quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Dama de copas

Para Maiara

Parece que o meu jogo virou,
E eu não tinha uma carta na manga,
Quando apareceu de copas, uma dama
Minha sorte no jogo acabou

Uma estratégia, um pequeno blefe,
Era tudo o que eu precisava ter
Mas ela no entanto iria compreender
Minha jogada e me achar um patife

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

Eu era o rei detentor de todas as cartas,
E minha coroa era ego inflado pelo whisky,
Eu era louco, breve, sozinho e triste
O às de espadas era a minha marca

E quando a dama de copas apareceu,
O meu jogo ensaiado acabou
De rei fui à valete, ela me transformou,
Foi a carta coringa, ela me venceu.

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

Mas das cartas, ah ela sabia de todas
E sabia tudo sobre a vida e a morte.
Ela lia minha mente, via nas cartas a sorte
Ela me marcou, parece que sofrer virou moda

A quinta carta, a dama de copas
Virou e também virou o meu destino,
O que era par de ases, virou desatino
Perdi tudo, até os botões de minha roupa

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte

O que seria nas cartas uma vitória normal
Foi na mesa virada, a causa de minha mudança,
E agora até que tenho uma boa esperança,
De que a dama de copas comigo faça casal

O que no amor seria mais um grande vexame
Foi nas cartas que eu fiz a minha melhor aposta
Ganhar e perder aquilo que mais se gosta
Ganhar e perder o vício por mais que você ame

Pois entre cartas e amor,
Um dos dois a gente perde
Pois entre o jogo e sentir dor,
Diabos, a gente se diverte.


Fabiano Favretto

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Peças

Você tem mais que uma carta na manga,
Você tem os coringas à seu dispor.
Você tem feito as regras e não é de hoje,
Você tem ganhado sempre me destruído.

A peça que faltava no quebra-cabeças,
A peça é aquela que nunca existiu.
A peça então você não achará,
A peça foi você que a perdeu.

Fabiano Favretto


Reina

E hoje a noite cai,
Mas não são os relâmpagos:
É o tempo que se esvai
Levando junto o encanto.

E te amei nessa tempestade
Enquanto não chegava calmaria,
Era como se uma metade
Minha que facilmente esvaia.

Mas na madrugada
O silêncio reina
Em meio à estrada

Onde a hora teima
Fazer insistente chegada
Feito chama que queima.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Culta

A vida é demasiada curta
Para viver sem arte!
A vida é demasiada culta
Porque viver é uma arte!

Fabiano Favretto

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Metafísica da palavra

E do alto da colina, ouve-se um grito que ecoa por quilômetros:
REVOLUÇÃO!!!!
- Por que escolheu esta palavra?
- Não escolhi, ela se escolheu.
- Não, você deve ter pensado nela!
- Entenda, minha cara: a metafísica das palavras é de que estas sempre existiram. É exatamente como a morte, que é o resultado da vida... A palavra é o produto do silêncio.
- A morte é inevitável!
- A palavra é necessária.

Fabiano Favretto

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Líquido âmbar

Não compreende-se viver
Se não há whisky.

Fabiano Favretto

De antemão

Estou tão ansioso
Que de viver já esqueço,
E antes de ficar idoso,
Meu Deus, eu já padeço!

Fica tão difícil respirar
Quando o mundo cai ao chão.
Já é de se esperar
Que eu morra de antemão.

Está faltando inspiração
Nas escolhas que eu faço:
Se o resultado é sempre não,

Já espero o embaraço
Como uma sólida visão
Neste meu tempo-espaço.

Fabiano Favretto

Aos trigais

Quem em sua beleza dourada
Esconde os segredos do vento,
E os mistérios da terra e da garoa?

És pequena semente plantada,
Jamais deixada ao alento.
Também alimenta quem voa.

É mar de jade em juventude,
Onde no horizonte faz linha
Buscando as nuvens mais altas!

Em sua sazonal magnitude
És o prefácio da farinha,
Que seu valor ainda mais exalta.

Labirinto para os pequenos,
É cama e lar para quem a deseja
E quem em ti podem ver a calma.

O teu sibilo de vento eterno
É a liberdade que o homem almeja
Para entender sua própria alma.

É tu sob as estrelas,
Da Terra a parte mais nobre
Onde até a Lua a ti faz saldação:

É das riquezas amarelas
A que chega às mãos pobres:
Da fome é a redenção.

Fabiano Favretto

Voam

Somente os pássaros
Comem migalhas
Sem perder a dignidade.

Fabiano Favretto

Poema de dois minutos

Ânsia e idade
No tempo que
O homem tem
Fracionado.

Ansiedade
No tempo que
O homem tem
Cultivado.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Paixões antissépticas

O amor é o machucado
Que ardia quando você passava
Mertiolate ou mercúrio-cromo.

Fabiano Favretto

Paixões antiderrapantes

O amor é a aquaplanagem
Que o seu carro dá
Na curva mais perigosa.

Fabiano Favretto

Paixões antiaderentes

O amor é uma panqueca
Que você joga para cima
Torcendo para que ela
Não fique grudada no teto.

Fabiano Favretto