I
Ao horizonte cavalga
Rápido e resoluto.
Doente de alma,
Um homem de luto.
Corta a galope
Sua angústia e drama.
Risca a ferro e chicote
A sua dor que inflama.
Traz no peito a marca
D'um fatídico dia,
D'onde a lembrança embarga
A visão e a alegria.
Pelos campos vaga,
Como o vento nos becos.
Nos trigais perdido acaba
Em meio ao seu medo.
II
Os lírios do campo
Somente observam
E as nuvens no entanto,
À luz fraca cegam.
As margaridas nas janelas
Desfolham-se sob a brisa
Enquanto abelhas amarelas
Seguem sua aérea sina.
Sob a janela está debruçada
Com seus braços já cansados.
Braços de quem já foi amada
Abraços de apaixonados.
Lembranças e devaneios,
O cheiro de canela em rama.
Saudades daqueles tempos
Mas gente morta não ama.
III
Morto estava,
O homem em seu cavalo.
Mas ele ainda andava
Logo ao cantar do galo.
Pensava em seu destino:
A estrada, a corda e a morte.
Lembrava de quando menino,
Dos tempos de boa sorte.
O homem morto
Resolveu mudar seu trajeto.
Caminho com pedras e lodo,
Apenas o que julgou ser certo.
Intimamente pensava
Estar novamente sofrendo
A estrada o cansava
Mas estava vivendo.
IV
Ficava a observar
O horizonte passageiro,
E pegava-se a admirar
O vento mensageiro.
No fundo sabia a moça,
Que amor nunca morre.
Tinha ela crescente esperança:
Ter aquele que o amor socorre.
Um homem um dia morto,
Ao palpitar de uma saudade ressurgiu.
Aquele que outrora amou torto
Sua fé no amor reconstruiu.
Encontrou-se o falecido
Com seu amor do passado.
Ter um amor repreendido,
É como ter a vida cessado.
Fabiano Favretto