A arte é o derradeiro recurso.
Fabiano Favretto
Meu único amigo é o banco,
Foi agora que me dei conta.
Com ele tenho algum crédito
E dele receberei cartas todo mês.
A ele emprestarei dinheiro,
Afinal aos bons amigos nada se nega.
Farei visitas regularmente e metodicamente
Sem assim ser repreendido.
E ao final de meus dias
Haverei de deixar o legado deste vínculo
Di vida
À meus filhos e netos.
Fabiano Favretto
De lírios noturnos
À margaridas aurorais,
Vou descamando pétalas
Devagar, até demais.
Fabiano Favretto
Eu sempre estava correndo para lá e para cá,
Então nunca conseguia escrever
Até descobrir
Que escrever parado é mais fácil.
Fabiano Favretto
Enjaulado alado,
Contestado estado.
Contraponto ponto
Do marreco eco:
Passado, assado.
Fabiano Favretto
O autor pela obra,
A garrafa pela cerveja
O piso pelo concreto
O circo pela bagunça
A piada pelo fracasso.
Fabiano Favretto
Um crítico de culinária
Errou o restaurante e acabou
Na porta do banheiro público.
Em sua avaliação escreveu
Que a entrada foi ruim,
E a saída uma bosta.
Fabiano Favretto
Balançava
Em movimento de pêndulo
A corda
Com o homem pendurado.
Acorda!
Sai dessa rede, compadre,
Vai pegar sereno!
Fabiano Favretto
Toca
Oca,
Mora:
Ora
Dentro,
Ora
Fora.
Troca
Moca,
Era
Ela,
Era
Louca.
Era
Aquela
Outra.
Oca
Oca,
Asco
Oco
Acaso
Eco
Aceso
Outro.
Fabiano Favretto
Que desperdício de bigode seria:
Cortá-lo em vão eu iria,
Caso a influenza tivesse vindo
Depois do aparo da barba!
Não estaria sorrindo:
Estaria chorando a apara
Daquilo que preenchida
Hoje faz parte de minha cara!
Fabiano Favretto
Como corte de papel
E picada de mosquito entre os dedos,
Me incomodo tanto quanto tarde:
Da noite não durmo, amanheço.
E a carne entre os dentes pressiona,
Feito véu invisível nas beiradas.
Poderia o estampido em meu crânio ressoar
Se não fosse uma ideia de silêncio.
Fabiano Favretto