domingo, 17 de agosto de 2014

O Gondoleiro do Amor

Teus olhos são negros, negros, 
Como as noites sem luar... 
São ardentes, são profundos, 
Como o negrume do mar; 

Sobre o barco dos amores, 
Da vida boiando à flor, 
Douram teus olhos a fronte 
do Gondoleiro do amor. 

Tua voz é a cavatina 
Dos palácios de Sorrento, 
Quando a praia beija a vaga, 
Quando a vaga beija o vento; 

E como em noites de Itália, 
Ama um canto o pescador, 
Bebe a harmonia em teus cantos 
O Gondoleiro do amor. 

Teu sorriso é uma aurora, 
Que o horizonte enrubesceu, 
-Rosa aberta com o biquinho 
Das aves rubras do céu. 

Nas tempestades da vida 
Das rajadas no furor, 
Foi-se a noite, tem auroras 
O Gondoleiro do amor. 

Teu seio é vaga dourada 
Ao tíbio clarão da lua, 
Que, ao murmúrio das volúpias, 
Arqueja, palpita nua; 

Como é doce, em pensamento, 
Do teu colo no languor 
Vogar, naufragar, perder-se 
O Gondoleiro do amor!?... 

Teu amor na treva é - um astro, 
No silêncio uma canção, 
É brisa - nas calmarias, 
É abrigo - no tufão; 

Por isso eu te amo querida, 
Quer no prazer, quer na dor... 
Rosa! Canto! Sombra! Estrela! 
Do Gondoleiro do amor. 

Castro Alves


Grande surpresa tive quando soube que esta poesia era a letra de uma música interpretada por Tonico e Tinoco. A música leva o mesmo título da poesia:


Fabiano Favretto

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