quinta-feira, 10 de julho de 2014

Canção do homem morto

I

Ao horizonte cavalga
Rápido e resoluto.
Doente de alma,
Um homem de luto.

Corta a galope
Sua angústia e drama.
Risca a ferro e chicote
A sua dor que inflama.

Traz no peito a marca
D'um fatídico dia,
D'onde a lembrança embarga
A visão e a alegria.

Pelos campos vaga,
Como o vento nos becos.
Nos trigais perdido acaba
Em meio ao seu medo.

II

Os lírios do campo
Somente observam
E as nuvens no entanto,
À luz fraca cegam.

As margaridas nas janelas
Desfolham-se sob a brisa
Enquanto abelhas amarelas
Seguem sua aérea sina.

Sob a janela está debruçada
Com seus braços já cansados.
Braços de quem já foi amada
Abraços de apaixonados.

Lembranças e devaneios,
O cheiro de canela em rama.
Saudades daqueles tempos
Mas gente morta não ama.

III

Morto estava,
O homem em seu cavalo.
Mas ele ainda andava
Logo ao cantar do galo.

Pensava em seu destino:
A estrada, a corda e a morte.
Lembrava de quando menino,
Dos tempos de boa sorte.

O homem morto
Resolveu mudar seu trajeto.
Caminho com pedras e lodo,
Apenas o que julgou ser certo.

Intimamente pensava
Estar novamente sofrendo
A estrada o cansava
Mas estava vivendo.

IV

Ficava a observar
O horizonte passageiro,
E pegava-se a admirar
O vento mensageiro.

No fundo sabia a moça,
Que amor nunca morre.
Tinha ela crescente esperança:
Ter aquele que o amor socorre.

Um homem um dia morto,
Ao palpitar de uma saudade ressurgiu.
Aquele que outrora amou torto
Sua fé no amor reconstruiu.

Encontrou-se o falecido
Com seu amor do passado.
Ter um amor repreendido,
É como ter a vida cessado.

Fabiano Favretto

6 comentários:

  1. Sensacional! O que mais posso dizer? Adorei! Abs,

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    1. Obrigada pela visita e pelo comentário, cara Sueli.
      Volte sempre quando puder. :3

      Abraços,
      Fabiano Favretto

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  2. A poesia é o em versos regresso da paz que se ia.
    GK

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    1. A poesia é alento
      Para meus dias de guerra.

      Abraços,
      Fabiano Favretto

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  3. Adorei seus poemas, Fabiano. Eles carregam uma complexidade no conteúdo ao passo que carregam a simplicidade na estrofe e rima, e é esse aspecto que me fez adorar teu blog de primeira :)

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    1. Opa!
      Fico muito grato.
      A simplicidade carrega consigo
      Algo peculiar. Algo que nos toca.

      Abraços,
      fabiano Favretto

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