terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Se não, senão

Não posso fechar os olhos,
Senão vejo você.
Não posso respirar fundo
Senão vejo você.
Não posso parar,
Senão vejo você.
Não posso ouvir Caetano
Senão vejo você.
Não posso existir
Se não vejo você.

Fabiano Favretto

O amor e o caos

Quando estar sozinho
Desencadeia todo
O CAOS
Dentro de si,
É preciso estar junto
Com alguém
Que meça sua entropia,
E com isso,
Poder idealizar modos
De conter todo esse caos.

Fabiano Favretto

Monólogo do pato cego

- Não, eu não herdei a casa e nem qualquer bem;
Apenas, as penas que eram de meus pais
(E que até hoje as carrego).
Seria inoportuno dizer que tais coisas não me afligem,
Mas no entanto, estou a nadar de um lado a outro.
De um lago a outro, somente pelo olfato
É que me norteio para não quebrar a cara.
Me chamam de pato, trouxa,
Me chamam de cego, que não enxergo um palmo.
Um palmo em frente ao nariz (?)
Já expliquei para mim mesmo o motivo,
Milhares de vezes o motivo de tudo isso ter acontecido.
Há quem rume para o sul ao inverno,
Mas quem está no sul vai para onde?
Uma vida de bebedeira,
Farras, festas, drogas, bebidas.
Coleções de vícios, dos mais pesados
Aos mais insignificantes.
Tenho inveja de quem viveu assim
E não sente remorso.
Nunca vivi, e mesmo assim o sinto.
A casa foi doada à igreja.
O carro, leiloado e o dinheiro encaminhado
À um hospital famoso da região.
Todos pareciam cisnes em sua sórdida elegância
(Arrogância).
Eu,
Patinho feio, coitado sempre, vítima nunca,
Ousei errar, e errei com sucesso.
Não tenho um amor, não tenho uma vida.
Tenho entre meus dedos esta pele,
Que me faz continuar nadando.
Ao chegar a noite, eu paro e durmo.
No dia seguinte, continuo nadando.
O lago me conhece, e eu o conheço,
Logo, a relação entre tal conjuntura
Não é nada esclarecedora;
Só aprendi a levar as penas
E lavar as penas nesta água sem corrente.
Me falaram que eu sou cego
Por não querer bater as asas.
O que fazer se tenho medo de voar?

Fabiano Favretto

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Das minhas lacunas
Ainda não escritas.

Fabiano Favretto

Pensamentos de outrem

Minha semana
Teve três domingos:
No primeiro domingo
Cortei os pulsos;
No segundo,
Cortei a garganta.
No terceiro,
Era terça-feira

E resolvi nada fazer...
Mas a noite chegou

E isso me preocupa.

Fabiano Favretto

Eterno aprendizado

A gente nunca aprende a amar completamente
Pois cada amor é deveras diferente.

Fabiano Favretto

A causa

Ou é o amor,
Ou é o álcool,
Ou é o chocolate,
Ou é a saudade,
Ou é a morte.

A morte um dia virá;
A saudade sempre aperta;
O chocolate acalma;
O álcool amortece;
O amor é sempre a causa.

Fabiano Favretto

Mão dupla

"Se fiquei esperando meu amor passar
Já me basta que estava então longe de sereno
E fiquei tanto tempo duvidando de mim
Por fazer amor fazer sentido
Começo a ficar livre
Espero, acho que sim
De olhos fechados não me vejo
E você sorriu pra mim"

- Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar
-- Legião Urbana

https://goo.gl/YX4zvq

Pinturas eternas

Queria ser a luz do sol
A delinear seu rosto,
A brisa de outono
A tocar a sua pele.

Mas hoje o que sou:
Somente distância
E a vontade completa
De te abraçar.

Dias mágicos aparecem
E também vão embora.
Mas vi seus olhos olharem os meus,
E vi sorrisos surgirem.

Não esqueço de sua mão
Nem de seu abraço.
Como poderei viver
À mercê do espaço e tempo?

Dissestes que não gosta de sorrir,
Mas sua boca é pintura precisa
Nas telas perenes
De minhas profundas lembranças.

Fabiano Favretto

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sozinho sob as estrelas

Ao olhar o infinito,
Sinto-me como ser insignificante,
Pois o caminho para as estrelas
Não tem sido menos distante.

E se um foguete parte para longe,
Eu somente observo a trilha supersônica.
Não que eu haja de forma menos dinâmica,
Mas sim porque a saudade fundo punge.

Fabiano Favretto

Entre ruivos cabelos

Para Inaiá

Uma voz que me chama atenção,

É a luz que me guia no Éter.
Quero a todo momento ver
O que tu esconde no coração.

Sua meiguice me faz querer estar
Em sua presença nobre de forma constante.
Mesmo que seu abraço dure um instante,
Muitos outros abraços tentarei conquistar.

E a curva de sua boca,
E o desenho dos seus belos olhos.
Sua beleza que não é pouca,

Faz com que meus sinceros desejos,
Se realizem não de maneira pouca:
Perder-me entre seus ruivos cabelos.

Fabiano Favretto

Calma curva

Na calma curva da tua boca que sorri,
Encontrei um motivo que me comove:
Tudo o que nesta vida eu vivi,
Em direção a teus lábios me move.

Fabiano Favretto

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Barulho no portão

Madrugada,
Os cães ladram
E mordem
Fantasmas
Noite adentro

Fabiano Favretto

Bazar

Eram roupas de primeira
E de segunda linha.
Vestidos com ombreiras,
Casacos e blusinhas.

Haviam cadeados sobre a mesa,
Um aparelho de fax não muito antigo;
Deveras eram diversos artigos,
Os melhores nas redondezas.

Mas o melhor artigo não era comprável,
Pois não teria um preço;
Seria impossível de ser calculável.

Um artigo tão espontâneo
E de qualidade incomparável:
Sorriso bonito e instantâneo.

Fabiano Favretto

Soltos

E os cabelos ruivos
Como um por-de-sol,
Deram total sentido
À essa minha pobre tarde.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Empoeirado

E no final
Todas tem o mesmo rosto,
Encarecidos de formas
Que ouso dizer necessárias.

Tudo se enevoa
Numa neblina tênue e crescente,
Qual entardecer rápido
De um dia chuvoso de outono.

O dia se esvai,
E leva junto a vontade,
O apreço e a vaidade,
Como hipoteca ao dom das letras.

E assim, empoderado,
Empoeirado na estante,
O retrato descolorido
Retrata a forma já esquecida.

Dá-se lugar ao ostracismo,
E fulgor às cicatrizes.
Não há forma o que era corte,
Não há mais dor o que era amor.

Fabiano Favretto