I - O Caminho
Num caminho tortuoso
Caminhando ele estava,
E a toda hora imaginava
Que todo passo é perigoso.
O sol a pico ia queimando
Todo ser que ao relento ia,
Ao olhar para frente sua vista doía
Mas o violeiro continuava andando
Na mente daquele homem
Toda paz virava trevas,
E o caminho longo, deveras,
O deixava sem coragem.
Após andar grandes distâncias,
A torre de uma igreja o violeiro viu.
Da mesma igreja os sinos ouviu
E de receio, sentiu uma grande ânsia.
Encostou-se debaixo de um arbusto
Onde a sombra tornou-se abrigo,
Mas na verdade pensava consigo
Que aquilo que passava não era justo.
Em muito a sede corroía sua garganta
Enquanto ao centro da cidade ia chegando.
Avistou um bar, e nele logo foi entrando:
A bebida seria sua redenção sacrossanta.
II - A donzela
No balcão o violeiro chegou,
E ao bartender pediu um conhaque.
Com rosto franzido, o homem de fraque
Uma dose a ele entregou.
Ouviu uma voz ao seu lado
Que o seu nome havia proferido,
E ao ver quem era, ficou aturdido:
Uma linda donzela o havia chamado.
Ela após um riso cínico fala:
"Por que estás assim em frangalhos?
Ainda não terminou o seu trabalho!
Ou quer novamente encarar a vala?"
A bela imagem se desvaneceu,
Nos olhos vermelhos o mal ele viu.
Uma angústia no momento sentiu,
Mas o medo no momento perdeu.
Questionou assim, aquela mulher:
"Por que a mim apareceste agora?
Terminando meu drink, irei embora,
Então diga o que tem pra dizer!
Tome esta moeda agora,
Pois uma besta sua já derrotei,
E logo, esta parte do trato paguei.
Estou saindo! Te espero lá fora".
III - A tarefa
Estava um tanto cansado.
Esperava ele muito impaciente,
E num estalo, de repente
O Diabo apareceu ao seu lado.
Não tinha mais a forma daquela donzela,
E rindo, o Diabo já foi dizendo:
"Achastes que não sei o que vem acontecendo?
Tenho outra besta, e deve hoje mesmo detê-la"
Então o violeiro de modo sarcástico respondeu:
"Não me diga que é por que hoje é sexta-feira!
Pra mim essa coisa de monstros é tudo besteira,
E por que dentre tantos você me escolheu?"
"Não se sinta tão especial, violeiro,
Eu não te escolhi, apenas aconteceu.
Você teve tanto azar, amigo meu:
Foi você que me chamou primeiro
Deve você saber que não estou brincando:
Tu deverá derrotar hoje esta fera,
Pois ela aparece em uma específica era
Então trate de preparar logo um plano
Tome, pois estas cordas de prata
E afine sua viola de modo profano
Pois o monstro não tem ouvido humano.
Haverá tu de encontrar a afinação exata!"
IV - A afinação
Colou-se a trocar as cordas
Mas sentia-se relutante.
O vento tornava-se ululante
Enquanto passavam as horas.
Ao trocar as cordas, com efeito,
Pensou em uma maneira de afinar
Não tinha ciência por onde começar
As cordas não estariam talvez com defeito?
Tentou de muitas maneiras diferentes,
Mas nenhuma resultou em modo bom
A noite havia chegado, e nenhum som
Parecia sair de uma forma eloquente.
Ouviu uma voz grave ao seu lado,
Havia dito que o Diabo o enganou
Mas ali nada ele enxergou.
Aquelas cordas não deveria ter trocado.
Um desespero começou a ele chegar,
Pois havia muito tempo com isso perdido,
As cordas antigas não mais serviam, e desiludido
Desistiu de pegar as cordas antigas e recolocar.
Detrás de uma grande pilha de lenha veio
A besta que em direção ao violeiro correu.
A esperança do pobre coitado desvaneceu
Quando a besta partiu a viola ao meio.
V - A besta
Estava paralisado por tanta tensão
Pois não entendeu direito o que aconteceu,
Não sabia se era lobo ou homem o que apareceu
E aquilo estava voltando em sua direção
Tratou de mover-se imediatamente
Carregando a viola em pedaços:
Pelas cordas estava pendurado o braço
Balançando de um modo intermitente.
Viu um movimento de soslaio
E em direção à uma árvore alta correu
A besta no mesmo momento o surpreendeu
Aparecendo em sua frente como um raio
Em seguida veio rapidamente ao encontro,
Atropelando rapidamente o violeiro,
Que jogado pro alto por inteiro
Caiu de repente sobre o monstro
As cordas de prata enrolaram-se
No pescoço da fera que alto gritou.
Viu que as cordas de prata a queimou
Entao elas puxou ele mais forte!
De joelhos caiu a fera, com o pescoço queimando,
E logo o que era homem e lobo desistiu,
O violeiro com uma de suas maos ensistiu
Ir ainda mais as cordas apertando.
VI - A aparição
De repente um barulho ressoou:
Em fogo a criatura foi se transformando.
Ele rapidamente foi se afastando,
Mesmo assim uma mao queimou.
A moeda que no chão apareceu
Ele juntou e segurou firme em sua mão.
Estava cansado mais uma vez da situação
O que houve com a viola o entristeceu.
Enquando olhava a palma de sua mão
Novamente uma voz ouviu
Achou que estava ficando senil
Pois era a mesma voz que apareceu de antemão
À uma certa distância avistou alguém
E com passos trôpegos foi em direção.
Viu que era um sujeito com certa mansidão
E que tocava viola como ninguém
O sujeito de chapéu foi lhe contando
Que antigamente havia sido um dos melhores,
E que sabia que ali perto, nos arredores
Conserto para a viola poderia ir procurando
Uma ponte de esperança no violeiro surgiu,
E quando foi aquele homem agradecer,
Viu que ele acabara de desaparecer.
Então com a viola quebrada seu carreiro seguiu.
Fabiano Favretto