- Fala, véia! - Responde seu Severino
- O que ocê vai trazê pra bóia?
- Tava eu pensando cá, pra querê í pegá uns peixe lá no açude!
- Má nem pensá! Tô injuáda dos pêxe! Quero comê ôtra coisa. - Fala dona Edviges em tom indignado.
- Vo caçá arguma coisa então. Lá pela tardinha eu tô de volta!
- Tá bão, véio.. Mas nada de caçá pomba e rã! E se ocê vortá cum pexe, vo quebrá tudus dente que ocê tem !
- Êita véia! Carma, carma! Vo traze uma bóia bem das boa pra nós jantá! Inté mais!
Seu Severino sai com sua espingarda cartucheira e um borná, e logo começa seguir o carreiro em direção à mata. Adentrando cada vez mais em mata densa, seu Severino recarrega a espingarda e para um momento.
"Acho que é mió eu pará cá à essa árve pa mode eu ficá de tocaia.." - Pensa seu Severino
O tempo passa e começa a anoitecer, mas seu Severino ainda não havia caçado nada. Devido à monotonia, seu Severino adormece!
CRACK! BAAM! - um barulho aos pés de seu Severino assusta-o fazendo com que o mesmo atire para cima.
- Êta nossa! Já tá di noite e eu não cacei nada ainda!
Enquanto seu Severino recarrega sua espingarda, eis que uma coisa cai do galho da árvore logo acima de sua cabeça.
- Ô diácho! Que porcaria é essa? Meu Santo Agostinho! É um cóbra.. e grande! Pra não dizê que que num cacei nada, vo levá pra casa..
Seu Severino pega a cobra com dificuldade, e tenta colocá-la no borná, porém a cobra é muito grande.
- Vish Mainha! Vó ter que cortá esse bicho!
Com sua peixeira, seu Severino corta a cobra pelo meio e coloca a metade não atingida pelo tiro dentro do borná.
- Agora o jeito é í pra casa.. A véia já déve tá lôca!
Com dificuldade, seu Severino carrega o borná com a cobra, mas se apressa para sair da mata.
- Êita fome da moléstia! Inda bem que tô chegâno!
Dona Edviges avista seu Severino e vai em seu encontro, recebendo-o em tom severo:
- O véio, pur que demorô tanto? E o que ocê tem aí dentro do borná?
- Dá uma oiadinha, véia!
- Crédo em cruz! Ave maria! É uma cobra! Ocê tá loco? - Pergunta dona Edviges assustada.
- Ocê não queria uma bóia? Intão.. eu truxe uma JIbóia! HAHAHAHA
Dona Edviges dá um tapa na orelha direita de seu Severino, que rodopiando quase cai ao chão.
- Issu é procê aprendê a não fazê gracinha! E trate de jogá fora essa cóbra, e bem longe! - Adverte dona Edviges.
Seu Severino joga a jibóia próxima a uns pés de fumo e ouve dona Edviges gritar:
- Agora vâmo entrá, purque a cóbra vai fumá!
Mas seu severino antes de dar meia volta para seguir para dentro de casa, em tom sério pensa consigo mesmo:
"Vai fumá nada! A jibóia ta morta!"
Fabiano Favretto