quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Oculto

Na penumbra do rosto coberto,
Não sei se é sorriso,
Não sei se é tristeza.
Mas vejo pelas fendas
Dos olhos abertos
O que na branca resina 
Não se faz descoberta.

Fabiano Favretto


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Entre capas

Na estante os livros discutiam
Entre linhas
Entre capas
E julgavam todos os humanos
Pela cara.

Fabiano Favretto

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Último ato


A poesia é matar-se
Para reviver no ponto final.


Fabiano Favretto

Segundo Ato

A poesia é o abrir das cortinas
Em busca de um novo horizonte.

Fabiano Favretto

Ato

Poesia:
Ato de enganar-se
Com a própria verdade.

Fabiano Favretto

Ermas

Queria poder atear fogo nas nuvens
Para vê-las como se fossem fragatas
A deslizarem ermas em chamas 
Iluminando o profundo espaço vazio.

Fabiano Favretto

TV

Estou neutro
Absorvendo todo resíduo
Do lixo dito "cultural".
Estou absorto
Em modo contínuo
Em minha bobagem habitual.

Fabiano Favretto

Vácuo

Me faltou a poesia.
Hoje sou meio,
Sou frasco vazio.

Fabiano Favretto

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

9+1

Escrevi dez poesias:
Uma era de amor
Nove eu sofria.

Fabiano Favretto

In porto

Para Suelen

Se és meu porto,
Nosso amor é o vento
Neste mar sem conforto
E sem alento.

Atracarei na rocha fria
Da sua pele límpida.
Na sua areia eu queria
Percorrer em marcha íntima.

Suas virtudes, minha âncora
Que faz contigo eu querer ficar.
Seu sorriso que vigora
Faz contigo eu querer estar.

Não há maré mais confortante
E tampouco menos inquieta
Que seu beijo, seu semblante:
Olhos, fragata, onda completa.

Fabiano Favretto

É facil escrever poesia

É fácil escrever poesia.
Complicado é descrever a poesia.
Ainda mais complicado é transcrevê-la.
É difícil escrever poesia.

Fabiano Favretto

Língua

Minha língua não é culta;
Vive a lançar verbetes
E a percorrer passagens ocultas.

A língua lambe, mas acima de tudo
Sucumbe aos prazeres da vida.

A língua lembra, mas abaixo, contudo,
É refém da palavra proferida.

A vida começa dura,
Mas a língua sempre será mole.

A língua não perdura,
E na cova que palavras move?

A minha língua é agitada
Se esta certamente estiver
Na boca da minha amada.

A lingua é feita para amar:
O amor está na ponta da língua.

A língua é feita para viver,
Lamber os cantos da vida.

A lingua livre a lamber
É feita para viver de lambida.

Fabiano Favretto

Ai, as flores!

Ai, as flores!
Antes fosse fácil entendê-las.
Mas não é fácil
E nem ao menos possível.

Porém é necessário e
Imprescindível
Fechar os olhos
Perante sua fragrância
Indelével.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Insistência

Na praia
As ondas bateram,
E as rochas perderam
Pelo cansaço.

Fabiano Favretto

Mas isso não tem sentido nenhum!

Declamando para declarar
Declarando para declamar
Declamando para declamar
Declarando para declamar

Deflagrando para debandar
Debandando para deflagar
Deflagando para deflagar
Debandando para debandar.

Reclamando para cansar
Cansando para reclamar
Cansado para cansar
Reclamando para reclamar

Reclamando de cansar
Cansando de reclamar
Cansado de cansar
Reclamando por reclamar.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pax Domini

Quando minha voz embargar,
Permita-me louvá-lo em espírito,
Pois sois tão bom e confortador,
Que em sua paz posso eu repousar.

Quero ter um coração contrito,
E a luz de seu Espírito Consolador.
Em seus caminhos quero poder andar
Para acalmar meu coração aflito. 

Deus Pai nosso Senhor, 
Sob sua misericórdia quero me abrigar, 
Rogando o perdão de meus delitos,
Pela graça de Jesus Cristo Redentor.

Amém.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Procrastinador

Havia um homem
Que podia sempre  procrastinar a morte.
De tanta procrastinação,
Morreu de tédio o coitado.

Fabiano Favretto

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Deixa fluir

Fui prender a ideia
Antes que ela fugisse,
E acabei matando-a.

Fabiano Favretto

Esquiva-se

Para algumas coisas sempre é tarde demais, e para outras sempre ainda é cedo. 
O tempo tem sua própria maneira de esquivar-se de nossa percepção.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Girafinha

Para Suelen

Eu namoro uma girafinha.
Ela não é grandona
E nem tem longo pescoço;
Mas é uma gracinha
Quando fica mandona
E do sorriso só sobra esboço.

Ela não é amarela,
Não tem cascos
E nem manchas.
Mas como é bela,
De olhos vastos,
Brilho que avalancha.

De grande doçura,
Mente elevada
E tato sereno,
É a minha cura
É a minha amada
É meu amor pleno.

Fabiano Favretto

Ambiguidade

Adoro a ambiguidade
Assim como adoro encruzilhadas:
Cada sentido tomado leva
À um novo lugar.

Fabiano Favretto

Ser

Poeta:
Ser de poesia.

Fabiano Favretto