quarta-feira, 30 de julho de 2014

Soneto de Fim de Julho

Os pássaros são completos ausentes
Nestas ultimas manhãs de julho.
Com certo receio e orgulho,
Esperam do Sol alguns raios nascentes.

Dos dias passados só restam lembranças,
E os últimos tempos estão gravados no peito.
Faltou no hospital da vida o leito
E no soro da vida a esperança.

O tempo ousa avançar,
E dançando nas lacunas do espaço,
Este mês há de acabar.

Não finda na vida este velho cansaço,
E nunca haverá de findar.
Caberá do tempo no peito um pedaço?

Fabiano Favretto

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Persistência

Se meu viver não é eterno,
Meus versos são.
Minha mente pode ir ao inferno
Mas meu versos não vão.

Poderei não mais existir,
Mas meus versos estão gravados.
Sempre haverão de persistir
Estes meus poemas rimados.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Deleite

Nefasto,
Olhava o obtuário.
Passatempo mórbido.
Sorriso plácido.
Seu deleite era ordinário,
Irônico e sádico.

Contava a dedo
Quais daqueles lhe pertenciam.
Quando nada encontrava,
Seus nervos entorpeciam.
Sumia o sorriso louco,
Impaciência é o que havia.

A pá suja,
Debaixo da cama.
Profissão para poucos
É estar metido na lama.
Os ossos impressionavam:
Nada de fazer drama.

Chega o dia esperado:
A pá no chão faz cavidade.
Suor na testa
E força de vontade.
Sete palmos bastam
Para a eternidade.

Vida de coveiro
É irônica e trágica.
Enterra um e enterra outro.
Vida longa antropofágica
Tal quais os vermes
Em sepultura antológica.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Engenho

O engenho:
A doçura da cana.
O suor do escravo
Da pele derrama.

O produto final,
Dote de casamento.
Amargo afinal
Esta vida de sofrimento.

Mistura-se a garapa
Ao sangue do inocente
O pelourinho, o velho abraça
Por ser desobediente.

Manga com leite
Faz mal à saúde
Feijoada é deleite
Para quem não é rude.

Capoeira no terreno
Dança, luta e gingado.
O cansaço é pequeno
Perto do golpe acertado.

Mascavo
Cheiro de mel está no ar.
Aguardente com cravo.
Está o sinhô a cantar.

Senzala à noitinha,
Murmúrios finos ecoam.
Acende uma vela, "Mainha",
Para aqueles que já se foram.

Amanhece quente o dia,
Neste mês primaveril.
Assinaram carta d'alforria
Findando tempo febril.

Nunca houve maior felicidade
Do que este dia no engenho.
Festejam todos pela igualdade
Olhando o passado com desdenho.

Fabiano Favretto

terça-feira, 22 de julho de 2014

fogo

Escreve, pois,
A palavra ruim 
No papel e atira-o 
Ao fogo para que queime; 
Assim procederá 
O mais justo dos humanos: 
Aniquilará junto do fogo ardente 
Aquilo tudo que faz mal 
À sua verdadeira essência e alma.

Fabiano Favretto

Caos

No caos
A inspiração aparece.
Na entropia
A ideia amadurece
E no barulho
A magia acontece.

Fabiano Favretto

Divisa

Queria eu
Este verão,
Pular esta divisa
E alcançar seu coração.

Queria eu
Fazer mais que espiar:
Pular esta divisa
Para te encontrar.

Queria eu
Neste inverno de agora,
Pular esta divisa
E te beijar, mandando o frio embora.

Queria eu
Ter você mais do que somente ver.
Pular esta divisa,
Está além de meu poder.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Composição

Soneto nas linhas,
Nenhuma voz faz sonata.
Caligrafia precisa
Ao compor uma cantata.

A clave de sol ao início
Na partitura é desenhada.
Corre-se a pena em risco,
E faz-se nota elaborada.

Notas menores,
Mas não menores de tristeza.
As notas já em pares
Compõe delicadeza.

Afina-se o violino:
Testa-se o som agudo.
E o tom grave, quase um hino
Macio como veludo.

Corre-se o arco,
As primeiras notas aparecem.
Palavras navegam como um barco
Que o movimento das notas enaltece.

Um capricho elaborado.
A voz, o som e o aprendiz.
Componho a vida instigado
A solar o que me faz feliz.

Fabiano Favretto

terça-feira, 15 de julho de 2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Noites de um inverno

Noites de um inverno:
A brisa e o frio.
O vento e o vazio.
Nada é eterno.

Fabiano Favretto

Caos

Sólida. Impassível.
Um verdadeiro muro
Separando dois grandes exércitos.
Meu front e minhas forças abaixo vieram
(Des) Motivados pelas forças
Da sua resistência.

Um inverno de gelo.
Um inferno de gelo em seu sorriso.
Nem por isso
Desejei menos seus lábios.
Mãos solitárias,
Solitárias e errantes estão.
Mãos, guias minhas
Tão pobres, podres,
Miseráveis e desnorteadas:
Me deixem contigo fazer aliança!
Deixem-me colocar em ti uma aliança,
E prometo assim,
Ou Prometerei enfim,
No fim
Que tudo será para sempre.
Pelo menos por enquanto.
E seus olhos instigadores,
Gananciosos,
Prepotentes e mesquinhos
Que ousam não fitar-me,
Transcrevo-os como
Espelhos de angústia,
Sofrimento e desesperança
(desesperança minha):
Nunca mais os encararei.
Que venham as trevas,
E em sua ausência,
O caos.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Canção do homem morto

I

Ao horizonte cavalga
Rápido e resoluto.
Doente de alma,
Um homem de luto.

Corta a galope
Sua angústia e drama.
Risca a ferro e chicote
A sua dor que inflama.

Traz no peito a marca
D'um fatídico dia,
D'onde a lembrança embarga
A visão e a alegria.

Pelos campos vaga,
Como o vento nos becos.
Nos trigais perdido acaba
Em meio ao seu medo.

II

Os lírios do campo
Somente observam
E as nuvens no entanto,
À luz fraca cegam.

As margaridas nas janelas
Desfolham-se sob a brisa
Enquanto abelhas amarelas
Seguem sua aérea sina.

Sob a janela está debruçada
Com seus braços já cansados.
Braços de quem já foi amada
Abraços de apaixonados.

Lembranças e devaneios,
O cheiro de canela em rama.
Saudades daqueles tempos
Mas gente morta não ama.

III

Morto estava,
O homem em seu cavalo.
Mas ele ainda andava
Logo ao cantar do galo.

Pensava em seu destino:
A estrada, a corda e a morte.
Lembrava de quando menino,
Dos tempos de boa sorte.

O homem morto
Resolveu mudar seu trajeto.
Caminho com pedras e lodo,
Apenas o que julgou ser certo.

Intimamente pensava
Estar novamente sofrendo
A estrada o cansava
Mas estava vivendo.

IV

Ficava a observar
O horizonte passageiro,
E pegava-se a admirar
O vento mensageiro.

No fundo sabia a moça,
Que amor nunca morre.
Tinha ela crescente esperança:
Ter aquele que o amor socorre.

Um homem um dia morto,
Ao palpitar de uma saudade ressurgiu.
Aquele que outrora amou torto
Sua fé no amor reconstruiu.

Encontrou-se o falecido
Com seu amor do passado.
Ter um amor repreendido,
É como ter a vida cessado.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 9 de julho de 2014

domingo, 6 de julho de 2014

Em essência

Medo em essência
É não fazer.
Ter em consciência
Auto-repreender.

Medo é ausência,
Falta de algo mais.
Medo é negligência
Ou um simples "tanto faz".

Medo é impaciência,
A pressa e a correria.
Medo é uma ciência
Não tão bela, mas precisa.

Medo e incoerência
Quando juntas, sempre há falha.
Medo e insuficiência
Oh Deus, isso atrapalha.

Fabiano Favretto

Efeito

Seu efeito em mim
É permanente.
Sempre será.

Meu coração, enfim,
É incompetente:
Não vai sarar.

Sua lembrança assim
É suficiente.
Nada acabará.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Tutu

Borboletas
São lagartas
Que aprenderam
A dançar Balé.

Fabiano Favretto

Esperança

No fio elétrico
O passarinho balança
Em movimento métrico
A brisa avança
O Sol ilumina
Esta temperança.
Como são belos estes dias:
Dias de esperança.

Fabiano Favretto

terça-feira, 1 de julho de 2014

Julho

Chegou novo mês
Trazendo esperança.
Trazendo de vez
Alegria e bonança.

Chegou mês de julho
Todo animado
Chegou sem orgulho
De espírito renovado.

Que estes dias sequentes
Andem com serenidade
E façam deste mês presente
Fonte de felicidade.

Fabiano Favretto

Gaiola


O canário 
Na gaiola preso 
Canta sua sonata de dor.

Instigam-no 
À  medida do tempo 
Esquecer o seu amor.

Nas grades frias
De uma gaiola enferrujada
Sofre a ave de frieza.

Gorjeando queria
Que aquela quem amava
Viesse tirar-lhe a tristeza.

Não há mais notas 
Para melodias felizes
Nem para o pio n'alvorada

Não há mais nenhuma rota, 
Mas sim cicatrizes 
E a esperança no peito guardada. 


Fabiano Favretto

Pé-de-meia

Nosso amor
É catacrese.

Fabiano Favretto

Pena

Espora,
Estalo.
Esbarra 
Estouro.
Por essa briga de galo
Levei esporro.

Fabiano Favretto