quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O medo

Recorro agora ao medo,

Sentimento tão contemporâneo.

Ele que cresce nas hachuras


Desenhadas em remendos

Do nosso tempo instantâneo,

Repletos de ranhuras.


O medo que não é só amarelo,

Mas também invisível e covarde

A ponto de pronunciar-se


Ao decorrer do menor pesadelo.

O medo chega sem alarde

Nos fazendo suplicar por catarse.


Ora, tão primitivo e essencial

É esta parte de nosso intelecto:

O medo do que não conhecemos


Tem sido na evolução, crucial,

Em seus diversos aspectos.

O que acontece quando morremos?


Mas talvez o medo

Seja diferente da covardia.

Por detrás do medo há uma defesa,


Enquanto da covardia o enredo

É uma fajuta alegoria

Para o caçador que se torna presa.


O medo é nobre em sua essência,

Pois não é antônimo da coragem.

Há corajosos que por natureza


Não trazem em si sapiência,

Os atos carecem de pairagem.

Traz o medo, em si, a delicadeza.


O medo arrebatador

Nos paralisa e nos move.

O medo do que virá é certo,


E nem por isso é desmotivador.

O medo ao certo nos comove,

Há muito medo sob esse céu aberto.


Este velho amigo

Que é digno de tantos receios

Terei um dia melhor compreendido.


Seja na bonança ou no perigo,

Seja em quais forem os meios

O medo estará sempre comigo.


Fabiano Favretto