domingo, 29 de abril de 2018

De frente

Encarei este domingo de frente
Porque sei que não seria diferente
Mesmo estando tão doente
Não escaparia a um domingo deprimente.

Fabiano Favretto

Quem será?

Se eu pudesse escolher
Quem eu sou,
Quem eu seria?
Ou melhor,
Se eu pudesse escolher
Quem eu seria,
Quem hoje eu sou?
Se eu pudesse escolher
Ser qualquer um
Além de eu mesmo,
E encontrasse alguém
Que seria
Igual hoje eu sou,
Olharia em meus próprios olhos,
Ou desviaria os olhos
Para o chão?
Se eu pudesse escolher
Quem eu seria,
Poderia outro
Escolher ser
Quem eu sou?
Hoje somente sou.

Fabiano Favretto


segunda-feira, 23 de abril de 2018

Calamidade

Por que de um minuto ao outro
Meus sonhos que em largos tempos
Demorei infundir (reprimindo contentos),
Se esvaem como poeira ao vento?

É tanta derrota que um tropeço
E um dedo rachado são apenas 
Mais um episódio tosco
Da minha vida de amenidades.

Fabiano Favretto


A garota com quem sonho

A garota certa para mim
Certamente virá algum dia,
Ou será que eu deveria
Procurá-la até o fim?

Ah, a garota perfeita
Que me fará feliz...
Algo aqui me diz
Que para mim ela foi feita.

A garota com quem sonho
Não sei que rosto terá,
Mas a mim mesmo proponho

Que meu coração a acolherá,
E não haverá nada de estranho
Pois surgir o nosso amor irá.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Sem música

O tango nunca dançamos
E a valsa não valsamos
Afim de tramar a trama
Que nunca tramamos.

Fabiano Favretto

Soneto Inconsciente

Estou acumulando
A necessidade de destruição
A entropia, inanição
De tudo que está chegando.

Big bang
De meu cérebro na calçada
De meu estômago na calçada
De meu coração na calçada:

Tenho mais órgãos
Cá fora, no chão,
Do que em mim.

Preciso de mais espaço
E agora são as palavras que saem...
Mas estas nunca acabam!!

Fabiano Favretto

Dimensão alheia

O inferno dos alienados
É o paraíso
De quem está disposto
A pensar.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 19 de abril de 2018

E que o prazo de devolução seja mais que uma semana

Cada poema perdido
É uma alma que não se salva.
Cada poema lido
É uma alma que se corrompe.
Ora, meus irmãos,
Espero que no inferno
Existam muitos livros.

Fabiano Favretto

Falta de fé

A todo momento digo adeus
A todo momento digo a Deus
Leve-me!
Leve-me!
Estou aqui ainda.

Fabiano Favretto

Ontem tão presente

Por dentro estou podre
Igual a um pinhão
De casca rubra reluzente.
Comigo ninguém pode
Ter compaixão
Por não estar só doente.

Por dentro estou morto
Igual a um caixão
De madeira rubra reluzente.
Comigo não me importo,
Não tenho condição
De encarar o meu presente.

Fabiano Favretto

Sertão coração

Um ser tão desprovido de graça.
Um ser tão provido, desgraça.
Um sertão desprovido de graça.
Um sertão provido desgraça.

Fabiano Favretto

Outra estação

Caminhar entre tanta gente
Caminhar sozinho entre esta gente
Que não olha nos olhos,
Que olha somente para o solo.
Em meio a tanto movimento
Pessoas saem, pessoas só saem
E não saem de seus mundos
Tão necessáriamente individuais.
Por dentro, sou uma árvore
Com galhos secos,
E é inverno aqui fora.

Fabiano Favretto


segunda-feira, 16 de abril de 2018

Rugidos castanhos

Para Kauane

As histórias da terra
E seus olhos castanhos
Não soam estranhos:
São flechas numa guerra.

Não fosse esse mar de gente
Ou essa falta de serenidade,
Talvez a tua (ou minha) ansiedade
Não fosse tão aparente.

Há quem diga que o tempo nos mate,
Há quem diga que o vento nos chame.
Há laços que pelo sangue desatem,

E laços alheios para que se ame.
Olhos, me olhem ou me enganem!
Tens aquilo que em meu peito brame.

Fabiano Favretto

sábado, 14 de abril de 2018

Vais ia

Se vazia
A vasilha,
Se esvazia
Se ilha.

Fabiano Favreto

Soneto da vida vazia

Mais uma vez acabo
Numa noite sozinho,
E o som do vazio
É que me dará cabo.

Não tenho forças,
Não tenho esperança:
Não haverá mudança.
Haverão forcas?!

Não haverá madrugada
Não haverá noite ou dia,
Não haverá alvorada

Nessa vida vazia
Cheia de nada
Haverá poesia?

Fabiano Favretto

sexta-feira, 13 de abril de 2018

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Casquinha com duas bolas

Tão líquido nosso amor,
Sua frieza faz
Picolé do meu sangue,
Gelatina do meu cérebro
E sorvete do meu coração.

Fabiano Favretto