junho de 2014

Paraíso

"There's a sign on the wall, but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven"


Hoje, eis que eu me dei conta que o paraíso se faz presente. Presente está o paraíso nos pequenos momentos e nas pequenas coisas. Quando à pouco eu fazia minha trivial viagem trabalho-casa, uma simples música (não tão simples, afinal é LED porra! haha) transformou totalmente meu humor.

"Oh, it makes me wonder"

Isso me fez pensar em quão bom é estar vivo. Estar vivo e viver os momentos sublimes que muitas vezes podem passar despercebidos. 
N'uma combinação de acasos, ambientes e sensações, um sorriso ou até mesmo um conjunto adjetivos aleatórios que não saberia descrever, ganhei meu dia.

"Oh, and it makes me wonder" 

Realmente pensei, e pensei bastante. E pensando, descobri que apesar de muitas vezes a rotina fatigar nossos sonhos, há ainda espaço para chegarmos ao paraíso. O paraíso se faz aqui e agora. O paraíso nós mesmos podemos fazê-lo. Não precisamos de receita, empurrão ou mesmo escadaria. Precisamos de uma percepção diferente de mundo, onde não somente a negatividade se destaca.


Fabiano Favretto


Obs: Para quem não sabe, os trechos acima citados foram retirados da letra da música "Stairway to Heaven" da banda Led Zeppelin.



segunda-feira, 23 de junho de 2014

Galáxia

Hoje identifiquei
Uma nova galáxia.
Grande e notável
Além-Via-Láctea.

Em espirais expandia-se
Com explosões estelares.
Com pálidas luzes frias
Fundia rochas lunares.

Alinhavam-se cometas
Em rotação permanente.
De poeira houve tormenta
E calmaria subsequente.

Uma pequena esfera
Em oscilações contínuas
Cria primitiva atmosfera:
Um passo a mais para a vida.

Essa nova galáxia
Tão grande e tão pequena
É onde a minha 
Esperança torna-se plena. 

Fabiano Favretto

domingo, 22 de junho de 2014

Janelas

As janelas
São os olhos
Das casas.

Ora abertas,
Ora fechadas

Observam,
E fazem do destino
Atemporal fachada.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Espera

Para você
Nobre esperança,
Poderia compor
Uma sinfonia:

Alegre,
Cheia de bonança.
Durante esta espera
Pela distante epifania.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Contas

A vida acaba
Quando vem o sepulcro.
Se o inferno é certo,
Purgatório é lucro.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Paletó

O corvo não é nada mais
Do que um pombo de luto.

Fabiano Favretto

Voo

Minha vida
Tende a ser
Como o voo
De uma mariposa:
Tênue,
Porém sempre
Em direção à luz.

Fabiano Favretto

domingo, 15 de junho de 2014

Limo

Anjos
Que de homens vivos
Antes cuidaram,
No cemitério
Agora somente
Túmulos velam.

Não há vida.
Não há calor.

Somente há o limo
No mármore frio
Das asas esculpidas.

Fabiano Favretto



sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ratificação

Muitas vezes penso:
Um rato queria eu ser.
Bicho imundo
Vivendo no lixo,
Apenas a roer e roer.

Roe isso e roe aquilo,
Roe até cola de sapato.
Roe a vida sem compromisso:
Só se preocupa com o gato.

Queria eu como rato,
Morrer de barriga cheia.
Preso no susto, num grande estalo
Pela mortal ratoeira.

Fabiano Favretto

Habita

Sem
Conceito
E pretexto,
Descrevo
O contexto
Do vazio
Que em mim
Habita.

Sem
Coerência
E consciência,
Escrevo
A essência
Do que sinto,
Mesmo que 
O coração omita.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Submerso

No tempo e no espaço
Derreto o universo.
Em mim gero colapso
Quando escrevo este verso.

Do tempo em lapso
E do espaço controverso,
Faço da distância laço
E a rima ato perverso.

Fabiano Favretto

domingo, 8 de junho de 2014

Distância

Qual distância 
Do seu olhar,
Está meu coração
A palpitar.

Qual distância
Do seu abraço,
Está meu coração
Em pedaços.

Qual distância
Do seu beijo,
Está meu coração
Deveras rijo.

Qual distância
Do seu corpo,
Estou eu
Simplesmente morto.

Fabiano Favretto

sábado, 7 de junho de 2014

Epitáfio

Tua voz tem sido 
O meu epitáfio
Que no mármore frio
De minha consciência
Gravado está.

Fabiano Favretto

Marcha

Sempre imaginei
Que as grandes
Torres de energia
Fossem gigantes
Adormecidos.
Sempre pensei
Que um dia
Despertariam deste sono
Para em marcha
Carregar seus fios.

Fabiano Favretto


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Fechadura

Pelo buraco da fechadura,
Espiei a beleza plena.
Olhava a formosidade pura,
Em meio à luz serena.

Em contraste com tons pastéis,
A penumbra de sua sombra instigava.
Agarrava das cortinas os veis,
Tremulenta silhueta me enganava.

Sobre os amarelos da parede,
Margaridas da primavera florescidas.
Queria atar-me a ti como uma rede
Trançada de nossas almas envolvidas.

Na porcelana de tua face,
Há luz do sol refletida
Que neste trabalho de enlace,
Destaca o primordial em minha vida.

Se eu padecer escondido,
Jamais saberá você a minha solidão.
Poderei viver arrependido
Se nunca lhe entregar meu coração.

Tomarei iniciativa
Para tê-la em minha vida.
Há tanto tempo à mim cativa,
Que te amar não me traz dúvida.

Fabiano Favretto

terça-feira, 3 de junho de 2014

O colecionador de dedicatórias

Não contentava-se somente com uma assinatura. Precisava de mais. Algo mais.
Sua imaginação fluía através da caligrafia, que já desbotada e suja tornava-se parte daquele velho livro. Quem sabe aquela dedicatória fosse sincera, ou talvez, somente alguns votos superficiais. A história de quem escreveu poderia ser análoga ao livro, ou até mesmo melhor que a própria estória no livro relatada.
Por onde antes andavam mãos criadoras de tão bela caligrafia? Por certo em superfície plana, macia, com formas repletas de cores e livre de acidentes. Ou talvez haviam tirado água do poço para depois lavarem-se e perfumarem-se com sabonete de pétalas de rosa. Pensava nisso, mas no fundo não acreditava.
Dormia e sonhava com a caligrafia enfeitada de arabescos. Imaginava a arranhadura da pena no papel fino, no momento da concepção da palavra. Faziam-se infinitas cenas em sua cabeça, todas eternas, simples e sublimes.
Continuou a comprar livros, agora em maioria usados. Lia-os.
E as dedicatórias? Tornavam-se uma coleção infinita de histórias.

Fabiano Favretto