quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Remas

Se o poeta 
Não remasse
Bote 
Com 
Vontade,
A poesia
Estaria
À deriva.

Fabiano Favretto

chumbens

As nuvens de chumbo que flutuam
Como que em correntes poucas e espaçadas
Não chovem, não se movem, não se acabam
Apenas carregam as cinzas que outrora foram vidas

Fabiano Favretto

Axiomas

Nossos planos
Tem infinitos pontos
Em comum

Fabiano Favretto

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Problemas e fitas

A música da vida 

É do cacete!

Foda que às vezes

A vida enrosca

No cabeçote.

Fabiano Favretto



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Falta de revisão

Às vezes a preguiça

Enguiça

E faço ela pegar no trampo.

Fabiano Favretto

sonil

Vinil

Porque

O som

Do céu

Não é

Anil.


Fabiano Favretto

Na finitude
Uma palavra:

Só.

Fabiano Favretto


Fio sem sopro

Sou afiado

E desafinado:

Sou melhor como 

Faca

Do que como 

Flauta.


Fabiano Favretto

Sugestão

Sugeri que eu parasse de fazer sugestões,
E eles falaram que não,
Que continuariam ignorando-as.

Fabiano Favretto

SZ

Prazer se fosse
Com "S"
Era pra ser.

Fabiano Favretto

Sem graça

Circo,

Num círculo

A lona,

E longe

A grade,

Um rugido,

Um leão.


Circo,

Num grito

A cena

De sangue:

Coitado,

O palhaço

Oh, não!


Fabiano Favretto


Círculo vicioso

Eu achava estar andando em círculos,

Eu andava estar achando em círculos.

Eu estava circular achando em andar;

Eu circulava, achar andando em estar.


Fabiano Favretto

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Nem

Nem fui

E logo vim.

Nem viu

E logo fim.


Fabiano Favretto

Ida

Para a mãe de meu amigo Danilo


Da simplicidade de uma mulher que se doa,

À força de uma mulher que luta,

E seus quatro filhos, criados com bravura

Sabem a força que sua imagem entoa.


Os gestos grandiosos nem sempre são os que se notam:

A convivência era fácil, o trabalho simples, e a coragem, grande.

Das mãos que trabalharam tanto, tirou-se um sustento abrangente,

Não de simples dinheiro, mas de valores que nos tocam.


Mas sabe-se que os bons fazem as caminhadas mais curtas,

E quando esta estrada finda-se, nos resta lembrar-nos do caminho.

Em alguma estrada dessa vida (ou morte) tão curva,


Haverá um bonito reencontro, e seu sorriso será mais uma vez contemplado.

Tu reside agora na memória de quem te ama,

Pois foi exemplo de força, dedicação: exemplo eterno a ser recordado.


Fabiano Favretto

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Arrebatamento do calor

O céu está se abrindo,

E das nuvens vem a mensagem:

"Chegará o fim".

Mortos se levantarão,

Pobres e ricos serão iguais.

Todos se encontrarão

Na barraquinha de caldo de cana

Do Seu Zé.


Fabiano Favretto

Faturas

No fio de luz,

Um passarinho.

No poste,

Um gato.

No talão,

Uma multa.


Fabiano Favretto

Porco-espinho

Prefiro pensar

Que o porco-espinho

É uma viva

Almofada de agulhas.


Fabiano Favretto

Tempo ácido

O tempo é uma laranja!

É flor antes do nascimento,

E depois, durante a vida

Vai sendo descascada.

Repartem-se assim, os gomos:

Cítricos ou adocicados.

Retiradas ou não as sementes,

Cabe a cada um de nós

Decidir plantá-las.

Ao final, resta um bagaço,

Composto de fibras:

Um miolo rejeitado

A decompor-se

Em mais nada.


Fabiano Favretto

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Rigor Mortis I

1 - O violeiro

Na vida o que tudo começa,
Hora ou outra terá fim.
A morte sempre tem pressa,
Mas isso nem sempre é ruim:

O violeiro que mal vivia
Buscou na morte a solução,
Vendo que a vida o iludia
Achou melhor encarar o caixão.

Até a encruzilhada andou
Com a corda e um plano,
Visto que nada alcançou
No que buscou naquele ano.

Ao pé da árvore chegou
Com obstinação e malevolência:
A corda na árvore amarrou
Tão forte como sua decadência.

Com pedras e madeiras fez
O altar para sua execução:
Sentiu uma fraqueza talvez,
Pois sentia tremer suas mãos.

Subiu no rude apoio,
E enlaçou no pescoço a corda.
Separava assim o trigo do joio,
Após passar do apoio, a borda.

2 - A morte

A corda esticou subitamente,
E assim suas vistas escureceram.
Debatia-se no ar loucamente,
Seus arrependimentos apareceram.

Devagar os sentidos se foram
E não sentia mais suas pernas.
Os seus braços não o ajudaram,
A dor não foi mais uma fera.

Seus pensamentos se esvaiam
Mas não esquecia do preço,
Pois as culpas não saíam:
Apareciam do começo.

Achou força onde não tinha,
Mas nada foi suficiente.
O remorso que agora vinha
O apunhalou de maneira tangente.

Rogou a Deus e aos anjos,
Mas ninguém ouviu seu chamado.
Rogou em seu último folego:
Resolveu chamar o Diabo.

A corda antes esticada,
Num estalo seco arrebentou,
Caindo ao chão em pancada
O violeiro vivo ficou.

3 - O Diabo

Quase inconsciente com a queda,
O violeiro ainda não entendia
Que aquilo que ocorreu era
Uma segunda chance, ele vivia.

Com os olhos semicerrados
Viu uma figura que não compreendeu:
Dois grandes cascos de cavalo,
Nessa hora o violeiro estremeceu.

Levantando com dificuldade
Colocou-se de pé minimamente,
E viu que aquilo na verdade
Chegou a chacoalhar sua mente.

Com a voz muito apertada
Se questionou da figura ao seu lado.
Lembrou-se da própria cilada,
De ter chamado o Diabo.

Estava com medo o violeiro
Por aquilo que havia enxergado,
E na sua cabeça ainda nevoeiro
Queria o Diabo não ter chamado.

Com um sorriso no rosto
Apresentou-se a ele a figura
E assim com muito gosto
Falava ao violeiro com desenvoltura:

4 - O Pacto

"Eu sou os números que não chegam,
E sou o filho que nunca virá,
Eu sou as flores que não desabrocham
Eu sou o oposto de Javé e Alá.

Vim aqui para poupar-te
Pois a mim foi recorrido,
Mas agora prepara-te,
Tens contas a ver comigo.

Toda fera que na Terra habita
E que vão além da humana visão,
Irá tu vê-las, agora, acredita,
Pois haverá de busca-las então.

Estas feras ao mundo lançadas,
Fazem parte do meu panteão,
Deverá tu violeiro, aprisioná-las
Durante 66 anos de antemão."

O violeiro quis negar-se
Mas o Diabo o ameaçou:
"Obedeça ou mostro a minha face
E levar tua alma ao inferno vou.

Toma pois esta profana viola,
E toca quando ver o sinal,
Será a forma que tu tens agora
De sobreviver os dias afinal."

5 - O trabalho

Num lâmpido estalo o Diabo sumiu
E o violeiro sozinho ficou.
Um pavoroso medo ele sentiu
Quando na viola uma nota tocou.

Sua visão se abriu
E tudo o que avistava mudou.
O que enxergava era vil
E preocupado com isso ficou.

Surgiu da estrada de repente
Uma besta com jeito equino,
Mas a estrutura mostrou-se diferente:
Não possuía cabeça, era algo maligno. 

Em direção ao violeiro correu
Batendo os cascos afiados no chão,
O violeiro então se apercebeu
De que tratava-se de uma fera do panteão.

Desviou da besta como num relance
E esbaforido perdeu o chapéu,
Chegou a besta novamente ao seu alcance,
E seu medo rasgou como um véu.

Vendo a fera a ele chegando,
A viola no colo empunhou,
E com um toque profano tocando
A besta que corria ao seu pé findou.

6 - A viola

Admirou-se com o fato
De ter tocado tamanha melodia,
E que com o decorrer do ato
A besta então mataria.

Com a viola em mãos sentiu-se forte,
E tal instrumento era uma arma.
Poderia ele então fugir da morte
Ou condenaria assim sua alma?

Percebeu que a viola em questão,
Havia derrubado um monstro terrível.
Ainda pensou se não era imaginação,
Pois sentia-se então invencível.

Ao abaixar-se para pegar o chapéu,
Viu subitamente um enorme clarão.
A besta que a pouco morreu
Em fogo consumiu-se no chão.

No lugar da mesma apareceu uma moeda,
Que após esfriar foi tomada pelo violeiro.
Soube ele que com isso pagaria a divida
Do trabalho que recebeu do Carniceiro.

No paletó xadrez guardou a moeda,
E a corda que no pescoço estava retirou.
Olhou para todos os lados da estrada
E rumo a cidade o violeiro andou.

Fabiano Favretto




sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Razões

Tenho tantas razões para o amor

Que nem sequer lembro que um dia já tinha desistido.

O que se planta, um dia será colhido

E o que plantei era mais belo que uma flor.


É fato que nossos caminhos se cruzaram por acaso,

Mas toda estrada se conecta à outra em algum ponto.

Seria tolice de minha parte deixar o destino como contra-ponto,

Sendo que ambos buscávamos algo além do raso.


E em você encontrei bons motivos

Que despertaram minha força e coragem,

Sim estes eram sentimentos em mim nativos,


Mas que tão ocultos, e quase por bobagem

Se perderiam. Tu os fez agora, cativos,

Mas, no entanto, livres em minha vida, paisagem.


Fabiano Favretto

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Beco

Do tilintar da chuva nas folhas,
Se ouve também o sapo no beco.
Paira no ar uma dúvida: Seria um eco
Ou seria na água o subir das bolhas?


Fabiano Favretto

Entre prateleiras

Estava morto.
Morto entre garrafas de cerveja
E caixas de papelão.
Sobre ele, guarda-sóis armados,
Verdes e armados,
Privando olhares mais curiosos.
E as pessoas seguiam suas vidas:
O preço dos legumes subiu!
Pague dois, leve três.
E no chão frio,
Imóvel o homem continuava.
Ouvi dizer que era fiscal,
O nome dele não sei.
E as pessoas continuaram
Com seus carrinhos
Cheios de produtos
Que para aquele homem
Não fazem mais sentido.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

súplica

 A poesia é o único recurso

Antes das balas, depois da angústia:

Esvazia-se o tambor de palavras

Numa última oração de súplica.

Rima-se a dor de alguma maneira

Que faça o autor enganar-se

Propositalmente.

E nem é um recurso tão bom.


Fabiano Favretto

O mundo não se vale

O mundo não vale o peso do mundo!

Há tanto sangue derramado

Tanta luta vã - de tanto lado errado

Que do poço não vejo chegar o fundo.


Minhas mãos estão ressecadas

Como galhos de árvores no inverno.

Meu peito tem um barulho eterno

De guerras diariamente travadas.


O mundo não vale o mundo

E nem sei porque mais me preocupo.

A mim mesmo, sim, a mim culpo

Mas não tanto lá no fundo.


O mundo não se vale, meu Deus!

Porque eu tanto nisso me atenho?

Queria tando do mundo ter desdenho

Ao passo que assim mato sonhos meus.

Fabiano Favretto


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Deus vult!

A ignorância de certas figuras
Não mais me surpreende!
Há quem se diz filósofo e defende
O geocentrismo, uma loucura!

E os terraplanistas então?
Acenderão piras em praça pública,
E queimarão rivais de forma cínica
Em uma nova inquisição.

Marcharão defendendo a morte:
Deus vult! Uma nova cruzada.
Colocarão a justiça à própria sorte,

Usando de preconceitos e má fé enraizada.
Farão das falácias do líder um aporte:
Darão fim ao que resta desta terra machucada.

Fabiano Favretto

sábado, 1 de agosto de 2020

Embalo

Tomei conhaque, e o que mais me falta?
Eu estou entediado, e esse tédio me corrói,
Assim como esse tempo ocioso que me mata!
A falta do que fazer (o que eu quero) me dói,

Mesmo estando em frente à interfaces digitais.
É um complexo, constante e eterno nó,
Que ultrapassa as visões superficiais
Resultando somente em mim o pó.

Sim, o ócio me mata,
Assim como essa tarde de sábado,
Que sordidamente se arrasta.

Quero minha vida novamente,
Quero da vida o embalo,
Movimento, alto e constante.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 29 de julho de 2020

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Maior

Queria escrever um poema maior,
Maior que a minha vida, e quem sabe
Um poema que em mim não cabe
E que se iguale quão e totalmente ao amor.

A vida é tão obstinadamente necessária
Que me pergunto se vivo ou escrevo:
É a vida que nestes versos descrevo?
A vida não é metrada e menos ainda, ordinária.

Que as palavras venham então
Como me vêm os dias!
Sem pressa, mas sem resignação;

Sem momentos que sejam alheios
À verdade, à esperança e à luta,
Que sejam versos e instantes verdadeiros.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Memória curta

Que triste passado enganoso
De uma sociedade sem memória:
O silêncio é a pior das mentiras
E esconde um passado vergonhoso.

Fabiano Favretto

domingo, 19 de julho de 2020

Ba(o)sta!

Me sinto impotente,
Me sinto de mãos atadas.
Como sentir-se contente
Se as formas certas 
São consideradas erradas?

E os pés que tocam esta terra,
Já não sentem mais o prazer
Nem o orgulho que outrora sentira:
Agora não há mais o que fazer
Nesta terra que regada
Com sangue de inocentes sido havia!

E a besta, de poder mau e delirante
Apoiado em seu rebanho cego
(Cego e na maldade confiante)
Avança por todo instante
Deixando a morte, um rastro eterno.

A pílula profana, semente da discórdia
Plantada na incerteza e regada em desculpas,
Tem sido consagrada em rituais mentirosos:
Uma hóstia herege de escárnio e ódio
Neste culto ao fim dos tempos.

E como poderia eu viver sem pesar?
Poderia na ignorância achar um conforto,
Ou mesmo abrigo na recusa à realidade...
Estaria eu menos absorto em lutas vãs,
Ou mesmo menos preocupado de verdade.

Fosse hoje a liberdade e a honestidade
Outras formas não válidas de encontrar
Rotas que levem à bondade,
Aqui deveras teríamos perdido a luta.

Bastaria um pouco de empatia,
Ou mesmo um pouco de percepção
Levados ao tato, olhos e ouvidos.
Só assim talvez, de antemão,
Outra vez, com paciência e foco:
Na batalha contra a besta medíocre
Adjunta de sua prole imunda de corrupção,
Romperíamos esse ciclo de ódio
Onde todo mal deste país persiste.

Fabiano Favretto



quinta-feira, 16 de julho de 2020

Defensivos

Vou comprar orgânicos
Ouvindo mutantes.
Sem defensivos,
Sem sinto de segurança.
Vou comprar não-mutantes
E ouvir sons orgânicos
Defendendo os ouvidos
Sem senso de perigo.

Fabiano Favretto

Mas nem tanto

Na quina
Da quadrada
Lombada
Da esquina,
O canto
Paralelo
É amarelo
Mas nem tanto.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Pixe

Poesia
Tapa-buraco:
Gruda até
Na sola
Do sapato.

Fabiano Favretto

Maré

Para Karoline

Minhas poesias são grão de areia na praia de tua existência.

Fabiano Favretto

De

De coque
De seio
De fora;
De cócoras
Desenho
De croqui.
De ver
Delacroix,
Dejavú e
Desenxabi.

Fabiano Favretto

Eu sabia

Seguindo o meu eu no passado,
Encontrei-me comigo mesmo no presente.
Meu relatório de investigação apontou
Que no passado eu era eu,
Mas que agora no presente
Eu ainda sou.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Escrever um poema

Fui escrever um poema
Sobre esquecimento,
Mas havia me esquecido
Que não sabia escrever.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Veios do tempo

Para Karoline

Dos 28 dias que deste mês correram,
Digo que pelo menos 28 deles eu te amei,
E no vigésimo nono dia, dia que hoje acordei
Cresce em mim a vontade de teus lábios que amam.

Dos 27 anos que já vivi, jamais eu havia de esperar
Que nos meses que foram me tirados por engano
Poderia eu antes do vigésimo oitavo ano
Encontrar alguém tão sublime para amar.

Durante os anos que nos restam eu espero poder te dizer
Em toda manhã, tarde e noite que te amo:
Quero te mostrar que este amor que declamo
Vem sendo nos veios do tempo, a seiva doce de viver.

Fabiano Favretto

terça-feira, 23 de junho de 2020

Ônibus

Pensamento individual,
Sofrimento coletivo.

Fabiano Favretto

Acabou o papel

Entre amor
E poesia,
Me tragam por favor,
Caneta e papel.
Fabiano Favretto

Gados de corte

Matam e morrem
À própria sorte.
Gritam e urram
Os gados de corte.

Fabiano Favretto

Tom acima

Girafa
Um tom acima:
Girassol.
Fabiano Favretto

Viola Cebolão

La viola
Mi Fá desfeita:
Si Mi espia,
Não tem nem Dó.
Nem com Sol que vai
Sustenido,
Nem com Si da lua, oitavada:
Vai
Mi abrindo
As notas do peito.

Fabiano Favretto

Alimentar

Chega o Whatson pro Scherlock e pergunta:
- Do que esse homem morreu?
- Intoxicação!
- Mas que tipo de intoxicação?
- Alimentar, meu caro Whatson

Fabiano Favretto

Não sou todo mundo?

Diferente dos diferentes,
Sou igual a todo mundo

Fabiano Favretto

Vou aprender teimando

Ora, Deus dá o talento 
A quem melhor o aproveita,
E só não me deu o dom da escultura
Por capricho ou simplesmente marra:
Saberia que com muito intento
Faria obra que seria eleita
Como uma criação D'ele, à altura:
Ao esculpir essa mulher, Ele seguraria a barra
De poder mostrar a beleza em contento
Que pude dar vida à uma pedra feita
Para ser apenas matéria simples, mas pura
E a ela dar valor ao nível que a obra dele esbarra.

Fabiano Favretto

M e ca's

Murro em ponta de faca,
Muros afiados de estacas,
Morros repletos de placas
Morro se a carne é fraca.

Fabiano Favretto

Para Karol

olhos tão puros,
as folhas já caindo
dança o casal

Fabiano Favretto

Mão inglesa

Mão inglesa
Sentido único:
Ambidestra.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Sexta preguiçosa

A sexta acordou tão preguiçosa!
Preguiçosa não seria essa sexta-feira
Se eu tivesse acordado da canseira
Da noite com meu bem, maravilhosa.

Eu acordaria tão disposto,
Que pensaria em mudar o planeta,
Trocaria cedo o café pela caneta
E faria planos até agosto.

Mas acordei sozinho, sem ela
E estava frio e o dia ainda nascia,
Devagar, a luz invadia pela janela.

A preguiça crescia, crescia
E a flor que é amarela
Mais corajosa que eu parecia.

Fabiano Favretto

domingo, 14 de junho de 2020

A sorte de um amor tranquilo

Para Karoline, que fez eu entender a sorte de um amor tranquilo.

Da maneira que deve ser,
Sem um ritmo arbitrário,
Nosso amor é o contrário
Do que costuma acontecer.

Eu dizia que não me apaixonaria novamente,
Mas o fato é que foi uma grande sorte,
E a vontade de viver agora me afasta da morte:
Esse amor me foi dado naturalmente.

É um amor tranquilo que me faz ver o tempo
Como uma base para um deleite puro,
Fazendo cada momento derrubar muros
Que não caíam nem mesmo com o mais forte vento.

E da maneira que tem caminhado esse amor,
No tempo próprio, de modo paciencioso
Tem me feito abater o sentimento receoso
E ver na vida o desabrochar da flor.

A sorte de um amor tranquilo, vou viver:
Nem no jogo teria eu acertado tanto!
A cada minuto é um novo encanto
Da maneira que deve ser.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Tempo presente

Caiu sobre mim todo o peso da realidade
De que sonhar é importante, mas não necessário,
E menos obstante, observar o agora ordinário
Se faz mais relevante do que pensar na posteridade.

Não digo isso de uma forma para o coletivo,
E menos ainda que não estou a pensar nos seres humanos,
Mas é que vejam bem, já me foram vários anos
Em que aos meus problemas não apliquei corretivo.

Quanto tempo eu esqueci de viver,
E os lampejos divinos de inspiração não aproveitei:
Nesta estiagem de ideias, este solo que plantei
Está a mercê do tempo, do insight, se chover.

Mas o agora é mais importante que o passado,
E em minha memória estou gravando o tempo corrente,
Não, eu não pensarei somente no tempo presente,
Mas prestarei atenção em tudo o que não me foi mostrado.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Multiversos

Tuas mãos são pontes que atravessam rios,
Ligando margens silenciosas de matéria etérea,
Mas que distantes, encaixadas em outras eras
Mostram quanto um universo não deve ficar vazio.

Teus olhos são poços d'água mais pura,
Mas tão profundos que o vítreo se torna castanho.
Nestes olhos, vejo um sentimento tamanho:
Há um quê de muro, e em suma, doçura.
 
Do abraço que senti, como uma fusão de supernovas,
Mil sóis se abriram de repente em meu peito.
Girassóis também floresceram à toda prova,

Mostrando que constelações podem ser meu leito.
Sentindo toda as explosões cósmicas de teu beijo,
Posso dizer estar feliz nas nuvens quando me deito.

Fabiano Favretto


Multiverso

domingo, 17 de maio de 2020

Velho e sábio

Estou ficando velho,
Mas estou ficando sábio?
Os sábios ainda perguntam
E eu tenho encontrado
Algumas respostas.

Fabiano Favretto

Merda de assunto

Era uma vez 3 penicos
Que todo dia conversavam
E só falavam bosta.

Fabiano Favretto

A verdade

A verdade não tem graça,
A verdade é inverno sem cobertor.
A verdade é desconfortante,
A verdade tange a pele e os ossos.
A verdade é eterna.
A verdade é empírica para aqueles que a desejam.
A verdade é verdade mesmo velada.
A verdade quando revelada se assume como sempre presente.
A verdade, é que a verdade assusta,
A verdade em verdade mata
A verdade na verdade vive.

Fabiano Favretto

A viola

A viola tem dez cordas.
Meu amor, por que me acordas?
A viola tem um braço.
Meu amor, cadê o seu abraço?
A viola é cinturada.
Meu amor, por que está preocupada?
A viola está silenciosa.
Amor, se lembra ainda daquela rosa?

Fabiano Favretto

Ávida

A vida corre, 
A vida anda.
À vida escorre
Ávida manda.

Fabiano Favretto

terça-feira, 5 de maio de 2020

Envés

Das rosas tenho gostado dos espinhos,
Das estradas, gostado dos buracos.
Da terra tenho gostado da lama,
E do luar, um céu nublado.
Estou indo contra
Tudo que é belo,
Mudando paradigmas,
Dando valor às cinzas
Ao envés de valorizar o fogo.

Fabiano Favretto

Atos

Amor é ato político,
Ódio é ato anti-democrático.
Felicidade é ato econômico
E tristeza é ato cultural.

Fabiano Favretto

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Banalização do fogo

As sombras da cidade não são suficientes.
Há mais luz do que deveria, há muita claridade.
O sol que ao meio dia sobe para punir em verdade
Queima sobre minha cabeça de modo eloquente.

Queima em mim os órgãos, vísceras,
Quilômetros de incêndios internos.
Há tanto fogo em meu peito - inferno
Que poderia queimar até a estratosfera.

E no entanto, o combustível amor
Tem queimado sem um cuidado qualquer:
Apenas queima em dessabor,

Por não ter resposta de quem ele quer.
A solidão não é mais tanto um temor,
É junto do amor, um sentimento qualquer.

Fabiano Favretto

De pá virada

Chegando em casa
Sinto cheiro de jasmim.
Seria diferente para mim,
Se não fosse madrugada.

À noite tenho frio e ansiedade,
E percebo não ter ninguém.
Muito isso me convém:
Fazer da solidão necessidade.

Mas o cheiro de jasmim um dia acaba,
E não deixarei mais florescer amor em mim.
Tento agora matar o que agora me mata:

Esse amor que sinto irei matar até o fim,
Para que a dor que agora me arremata
Não possa mais crescer neste jardim.

Fabiano Favretto

A assassinar-me

Quando eu apanhei,
Ofereci a outra face,
Mas Deus,
Em toda sua benevolência,
Por que 
Negou-me um simples olhar?
Ando agora a esmo,
E todo canto que vou
Não me sinto digno.
Não cuspi na cruz
E nunca fui má pessoa.
Negaste-me a tua face.
Deus, o que eu faço?
Sem chão,
Como poderei
Prostrar-me agora de joelhos?
Assino em meu sangue,
Não devo mais curvar-me.
Deus, como nos arautos antigos,
Por quê tenta tanto assassinar-me?

Fabiano Favretto

Qual sábado

Qual sábado este que a ti venho,
Queria ao menos dizer-te uma palavra,
Mas a palavra é como uma terra que se lavra,
E da terra, saiba que eu não desdenho.

Queria não ser um completo idiota,
E achar que apenas palavras bastariam,
Mas é por elas que meus ímpetos se criam,
E posso direcionar a ti o que me importa!

E o que me importa é o que preciso,
Poder ao menos conhecer-te,
Mas como seguir se sou indeciso?

Queria poder com calma ver-te,
E de ti tomar um tempo (digo que preciso)
Para assim poder cativar-te.

Fabiano Favretto

Colheita

Será que ela sabe que por ela escrevo?
Será que ela sabe que agora
Neste momento em meus versos a prescrevo?

Mas como saber a fórmula, a receita,
Disto do que sinto e também do que chove?
Além do mais, por eu torná-la a eleita,

Decerto o sentimento é que agora me comove.
Raio, fogo e ácido: a vida - corrupta colheita;
Sabes tu que para ti a direção de meus olhos corre.

Fabiano Favretto

Dupla personalidade

Poeta com dupla personalidade:
Uma parte minha quer rimar o ódio sem métrica,
A outra quer a métrica do amor como verdade.

E nessa linha não rimo nada com coisa alguma,
Mas nessa, meu verso fica leve como pluma.

Não me interessa a métrica e a configuração,
Escrevo uma linha para salvar a estrutura, então!

E pulo outra pra matar o estilo...
Mas eu sei que a prosa é o nosso destino!
Não mais rimarei.
Mas com esse verso a estrofe consertei.

...
Ponto final.

Fabiano Favretto

Abstinência literária e vício alcoólico

Vejo o papel turvo em minha frente,
E a caneta - instrumento do próximo milênio;
O seu complexo manuseio, precisa de um gênio
Para poder assim escrever algo diferente.

Me falta a coordenação motora,
E minha ideias morrem rápidas demais.
Poderia eu reclamar dos meus ais,
Mas me afundei na garrafa redentora.

E com essa vontade que havia de escrever,
De quando bêbado senti rapidamente surgir,
Agora sóbrio da poesia, tento transcrever.

Porém a sobriedade está a me coagir,
Para que eu possa meu vício entender:
Bebo mais poesia do que o álcool possa presumir.

Fabiano Favretto

Beleza

Estava a procura de uma definição de beleza,
Mas uma beleza não é sentida somente pela visão.
Eu explico: acontece que da beleza, à certa razão,
É de que tem de todos os sentidos uma natureza.

A beleza do tato quando duas mãos se encontram,
É que na pele o frio ou calor sentem-se próximos.
Na pele também sinto texturas, tons ásperos
Mas também maciês nas curvas que me encantam.

O olfato me traz a beleza no girassol que não te dei.
Fechamos os olhos para sentir melhor o aroma
Mas apesar da rosa amarela, que com surpresa em forma
A ti dei de coração, foi no teu perfume que me encontrei.

Os sons que me agradam são os timbres da voz:
Poderia eu ser surdo e escrever uma sinfonia,
Porém Beethoven jamais sabe (ou saberia)
Que quando você fala eu fico pensando em nós.

O paladar é o mais intrínseco dos sentidos,
Por eu estar a morrer sempre pela boca.
A morte não é bela, e a dor não é pouca
Por apenas imaginar o gosto de seus lábios lindos.

Fabiano Favretto

Para a ruiva que vi no Santidade Café terça 17/12 às 19 horas

Uma rosa despetala-se,
Um canário cai morto ao chão.
A noite vem de antemão,
E seus olhos não calam-se:

Me contam mais do que querem,
Mas dizem menos do que deviam.
Entre os dedos, meus olhos te espiam
Mas não os deixo completamente te verem.

Como és feiticeira apenas por existência,
Se nao tive coragem de te dirigir a palavra?
O ruivo cabelo de eterna permanência

Que em minhas retinas imagens grava,
Fez querer ter contigo algo além da ciência,
Algo além da imensidão como te figurava.

Fabiano Favretto

Crédito

Não me devia nada
Até me dever um beijo.
Muito credor que sou,
Cobrarei com juros.
Pena querer ser
Uma péssima pagadora.

Fabiano Favretto

Feliz ano novo

Não vejo motivos para comemorar
Um ano péssimo que passou.
Este ano nada de bom deixou,
E celebrar o fim é se conformar.

E todos fazem tantos e lindos planos
Que não se cumprirão ao decorrer dos dias,
Pelo fato de que a vida é uma alegoria
Onde sonhos não se realizam em meio aos danos.

Este dia ocidental, nada tem a me dizer:
É apenas mais um dia afinal,
Onde gastam-se vãos votos de bem-querer.

É a chance de enganar-se de forma natural
Desejando a paz que não iremos ter,
Celebrando cegos a chegada de mais um ano banal.

Fabiano Favretto

Somente

Dos pássaros
Todos dizem
Somente
Sobre as asas 
E sobre o vôo.
Fabiano Favretto

Rima tardia

Dor,
Respeito.
Amor,
Miséria.
Cor,
Desfeito.
Rancor,
Tragédia.

Fabiano Favretto

Cobraria?

O maldito sofrimento silencioso,
Corroí o sistema entre as artérias,
Definha tudo em formas arbitrárias
E resulta a vida num silêncio jocoso.

O whisky, o conhaque e o cigarro
Não bastam e não fazem bom efeito.
Não existe um paliativo perfeito
Que expurgue a liberdade, um escarro.

A prisão, uma folha, e a missão pobre,
Uma tinta vermelha de sangue e ironia
Não poderia jamais resultar em ato nobre:

Se pudesse ir até ontem, talvez eu iria,
Mesmo que de mim a vida cobre
Ou quem sabe mais que uma alma cobraria.

Fabiano Favretto

Meio, Uni e Multi verso

E se eu te presenteasse
Com um buquê das mais variadas
Estrelas, planetas e galáxias?
Poderia ser que você gostasse.

E se talvez eu te chamasse
Para correr entre estrelas - lírios?
Que belos seriam: tão oníricos!
Talvez com mil sóis você se encantasse.

E se eu pegasse toda a luz existente
Que está contida na maior nebulosa
E forjasse um diamante cor-de-rosa:
Poderia você ficar contente?

E se eu mostrasse esse universo
Que eu tenho em meu peito
E te revelasse, com brio e respeito,
Poderia você me achar controverso?

E se meu universo for meio-verso,
E o que se expande for a solidão?
Eu pediria seu universo, de antemão:
Poderia tu comigo formar multiverso?

Fabiano Favretto

À uma bruxa e ao café

O que é o café senão dos deuses uma dádiva?
Aproximam pessoas, geram abraços e bons diálogos!
Existem outros bons sentimentos, mas nenhum análogo
Ao da xícara quente pelo amargo líquido que cativa.

Permitam-me musas e antigos heróis,
Dividir de mais momentos tão bons e oportunos:
Tais momentos que expulsam os ais em segundos,
Ao passo que boas pessoas trazem até nós!

Ave grão mistério-mágico das cordilheiras!
Colhido na aurora de um tempo em que é necessário,
E torrado para o bem de todas etnias e bandeiras.

Não me privem desta bebida tão presente no agora,
Na mesa dos pobres, ricos e poetas em nível diário,
Afim de prover a sanidade, mandando o tédio embora.

Fabiano Favretto

Crescente e irredutível

O tempo é uma constante crescente.
A vida é uma constante redutível.
Fabiano Favretto

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Lápides

Lápides cobertas de musgo,
O tempo apagou com paciência
Toda uma vida de memórias.
Fabiano Favretto

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Russa

Será que hoje ela entende
Que com tanta anonimidade
Conseguiu me bater de verdade?
Meu coração já se rende.

Será que hoje ela imagina
Que quero ver seus ruivos cabelos,
E sentir os seus olhos - belos
N'um instante diferente de minha sina?

Que como uma boa foto se revele
Esta curiosidade que me assombra,
Mas que um sentimento não a atropele.

Tomar um café seria um prazer,
Mesmo que a vontade interpele
Antes mesmo de meu coração bater.

Fabiano Favretto