Nesta vasta terra, nenhuma terra lhe foi apresentada. A ferramenta de trabalho está encostada nos sonhos mais profundos, alheio à toda seca e pobreza. Eis que o agricultor ganha asas e pode enfim buscar campos distantes além-firmamento. Planetas de cores tão vivas... arar os anéis de Saturno não parece algo impossível.
A Via-láctea, um verdadeiro campo de algodão celeste, repleto de espaços estelares, parece uma terra fértil para se plantar os mais belos sonhos.
Chegando o homem ao seu destino, confrontou em seu eu todo o mistério do universo. Tudo o que aprendera e o que lhe foi apresentado na Terra era agora algo insignificante diante de tamanha imensidão. Preparou assim a sua enxada, e com um golpe certeiro recuou os planetas que poderiam atrapalhar o crescimento de sua esperança.
Despejou ali as sementes que desejava e adubou com férteis e brilhantes constelações.
Admirou-se com o clima, vendo que haveria chuvas de meteoros. Ficou preocupado, mas tal sentimento logo se esvaiu quando percebeu que seria apenas uma garoa de estrelas-cadentes. Sorriu quando viu sua esperança florescer perante as adversidades universais e sentiu-se satisfeito ao ver que nem tudo está distante.
Chega a época de estiagem, onde tempestades solares afligem o campo de nosso agricultor. Por sorte ou colaboração involuntária dos corpos celestes, faz-se um eclipse que barra todo excesso de luz. Como o dia de repente virou noite, procura o nosso trabalhador um abrigo para repousar, e deitado debaixo de uma nebulosa, ao observar os desenhos abstratos do espaço profundo, adormece com um belo sorriso de lua.
É madrugada, e o cantar do galo acusa que a sina não havia mudado. Abrindo os olhos de modo sôfrego, vê sua enxada encostada ao pé da árvore, ao passo que o céu estrelado acusa que a noite não tinha deixado espaço para nuvens invasoras.
Com olhos lentos e ternos busca ainda reconhecer seus campos de sonhos estelares, antes que sumam perante o raio solar da realidade.
Fabiano Favretto