sábado, 28 de janeiro de 2017

choro

Tento engolir o choro,
Mas a garganta tranca-se;
Salivo pelos olhos,
Ah se o tempo passasse.

Fabiano Favretto

Coleção de nãos


Me diz que não,
E que não me quis;
O que eu fiz
Não te serviu não.

Enquanto eu puder sorrir
Vou procurar
Mas faz tanto tempo que parti
E estou a andar...

Mas hoje,
Em prantos e lamentos,
Repito os mesmos sonetos
Mas hoje,

Eis que em agonia
Ainda repito os tons;
As cores de teus batons
Moram em minha sinfonia.

Me diz que não,
Para que eu possa seguir.
Achar para onde ir,
Uma outra direção.

Me diz que não
Para que eu possa aguardar,
E mais essa negativa guardar
Em minha coleção.

Fabiano Favretto

Estou tão sozinho

Estou tão sozinho...
-"mas você é tão legal"
Estou tão sozinho...
-"mas você é tão inteligente"
Estou tão sozinho...
-"mas você é um rapaz direito"
Estou tão sozinho...
-"mas você é tão divertido"
Estou tão sozinho...
-"mas você é um gentleman"
Estou tão sozinho...
-"você reclama demais"
Estou tão sozinho...
-"você logo encontra alguém"
Estou tão sozinho...
-"cada panela tem sua tampa"
Estou tão sozinho...
-"aposto que está cheio de meninas atrás de ti"
Estou tão sozinho...
-"melhor estar solteiro"
Estou tão sozinho...
-"Elas não sabem o que estão perdendo"
Estou tão sozinho...

Fabiano Favretto

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Mas não vai acabar Sozinho

Nossa, menina,
Hoje estou tao MPB...
Se acabar em caetano,
Você vai ver...
Desse jeito vou só sonhar
E nada irei escrever,
Porque sonhar enquanto se ouve,
É melhor do que escrever enquanto se enxerga.
Eu gostei,
E olha onde fui parar:
Numa aquarela,
Que agora
Descoloriu,
Mas a linda rosa
Recolorirá.


Fabiano Favretto

Haikai dela

Três linhas na rede,
Escreve a menina
Em seu espaço oculto.

Fabiano Favretto

Deslocado

Estou cada vez mais distante,
Cada vez mais deslocado,
Pois sinto que já fico de lado
Se eu não for desinteressante.

Mas para que haverei de provar
Algo aqueles que nunca vi,
Quem sabe eles o que vivi
Até poder àquele momento chegar?

Estou cansado de rasos lagos,
Onde navega-se somente na beira,
Na margem, num barco de ego.

Estou com tanta canseira
Que somente à solidão me apego:
Uma dor fria e verdadeira.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Ultimamente

A vida é engraçada
Pelas ausências que nos apresenta;
Uma palhaçada,
Pelas colunas que nos sustenta.

Mas ainda existem lacunas,
Verdadeiras anedotas,
Que como dores rotas,
Marcam feridas profundas.

Ando hoje estranhamente
A fomentar meu senso de humor,
Pois a minha carência de amor
Está grande ultimamente.

Fabiano Favretto

Anedota


- Os sinos da capela?
- Já não soam mais.
- As paredes de tijolos?
- Não tem mais olaria.
- As árvores proporcionando frescor?
- Suspenderam o vento.
- O sorriso na boca dos velhos?
- Já não há motivos para sorrir.
- O movimento nas pernas dos jovens?
- Todos reféns das telas.
- E a vida?
- É uma grande piada.


Fabiano Favretto

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Dança das armas

Ora dançamos sobre pés cansados
E caímos ao chão cheios de sangue,
Assim como andar entre rosas vermelhas
Em uma tarde morna de primavera.

Rodamos em nossos pecados mundanos
Ao som dos corpos que caem,
E estes sem saberem o sabor da terra
Fartam-se da ausência de vida.

Oh glória, àqueles que foram derrotados,
Os vermes clamam no subterrâneo
Sedentos de sangue novo,
Esperando a próxima dança das armas.

Fabiano Favretto

sábado, 21 de janeiro de 2017

Que danço contigo

Nunca fui bom,
Mas ouço um jazz
Triste e depressivo,
Que embala a valsa
Que danço contigo
Em meu inconsciente.

Fabiano Favretto

Nunca ditas

Um minuto de amor
É melhor que uma vida de solidão.
Queria sentir seu perfume,
Mas lembrei que tu não usava.
Seu cheiro ficou impregnado
Em meu abraço. (?!)

Abraço apertado foi meu remédio para noite,
E fez minha semana valer a pena.
Mas como dizer que era ela
Talvez a pequena
Causa de minha indecisa felicidade?

Quando dei um último abraço,
Nossas cabeças se aproximaram
Por um instante,
Mas os olhos talvez
Não se cruzaram.
Não me lembro.

Mas me lembro
Da exasperação e da fraqueza
Não sei se foi efeito do vinho,
Ou algo mais.

Vou colocar a culpa,
E vou dizer,
Que o Diabo está na ausência
Das palavras nunca ditas.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

De voar

Tecnologia,
Quem diria
Se eu pudesse
Voltar 
No tempo.
Iria
Inventar
Uma máquina
Que pudesse
Guardar
Tudo o que fosse
Alento,
Para esse peito
Que só sabe
Reclamar:
De saudade,
De vontade,
De voar.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ansiedade

Fruto do tempo vagaroso,
És o martírio dos desesperados,
Que com gestos, sons afobados
Caem em furor vertiginoso.

Qual mãe das mais graves úlceras,
É a causadora de toda minha insanidade;
Pois a cabeça, baú da calamidade
Transforma-se na mais inútil das víceras.

Do amor tem-se feito dura inimiga,
E os corações, afligido aos montes.
Mas quem vence todas as brigas,

E ao final corre e pula das pontes?
Quem entoará as velhas cantigas
Esperando a resposta da fonte?

Fabiano Favretto

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Peão, Bispo ou Rei?

Plantei na cabeça
A semente da dúvida.
Não espero que nasça
Qualquer certeza.

Fruto de dúvidas,
Já tenho aos montes.
Do discernimento a dívida:
A incerteza é a fonte.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Alcova

Medindo a cova
Para quando sobrar
Um pouco de tempo,
Eu possa retirar
O coração do peito,
Miserável alcova.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Um tanto escasso

Ando um tanto escasso,
Deste meu tempo
Sem algum alento
Em todo meu espaço.

Ando por andar,
E ao andar tenho ouvido
Que esse coração vivido
Não para de retumbar.

Os trovões que quebram
Em meu peito carregado,
São os mesmos - agrado
Lamentam, me desesperam.

Há a máquina dos mortais
Que se alinha sobre nossos sapatos;
Gira o mundo, criam-se ratos
Verdadeiras legiões fatais.

E no subsolo da vida,
Este porão repleto de incertezas,
Armazeno as minhas tristezas
E dor reprimida.

Ando um tanto escasso,
Deste meu tempo,
Sem algum alento
Em todo meu espaço,

E na despensa das eras,
Não tenho nada mais
Do que me compraz:
Solidão. Deveras.

Fabiano Favretto



quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Etimologia

Eu sou a etimologia das palavras 
Ainda não inventadas.

Fabiano Favretto

Tears

O mar é a soma das lágrimas
Que ainda não foram choradas.

Fabiano Favretto

Uns dizem que é destino

Quantos milhões de anos
Se passaram
Para formar-se o mar,
E por fim a praia,
Para que assim a areia
Fosse gentilmente pisada
Pelos seus pés suaves?

Fabiano Favretto

Da observação

Tive tantas mulheres,
E nenhuma delas
Sequer foi minha.

Fabiano Favretto

domingo, 1 de janeiro de 2017

Gerador duplo

Seus lábios polivalentes,
Carregados dos átomos mais severos,
Dos quais, os elétrons latentes
Penetraram sob minha pele - vários!

E eis aquela física do atrito,
Com cargas magnéticas de nosso tesão;
Em nossos movimentos imito
Uma nova quebra nuclear - fissão!

Com cargas elétricas opostas,
Permanecemos a nos atrair,
Para que as nossas resistências

Continuem o seu papel cumprir,
E assim nos incandesça
Para toda energia à nós consumir.


Fabiano Favretto

Formosidade irreverente

Você é folha seca em tarde de outono,
Carregada pela última brisa quente:
Texturiza toda forma alheia ao abandono
Da beleza - formosidade irreverente.

Fabiano Favretto

Será que ela já sabe?

Eu trocaria todas as conquistas
Que terei neste ano que chegou,
Por um ano com beijos e risadas
Contigo que me conquistou.

Fabiano Favretto

Todo ano é assim

Começo este ano
Criando expectativas;
Grandes expectativas
Que já sei onde acabarão.

Fabiano Favretto