segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Laudo

Outubro
Como qualquer mês
Soturno,
Me fez sofrer
Outra vez.

Fabiano Favretto

Embaçada visão

Só de ver a foto,
Meu coração se parte.
Antes que meu coração infarte
Quais os verdadeiros fatos?

Não compre a melhor camisa,
Não beba, não fume.
Pare no semáforo.

Obedecemos à uma luz vermelha.
Me falaram que amarelo significa

Atenção.
Sempre ignorei.
Não vire à direita,
Não fale alto,
Não dance,
Não pise na grama.
Não olhe os anúncios nos jornais.
Mas afinal o que é real?

Não beije,
Não transe.
Pecado.
Não sinta prazer.

Penitência de mim mesmo,
O inferno corre em minhas veias.
Como poderei salvar-me
Perante à minha própria ausência?

Meu coração se parte,
Somente ao ver a foto.
Se parte. Se arrebentam
Os membros
Deste corpo que padece
Ao simples motivo
De minha
Embaçada visão.

Fabiano Favretto

sábado, 29 de outubro de 2016

Pensamento no elevador


Deveria dar vazão
Às coisas do coração,

Ou conter a emoção
E viver com razão?

Fabiano Favretto

Eu e minha gula

Ela se derretia como manteiga,
Mordia os lábios como torrões de açúcar.
Dobrava a esquina de forma doce
Com um gingado muito bem temperado.

Fabiano Favretto

De estar alheio à culpa

Eu colocaria a culpa no vinho,
Ou no demônio a responsabilidade
Para não encarar sozinho
Essa dura tristeza - a realidade.

Me afastaria de qualquer coisa
Que pusesse em xeque minha posição:
De correto, ético, qualquer coisa
Que me fizesse optar pelo sim ou não.

Eu colocaria a culpa
No meu colega ou vizinho,
E depois pediria desculpa.

Me sinto muito sozinho,
Esta pele quem usurpa
É um covarde mesquinho.

Fabiano Favretto



terça-feira, 25 de outubro de 2016

Silêncio e escuridão

Silêncio, noite escura;
O tempo lá fora é úmido.
Acabara de cair a chuva,
E eu não deveria ter saído.

Na trilha entre altas árvores,
Angustiado e sozinho,
Entremeio à galhos cadáveres
Comecei a falar baixinho.

Uma prece que me fugia,
Por entre os dentes escapava,
E ao ar frio fumaça fazia
Ao passo que à luz da lua iluminava.

Era eu mesmo, e somente
Os meus passos eu ouvia
Naquela trilha novamente
A escuridão surgia.

E assim apressei meu passo
E a escuridão me perseguia,
Em ritmo de mórbido compasso
Forjando uma parede esguia.

Mas eis que a primeira curva
Surge em meu estreito caminho,
E minha pele, agora turva
Sente que posso não estar sozinho

Andando desconfortado e receoso,
Olhava em todas as direções.
Era sombriamente jocoso
Meu estado de preocupações

Mas aos poucos eu fui andando
E a curva eu fui vencendo;
A curva foi acabando
E acabei prevalecendo.

A curva em seu fim deixou-me
Acessar a estrada principal,
Mas o poste da rua apagou-se
Fazendo-me quase passar mal

Na deserta estrada eu me encontrava,
E isso me deixou desesperado,
Temendo o mal que me faltava
Chegar agora neste estado.

A escuridão e o silêncio deixaram
O ritmo de minha respiração.
Fatigantes, meus olhos enxergaram
O que não existia até então:

Vi deitado na estrada, silhueta familiar
Vi a mim mesmo ao chão caído
E então de vez faltou-me o ar:
Da estrada eu havia saído,

Uma luz começa a brilhar.
Não havia frio, nem mais escuro,
Algo impossível de ditar
Devo voltar por caminho seguro.

E ao não seguir esta luz,
Andando em direção oposta,
Há algo que novamente me conduz,
À escuridão, ainda sem resposta.

Fabiano Favretto




Soneto encharcado

Se a chuva molhar,
Deixa que molhe!
Pois quando chove,
Algo haverá de mudar.

Mesmo que possa esfriar,
As roupas se molhem
E as lágrimas escapem,
A chuva haverá de passar.

Como a chuva seria
Sem o tato da pele?
Não mais haveria

Uma dor que expele,
Nem em nós caberia
Um amor que impele.

Fabiano Favretto


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Mil livros

Tanto de você não sei,
Que poderia escrever
Mil livros
Cheios de incertezas.


Fabiano Favretto

Humor vítreo

Humor vítreo
Tão translúcido
Em seus olhos
Quanto o gelo
Sólido
De teu coração.

Fabiano Favretto

sábado, 22 de outubro de 2016

Para ouvir hoje



Minto as horas

9 minutos para 16:30.
Minto.
São 6 para
Daqui a pouco.

Fabiano Favretto

Deixado de lado

Eram tantos sorrisos,
E nenhum para mim.

Fabiano Favretto

Criação suprema

Uma rosa
Linda
Com cheiro
De café.

Fabiano Favretto

Caso de vaidade

Tenho saudades
De um dia te conhecer.
Caso de vaidade;
Um dia, você irei ter.

Fabiano Favretto

Até agora

Estou pensando no tempo,
E me perguntando
Se vivi
Todos esses dias.


Fabiano Favretto

Mas ajudaria um pouco

Não se precipite!
O lenço esquecido
Não curaria seu problema
De rinite!

Fabiano Favretto

Respondendo: claro que serve!

Poesia
Seria,
E serviria
Para algo
Senão somente
Desabafar?

Fabiano Favretto

Passos para tentar conquistar a garçonete bonita *

1 - Verificar se ela usa aliança;
2 - Quando ela olhar em sua direção, olhar no fundo dos olhos dela e sorrir;
3 - Caso o passo 2 seja efetivo (retribuído), escreva uma poesia;
4 - Não esqueça de deixar seu número de celular abaixo da poesia;
5 - Cuide para que na hora de sair ela quem vá até sua mesa. Deixe a poesia debaixo do pires do café;
6 - Espere mensagem no whatsapp.


* Resultados variáveis (e por sua conta e risco!).
E ah, no título está escrito TENTAR!

Fabiano Favretto

A partir disto, deduz-se que...

A poesia tem sido para mim
Sinônimo de solidão:
Vivo algo chamado
Poesia existencial.

Fabiano Favretto

Sobe, ou desce?

Não sei se procuro
Uma escadaria
Ao teu céu, imensidão,
Ou se procuro
Uma rodovia
À tua plena devassidão.

Fabiano Favretto

Da palavra admiração

Mesmo sendo dia,
E eu estando
Incrivelmente sóbrio,
Você continua bela.

Fabiano Favretto

Coisa de pirado

A inspiração
Não vem,
Mas as piração
Já tem.

Fabiano Favretto

Café esperto

Café esperto,
E eu até gostaria
De ter você
Por perto.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A poda

Pode os galhos,
A seiva escorrerá dos olhos
E cairá junto às folhas.
Brotarão somente lamentos.

Fabiano Favretto

sábado, 15 de outubro de 2016

Amor desencarnado

Princesa das águas,
Ofélia,
Leva com sua vida
Todo o meu amor
Desencarnado.

Fabiano Favretto

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4f/Ophelia_1894.jpg

Não poderia estar melhor

Quando me perguntam
Se estou bem,
Eu minto e sorrio:
- Não poderia estar melhor.

Mas em cada sorriso dado,
Meu coração se contrai de dor.
É uma ironia tão grande
Sorrir na falta de um amor.

Minhas vísceras se contorcem
Como correntes enroladas,
Protegendo esse fatídico músculo
De toda a dura realidade.

Continuarei sorrindo,
Mas meu vazio interior
Continuará crescendo
Dividindo espaço com a dor.

Estarei bem na medida do possível,
E estarei sorrindo.
Só não repare em meus olhos,
Ao fundo deles estarei chorando.

Mas quando me perguntam
Se estou bem,
Eu minto e sorrio:
- Não poderia estar melhor.

Fabiano Favretto

Nostalgia d'amore

Faço-me de forte
E finjo que não ligo.
Em cada dia um novo corte
Aqui dentro comigo.

Tento afastar estes pensamentos,
As lembranças de tempos bons;
Mas tu me vêm a cada momento
Junto com os mais belos sons.

Mesmo que eu fuja de mim,
Mesmo que não tente te encontrar,
Quem sabe este amor é sem fim.
Antes, mais fácil minha vida acabar.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Eu Palhaço Fracasso

Ei todos vocês!
Venham admirar o meu fracasso!
Venham ver este ser ignóbil,
Patético e esperançoso.
Pobre coitado,
Mal aguenta o peso
Sobre as suas pernas...
Seu peso constituído de responsabilidades!
Mal pode ele, coitado, sustentar
Uma afirmação sem cair
Em redundante contradição.
O espetáculo é gratuito,
Venham apreciar
E deleitar-se com a desgraça alheia,
E gozar-se com a infelicidade minha.
Ei todos vocês!
Venham admirar o meu fracasso!

Fabiano Favretto

Quarta feira, 19:53

Mundo
Imundo.
Vasto mundo imundo.
Imundo, inundo
Vasto mundo
De sujeira
E desolação.

Fabiano Favretto

Vendo meus sonhos!

Vendo meus sonhos!
Alguns em bom estado,
Outros bem gastos,
Mas possíveis de serem sonhados.

Vendo à preço de custo.
Carregam ainda a essência,
E ainda repletos de toda a ciência.
Alguns foram sonhados no susto.

O motivo de desfazer-me
De todos os sonhos meus,
É que estou a desacreditar-me

De todo sonho que nasceu.
Partido não mais tomarei
De todo sonho que é meu.

Fabiano Favretto

Na solidão, companhia

Porque a solidão
Não vem sozinha;
Traz consigo os fantasmas
Que assombram-me
Noite e dia:
Dor, angustia e desespero,
Minhas esternas 
Companheiras de copo.

Fabiano Favretto

Voar

Voar
É quando ignoramos a gravidade
E caímos para cima.

Fabiano Favretto


terça-feira, 11 de outubro de 2016

16 e uns trocados

Desencanta,
Fabiano
Vê se desencana.

Fabiano Favretto

Perfeição (perversão)

Perfeição,
Tudo o que é escatológico
E me causa repugnância.
Perfeição,
Todos os dados metodológicos
Repletos de arrogância.
Perfeição
Tudo o que é ilógico,
Locus da petulância.
Perfeição,
Tudo o que me provoca
A deliciosa perversão.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Bom para treinar caligrafia

Quanto mais escrevo,
Mais linhas em branco
O meu eu adquire.

Fabiano Favretto

Transcrição de PH

Escreverei
Poesia bilíngue
Transcrevendo
A minha língua
Na sua.

Fabiano Favretto

Penetração

Penetrei no céu
Gozando do esplendor
De todas as estrelas.

Fabiano Favretto

Vincent

Trigal com corvos,
Alma com engôdos
E o céu sombrio.
O dourado do trigo
É mínimo fronte
Ao fim logo adiante.

Fabiano Favretto

Índio, quando terá?

O índio que hoje figura,
Não é o mesmo do descobrimento;
Vivem agora sem alento,
E sem qualquer estrutura.

Antes não tivessem chegado,
E nem aos índios dado presentes.
Trouxeram pragas, ficaram doentes
E seu povo foi dizimado.

Que saudades daqueles tempos,
Onde se figurava a liberdade!
A natureza dava contentos

E entre si havia igualdade.
Hoje há somente lamentos
Índio, quando terá dignidade?

Fabiano Favretto

domingo, 9 de outubro de 2016

O tema sou eu

Conto piadas;
Todas com finais tristes.

Fabiano Favretto

Fim

Plantei unhas
Na terra,
Carne,
Ao cavar
O meu próprio
Fim.

Fabiano Favretto

Só para!

Uma cadeira com paraquedas,
Uma tigela com parapentes.
Uma serpente com para-choques
Uma TV com parapeito.
Uma curva com paralelos,
Um tijolo com para-brisa.
Uma vida com para-raios
Uma dor com parafusos.

Fabiano Favretto

Isto não quer dizer absolutamente nada

Garboso desabafo,
E impetuoso embaraço.
Cá estou eu a escrever,
E a transcrever
Sentido em rimas,
Solvido em linhas.

Fabiano Favretto

Pequenas grandes coisas

Chá matutino,
E cheiro de cravo;
Sol pequenino
À puxar a manhã.

Fabiano Favretto

Termômetro

Poesia quente,
Coração gelado.

Fabiano Favretto

Estímulo

O seu cheiro
Ainda perfuma
A ponta
Dos meus dedos.

Fabiano Favretto

Sem tempo

A correria
Mata a poesia.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Qual a trilha

Nesses cachinhos
Queria me perder,
Para apenas 
Um caminho
Eu empreender.
E pensei comigo,
Agora, coisa louca:
Qual a trilha
Que me leva
Até a tua boca?

Fabiano Favretto

E a esperança ficou por lá

Levei o bloco de notas,
Mas o que voltou
Foram apenas as páginas
Vazias.

Fabiano Favretto

Brio

Não existe primavera:
Tudo é triste e frio.
As flores, quem me dera,
Não perdessem o seu brio.

Fabiano Favretto

Depois de setembro

Na primavera
Não há amor:
Há quimera
Em flores de dor.


Fabiano Favretto

Buracos no tempo e espaço

Esquecendo esse amor
Encherei minha história
De anacronismos.

Fabiano Favretto

Será que sabe?

Ela deve saber que dela gosto,
Mas não é mais setembro
E nem é mais agosto;
Pelo menos não me lembro

Ter olhado naqueles olhos,
Ter tocado n'aquela pele.
Foram dois grandes abraços
E aquela vontade que impele.

Conversamos mais de meia hora,
Falamos de tudo um pouco.
Mas falamos menos de uma hora.
Saudade me deixará louco.

E agora em casa,
Chateado, triste e comovido,
Não há nada que me faça
Sair deste estado iludido.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Reversão

Troque o sim pelo não,
E meta os pés pelas mãos.

Fabiano Favretto

Soneto da incerteza

Tu não sabes que te quero,
E tanto, como aquela vez
Que em meus braços tu se fez
Por um instante eterno.

Te desejo tanto tanto,
Que o seu perfume sinto.
Mesmo longe, não minto,
Lembro-me do teu encanto

Queria te beijar,
Em um ato de surpresa;
Mas estou a suspirar

E repleto de incertezas:
Quando tu me olhar,
Devo resistir  à sua beleza?

Fabiano Favretto

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Guerra contra mim

Guerra contra mim
Que eu mesmo irei travar:
Não sei se irei ganhar
Ou quando terá fim.

Será difícil suportar
As explosões em meu peito,
Mas caso aguente, ajeito
Uma forma de me curar.

Não haverá mais defeito
Nem precisarei de munição,
Pois darei um jeito

De acalmar meu coração.
Paz aqui terá efeito:
Vai aliviar toda a tensão.

Fabiano Favretto

Opinião

Concorda ou discórdia?

Fabiano Favretto

Ou se fazer de otário

Vamos escrever ausência
E esquecer da essência
Ou fazer o contrário;
Escrever a essência
E esquecer da ausência
Ou se fazer de otário.

Fabiano Favretto

E se fosse

Solidão,
Palavra no aumentativo.
E se fosse saudade normal,
Ou saudadinha
No diminutivo?
Não e não.


Fabiano Favretto

Nesta ponte que cai

A solidão, quem imaginaria,
Antes esta me desolava,
Agora até acho que agrada.
Vem se tornando uma amiga.

A solidão, eu não imaginava
Que é amar ou ser amado,
Ser doce, ser amargo
Não amarei como eu amava.

A solidão que não vai,
E eu que não ficarei
Nesta ponte que cai

Sozinho terminarei.
Meu grito não sai,
Sozinho eu morrerei?

Fabiano Favretto