Cansei de ser o bendito cordeirinho.
Cansei de ir em silêncio ao matadouro.
Cansei destas regras, alma de ouro,
Cansei de ser mais um Coitadinho.
Cansei dos dias, dos meses, das horas.
Cansei de fazer tudo da forma certa.
Cansei de sempre andar na reta.
Cansei do ontem, do amanhã e do agora.
Cansei da TV, do celular e computador.
Cansei dessa vida fútil mecanizada.
Cansei de mim, da forma complicada.
Cancei do tédio, do ócio sempre aterrador.
Cansei do bem, do mal e do neutro.
Cansei dessa hipocrisia descarada.
Cansei do carreiro, da rua e estrada.
Cansei de ser eu mesmo e de ser outro.
Cansei de pensar e de produzir.
Cansei de correr atrás do melhor.
Cansei de tentar evitar o pior
Cansei se sempre me redimir.
Cansei desta canseira idiota.
Cansei da paz e da boa vizinhança.
Cansei de tentar ter esperança.
Cansei de tentar ser patriota.
Cansei de escrever minhas poesias.
Cansei dessa droga de hortografia.
Cansei desse escrito, hagiografia,
Cansei das falsas e santas alegrias.
Cansei de ser homem paciente.
Cansei de ser tranquilo e alegre
Cansei de ser sempre entregue.
Cansei de ser sempre insistente.
Cansei, e fui vencido pela canseira.
Fabiano Favretto