quarta-feira, 29 de julho de 2020

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Maior

Queria escrever um poema maior,
Maior que a minha vida, e quem sabe
Um poema que em mim não cabe
E que se iguale quão e totalmente ao amor.

A vida é tão obstinadamente necessária
Que me pergunto se vivo ou escrevo:
É a vida que nestes versos descrevo?
A vida não é metrada e menos ainda, ordinária.

Que as palavras venham então
Como me vêm os dias!
Sem pressa, mas sem resignação;

Sem momentos que sejam alheios
À verdade, à esperança e à luta,
Que sejam versos e instantes verdadeiros.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Memória curta

Que triste passado enganoso
De uma sociedade sem memória:
O silêncio é a pior das mentiras
E esconde um passado vergonhoso.

Fabiano Favretto

domingo, 19 de julho de 2020

Ba(o)sta!

Me sinto impotente,
Me sinto de mãos atadas.
Como sentir-se contente
Se as formas certas 
São consideradas erradas?

E os pés que tocam esta terra,
Já não sentem mais o prazer
Nem o orgulho que outrora sentira:
Agora não há mais o que fazer
Nesta terra que regada
Com sangue de inocentes sido havia!

E a besta, de poder mau e delirante
Apoiado em seu rebanho cego
(Cego e na maldade confiante)
Avança por todo instante
Deixando a morte, um rastro eterno.

A pílula profana, semente da discórdia
Plantada na incerteza e regada em desculpas,
Tem sido consagrada em rituais mentirosos:
Uma hóstia herege de escárnio e ódio
Neste culto ao fim dos tempos.

E como poderia eu viver sem pesar?
Poderia na ignorância achar um conforto,
Ou mesmo abrigo na recusa à realidade...
Estaria eu menos absorto em lutas vãs,
Ou mesmo menos preocupado de verdade.

Fosse hoje a liberdade e a honestidade
Outras formas não válidas de encontrar
Rotas que levem à bondade,
Aqui deveras teríamos perdido a luta.

Bastaria um pouco de empatia,
Ou mesmo um pouco de percepção
Levados ao tato, olhos e ouvidos.
Só assim talvez, de antemão,
Outra vez, com paciência e foco:
Na batalha contra a besta medíocre
Adjunta de sua prole imunda de corrupção,
Romperíamos esse ciclo de ódio
Onde todo mal deste país persiste.

Fabiano Favretto



quinta-feira, 16 de julho de 2020

Defensivos

Vou comprar orgânicos
Ouvindo mutantes.
Sem defensivos,
Sem sinto de segurança.
Vou comprar não-mutantes
E ouvir sons orgânicos
Defendendo os ouvidos
Sem senso de perigo.

Fabiano Favretto

Mas nem tanto

Na quina
Da quadrada
Lombada
Da esquina,
O canto
Paralelo
É amarelo
Mas nem tanto.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Pixe

Poesia
Tapa-buraco:
Gruda até
Na sola
Do sapato.

Fabiano Favretto

Maré

Para Karoline

Minhas poesias são grão de areia na praia de tua existência.

Fabiano Favretto

De

De coque
De seio
De fora;
De cócoras
Desenho
De croqui.
De ver
Delacroix,
Dejavú e
Desenxabi.

Fabiano Favretto

Eu sabia

Seguindo o meu eu no passado,
Encontrei-me comigo mesmo no presente.
Meu relatório de investigação apontou
Que no passado eu era eu,
Mas que agora no presente
Eu ainda sou.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Escrever um poema

Fui escrever um poema
Sobre esquecimento,
Mas havia me esquecido
Que não sabia escrever.

Fabiano Favretto