terça-feira, 28 de agosto de 2018

Explicação para o vazio

É que em minha existência
Não há qualquer essencia.
É por isso que tomo substâncias
Em todas as variadas circunstâncias.

Causa mortis, sereno e madrugada:
Em mim mais mortes programadas.
Torço para ouvir agora uma música triste
Para apagar em mim tudo o que existe.

Fabiano Favretto

Agouro

Na escura estrada
Como de costume,
A noite em negrume
Fazia-se instaurada

Em baixa velocidade
Estava eu a dirigir
E meu peito a digerir
Os fantasmas da realidade.

Hey Bulldog era a música que ouvia
Enquanto a chuva aumentava.
A estrada se encharcava
E meu medo só crescia!

Ouço lampejos e raios iluminam,
Enquanto o som posterior,
Hades, deus do mundo inferior
E Zeus, batalhas iniciam.

No semáforo fechado
Sinto presságio de má sorte:
Aquele que me anuncia a morte,
Com olhar tenebroso, velado

Estava em meio a rua,
De sangue, faminta a sua boca
Que aberta, quase pouca
Ofegava maldade pura.

Era um cão que se aproximava,
Em seus passos inaudíveis
Me causavam medos indizíveis
Ao passo que o fim se aproximava.

A um metro de distância ele estava
Enquanto um clarão no céu surgiu.
Aquela imagem demoníaca sumiu
E acelerei enquanto o sinal mudava.

Respirei aliviado enquanto dirigia,
Mas a imagem desse cão
Não sei dizer por qual razão
Em minha cabeça permanecia.

Cheguei em casa, e estacionei.
Dentro do carro permaneci,
E assim quase me esqueci
Que os faróis não desliguei.

Olhei para o painel de modo trivial,
A quilometragem marcava
O número da besta, mas achava
Ser uma coincidência ocasional.

Os faróis eu desliguei,
E retirei a chave da ignição,
Mas quando surgiu um clarão
Novamente paralisei.

Pelo reflexo do retrovisor,
Vi a malévola silhueta canina
No banco traseiro, o odor da saliva
Seu hálito de morte exalando horror.

Fabiano Favretto



Punhos cerrados

Não quero dormir.
Quero resistir!
Não quero me suprimir
E nem desistir.

O grito será alto
E a voz só aumentará.
Meu punho não se omitirá
Diante de qualquer sobressalto!

Fabiano Favretto

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Abismos negros

Para Fabiane

Teus olhos tão negros
São também profundos,
E neles me afundo
Em busca de teus segredos.

Teus olhos são abismos,
Onde o chão não existe,
E se neles meus olhos persistem:
Caio caio em mil achismos.

Doravante, um infinito,
Em meio a este instante visual.
Me sinto tão finito

Pois não há imensidão
Com amor mais bonito,
Que faz de mim expropriação.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Sobre o Chopp e Corações #10

A pergunta
Que fica:
Aguento mais
Uma birita?

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #9

Bebida quente
Coração frio.
Há quem aguente
Um coração vazio?

Fabiano Favretto

Turvo

Meu raciocínio
É turvo:
Na tua lembrança
Me conturbo.

Fabiano Favretto

Alguns goles por dia

A vida é curta demais
Para colocar gelo no whisky.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #8

No copo de chopp
Me afogo:
É tanto mar,
Para pouco fogo.

Fabiano Favretto

Não respectivamente

Bukowskando,
Drummondiando;
Me buscando,
Me odiando.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #7

Se fica 
Só o copo,
Na cama
Eu capoto

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #6

Quando
O mundo gira
O meu copo
Vira

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #5

Quando
O efeito chega
O coração
Festeja.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #4

Cada gole
Gelado
É um beijo
Apagado.

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #3

A caneca
Se esvazia
E minha dor
Alivia

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #2

A caneca 
É gelada
Feito coração
Da amada

Fabiano Favretto

Sobre o Chopp e Corações #1

Não há chopp
Que não
Encha o vazio
De um coração
Sombrio.

Fabiano Favretto

domingo, 12 de agosto de 2018

Vidas

Ninguém liga para a vida
De milhões de baratas,
Estão todos na torcida
Por assassinato em massa.

Minha vida não vale mais
Que a vida de meu irmão.
Podem dizer que perdi a noção,
Apenas vivi demais.

Fabiano Favretto

Sol

O pôr do sol
Em ouro tudo transforma,
Pois no dia tudo pesou
Com sua luz em boa forma.

Fabiano Favretto

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Dai-me

Dai-me forças e inteligência;
Dai-me o dom da ciência.
Dai-me glória e sabedoria
Dai-me a chance de ter alegria.

Amém

Fabiano Favretto

Vai em cima de bolos de aniversário

A felicidade é a pequena chama de uma vela 
Exposta ao temeroso vento de um furação.

Fabiano Favretto

Das terças

Compre, consuma,
Tenha um Iphone.
Beba, fume,
Encha os pulmões de oxigênio
Antes que o ar esteja cheio de fumaça.
Use psicotrópicos e tome conhaque:
O baque será igual
A uma manhã de segunda-feira.
Desvie das sombras em um dia quente,
Desvie das marquises em dias chuvosos,
Desvie da piedade que possa ser encontrada em você!
A sorte não se encontra,
A morte se encontra.
Chute uma lata,
Quebre uma garrafa em uma placa de "PARE".
Piche as paredes de teu quarto,
Piche seus braços como telas definitivas,
Mas não esqueça de pichar
Os muros de suas limitações.
Quebre uma lápide
E coloque uma mesa de bar no local.
Quebre a cabeça
Quebre a rotina
Quebre a vida miserável
Que te quebra todo dia.
Mas não esqueça
Que sempre haverá uma terça-feira ruim
Depois de uma segunda desastrosa.
Ânimo, o sistema quer você morto,
Mas ele não sabe que você já está morto por dentro.
Sorria, você simplesmente anda entre todos
Sem saber onde vai, e porque vai.
Caronte sempre será seu melhor gondoleiro.
Admita, uma terça-feira nunca te será suficiente.

Fabiano Favretto

Calmaria

Teu corpo, eu queria
Teu corpo, e com ele faria
Teu corpo, sim, faria!
Teu corpo se contorceria.

Meu corpo, eu queria
Meu corpo, contigo faria,
Meu corpo, sim, faria!
Meu corpo se contorceria.

Nossos corpos, eu queria
Nossos corpos, a gente faria,
Nossos corpos, sim, faria!
Nossos corpos pós-tormenta: calmaria.

Fabiano Favretto

Juízo do sem juízo

Coração, se acalma!
Se ela vai,
Não te sobra nada!

Fabiano Favretto

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

menos e mais

Já se matou por muito menos
E já se viveu por muito mais.
A ordem dos fatores não altera
Os produtos desiguais.

Fabiano Favretto

Transe verbo!

Transe verbo!
Transe estado
Transe ação.

Transo moderno
Intransitado
E em transação.

Fabiano Favretto