segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Requerida

Para Suelen

Ah, querida.
Queria você
Todo dia.
Queria, ah.
Você todo dia,
Querida.
Você, querida
Ah, queria
Todo dia.
Ah, todo dia
Queria
Você querida.
Ah, você
Todo dia
Requerida.

Fabiano Favretto


Crônicas de um Caipira #9

- Véééééiaaa! Cheguei!
- Ô véio, até que enfim! Caçô arguma coisa?
- Que eu cacei, cacei. Mas é meio esquisito!
- Eita! O que que é esquisito?
- Vem cá com eu, que mostro procê.

Eles saem e vão em direção à estrada.

- Óia lá veia! Óia o tatuzão que eu peguei!
- Nóóssa véio! É verdadade!
- Nem deu tempo dele corrê! haha
- Vamo chegá mais perto pra vê!
- Vamo!
- Mas é um baita tatuzão mêmo!
- Né? 
- Mas véio.. o que que é esquisito? Ainda não intendi!
- Óia mais de perto!
- Meu Deus do céu, véio! Não acredito que ocê feiz isso!
- Fiz o que?
- Ocê matô o Fuléco!
- Fuléco? mas que diacho é isso?
- Aquele tatu da copa!
- Mas como eu ia sabê se a gente só escurtô pelo rádio?
- Ah véio, agora já foi!
- Acertei sete tiro, mais um eu perdi.
- É, fazê o que né. Vô esquentá a água pra pelá o bicho.
- Ta bem véia! Tô c'uma baita fome!

A janta foi preparada, e na mesa o tatu foi servido.

- Mais o que será que esse tatu tava fazendo pra essas banda?
- Não sei, véio. Vai que tava desempregado?
- Só sei que perdêmo a copa, e ele perdeu a volta pra toca.
- Verdade mêmo! haha!
- Véia, esse tatu tá bao mêmo! Shor de bola!

Fabiano Favretto

29

E daqui a pouco acabará.
Está escrito. Acabará.
Menos que os outros,
E mais que normal.
Porém, acabará.
Este meu fevereiro
Em febre, acabará.
Mais um dia.
Mas ainda,
Não é o bastante.
Não obstante,
Mais uma chance
De fazer sempre
A mesma coisa.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Cantos

Não tendo nada para escrever,
Vim mostrar o canto do meu quarto
Que eu mais gosto de ver:


Na verdade, por assim dizer,
Vim mostrar os cantos
Que eu gosto de ler.


Fabiano Favretto

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Motor da espera

A ansiedade é fogo,
E esperança é combustível.

Fabiano Favretto 

Na placa

Sou como tiro na placa:
Eu bato e passo.
Posso até deixar marca,
Mas jamais saberão
Quem furou o sinal.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

É? Ou não é?

É imoral o mortal,
E imortal o moral?

É moral mudar,
E modal murar?

É normal morar,
E moral normar?

Fabiano Favretto


Mesmo a esmo

Não sei se tem sido eu a esmo,
Mas sei que sou eu mesmo.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Cansei

Cansei de ser o bendito cordeirinho.
Cansei de ir em silêncio ao matadouro.
Cansei destas regras, alma de ouro,
Cansei de ser mais um Coitadinho.

Cansei dos dias, dos meses, das horas.
Cansei de fazer tudo da forma certa.
Cansei de sempre andar na reta.
Cansei do ontem, do amanhã e do agora.

Cansei da TV, do celular e computador.
Cansei dessa vida fútil mecanizada.
Cansei de mim, da forma complicada.
Cancei do tédio, do ócio sempre aterrador.

Cansei do bem, do mal e do neutro.
Cansei dessa hipocrisia descarada.
Cansei do carreiro, da rua e estrada.
Cansei de ser eu mesmo e de ser outro.

Cansei de pensar e de produzir.
Cansei de correr atrás do melhor.
Cansei de tentar evitar o pior
Cansei se sempre me redimir.

Cansei desta canseira idiota.
Cansei da paz e da boa vizinhança.
Cansei de tentar ter esperança.
Cansei de tentar ser patriota.

Cansei de escrever minhas poesias.
Cansei dessa droga de hortografia.
Cansei desse escrito, hagiografia,
Cansei das falsas e santas alegrias.

Cansei de ser homem paciente.
Cansei de ser tranquilo e alegre
Cansei de ser sempre entregue.
Cansei de ser sempre insistente.

Cansei, e fui vencido pela canseira.

Fabiano Favretto

Asco

Eu sinto desprezo por esse meio,
Que uns ousam chamar de transporte;
Mas que eu chamo de rebosteio,
Pois deixa o povo à própria sorte.

Eu sinto um nojo maior que o próprio nojo
Ao pagar para andar nessas porcarias.
Nem sequer mínima dignidade eu vejo.
É algo que estraga com a minha alegria.

Eu tenho vontade de mandar à merda
Toda essa porcaria de atraso que acontece,
Pois sei que os serviços piorarão na certa,
E o povo não fará nada. Isso me entristece.

Eu amaldiçoo três vezes, e com raiva,
Essas empresas que só sabem tivar vantagem
Do povo otário, que sempre cala
E aceita essa puta sacanagem.
Fabiano Favretto

oãsrevni

.airésim a zart mébmat E
oãdilos zart ohlugro O
;airétam me oruD
,oãçaroc osohlugrO
.adíod e etsirt acif euQ
,adiv a etrevni oãdilos A
.etnemlacitrev mébmat E
,etnemlatnoziroh es-etrevnI
.airádilos ,siod a adiv À
airártnoc é airátilos adiv A
.airánidroartxe ,zap me adiv À
airártnoc é oãdilos ad rod A


Fabiano Favretto

;(

Culpa?

Memorando,
Remoendo.
Remorando,
Me moendo.

Fabiano Favretto

Calor do momento

Tu, pira
Em chamas.

Fabiano Favretto

Alcatraz

Quero me afogar
Na piscina desta taça,
Para que a justiça faça
O incerto vigorar.

Não quero pensar
Que um dia terei paz,
Nesta surda alcatraz
Feita de penar.

Fabiano Favretto

Medo

Correr correr
Veloz veloz
Morrer morrer
Atroz atroz
Vencer vencer
Feroz feroz

Fabiano Favretto

Desperado Coração

Desesperado
Em ilusão.
Desapropriado
Em inanição.
Desencorajado
E sem opção.
Desconcentrado
E sem razão.
Despertado
Na solidão.
Desencantado
Na situação.
Desconcertado
E sem ação.
Desperado
Meu coração.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Lembrete

Para Suelen


Escrevi um lembrete
Para te agradecer,

Mas lembrei de um bilhete
Que esqueci de te escrever.

No entanto, escrevestes
Que esqueci de te lembrar,

A lembrança que esquecestes
Que pra sempre vou te amar.

Fabiano Favretto

Bilhete

Escrevi um lembrete
Para lembrar de te esquecer,

Mas lembrei de um bilhete
Que esqueci de te escrever.

No entanto, escrevestes
Que esqueci de te lembrar,

A lembrança que esquecestes
Que deixei de te amar.

Fabiano Favretto

O trânsito

O trânsito, coluna vertebral de ferro,
O karma de meu fatídico dia-a-dia,
Me deixa desanimado, um prego,
Martelado na minha rotina fria.

O trânsito, faróis andrógenos,
Em filas quilométricas e ranzinzas.
Permeiam meu presente halogeneo
De viver mais uma segunda cinza.

Fabiano Favretto

Coitadinha

Em meio o verde cinza da cidade tinha
Azul petróleo, flor amarela. 
Coitadinha.

Fabiano Favretto

Que delícia

Volta as aulas, que delícia!
Ônibus cheio escrotamente
Nesta segunda característica
De dor e raiva (estritamente).
Igual a de Jó, dai-me paciência,
Para andar neste transporte 
Precário, em decadência.

Fabiano Favretto

Mas acabei rimando

As rimas quando aparecem
Me deixam inspirado a escrever.
Mas quando desvanecem,
Quem sobra para me socorrer?

Não quero rimar uva
Com guarda-chuva.
Não quero rimar porta
com a palavra "torta".

Não quero rimar dor
Com o frio amor.
Não quero rimar beijo
Com um simples queijo.

Quero rimas boas
Para eu ruir
E desconstruir
Palavras bobas.

Mas agora, talvez,
Eu tenha rimado 
Ridiculosamente
Mais uma vez.

Fabiano Favretto

Assovio

Na boca da noite
O vento se faz assovio.
Fabiano Favretto

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Procurei

Eu não sabia estar perdido,
Então não sai me procurar.
Mas num instante eu me achei,

Sozinho, tão desiludido
Que não pude caminhar.
Mas num instante eu me achei,

Tão aflito, comovido
Que o que eu fiz foi só chorar.
Mas num instante eu me achei,

Com um sorriso escondido,
Que não sei como revelar.
Mas num instante eu me achei,

Eu sabia estar perdido.
Então sai me procurar,
Mas eu nunca me achei.

Fabiano Favretto



Inspirado pela música do saudoso Cartola:

Cartola - Preciso me encontrar.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Flores

Para Suelen:

Beijo, jardim:
Lábios
Cor-de-rosa.

Fabiano Favretto

Coração

Não sei se é saudade,
Não sei se é vontade;
Não sei se é vaidade,
Não sei se é metade.

Não sei se é caminho,
Não sei se é sozinho;
Não sei se é carinho,
Não sei se é pouquinho.

Não sei se é abraço,
Não sei se é escasso;
Não sei se é pedaço,
Não sei se é compasso.

Não sei se é emoção,
Não sei se é comoção.
Não sei se é ilusão:
Só sei que é meu coração.

Fabiano Favretto

Tardes

Estas tardes quentes
Em toda minha existência,
São a paz, o âmago,
Equinócio da temperança.

São sabores equivalentes,
São o ápice da experiência.
São borboletas no estômago
São o sentimento de esperança.

São jovens inconsequentes;
Mas jovens em suma essência,
Onde aparecem como um mago
N'um espetáculo chamado lembrança.
Fabiano Favretto

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Viva!

Mate sem alarde,
Mate sem moderação.
Mate a saudade,
Mate o seu coração.

Mate o sereno,
Mate a madrugada!
Mate sem veneno,
Mate não pela espada.

Mate à vontade,
Mate sem morte.
Mate sem vaidade
Mate a sorte.

Mate a relva!
Mate o que sobrou de raiz.
Mate sem raiva
Mate o tempo em que foi feliz.

Mate-se.
Aí depois de matar-se,
Não morra.
Substitua o "mate" pelo "viva".
E viva!

Fabiano Favretto

Sujeito

Qual o homônimo
De um anônimo?

Fabiano Favretto

Tudo é uma perda de tempo!

Há quem se engane
Achando que ao correr
Possa ganhar tempo. 
Não ganha. Talvez economize.
Mas não ganha.
Perde.
Não inventaram freio para o relógio.
Mas por que diabos inventaram o relógio?

Fabiano Favretto

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Tarifa cara

Três e noventa
Deve ser no máximo
Três e não inventa.

Fabiano Favretto

Sombria terça

Vivo mais uma terça-feira sombria
A qual devora vorazmente minha alma;
Antes fosse somente cinza, bastaria!
Mas é insistente em me tirar a calma.

Terça dos becos sujos e garoa fria,
Dos vales tortos por onde ando.
Do desespero que em mim recria
Os pesadelos que vem galgando.

Nesta terça não tenho fé, nem luz.
Não tenho força e não tenho medo.
Tenho somente essa minha cruz:
Terça feira em seu obscuro segredo.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Balé das borboletas

No ar as borboletas
Em espiral declinam,
Com asas obsoletas
Que ao sol brilham.

Dançam em duplas,
Fogem sozinhas;
Bailam astutas,
Na brisa franzina.

Decolam ao céu
Aviões das flores,
E marcham ao léu
Sem dor nem amores.

O balé das borboletas
No teatro do jardim,
Entre rosas e violetas
Temo que chegue ao fim.

Fabiano Favretto