segunda-feira, 30 de maio de 2016

domingo, 22 de maio de 2016

O Caipira se foi


Para meu Vovô

De agora em diante,
As tardes serão cinzas.
De agora em diante,
Os dias serão ranzinzas.

Não pelo modo que talvez
Amadureçam os frutos;
Sei que hoje, desta vez,
Será cinza pela dor e luto.

Me disseste certa vez,
Que nunca tiveste medo da morte;
E me disseste uma vez
Que nem sempre teremos sorte.

Tu, que foste caipira a vida toda
Na sua singela vivência habitual
Como um senhor da rotina tola
Frequente no amanhecer, um ritual,

Fumava seu cigarro de palha,
Luz amarela no profundo espaço escuro
Onde fumaça, onda, o que o valha
Fazia formas no universo obscuro.

Seja na madrugada fria ou morna,
Sempre estava aquele ponto a luzir
Na varanda, constelação que se forma
Até a manhã começar a surgir.

Tu também foi lavrador experiente:
O suor de seu trabalho regou o chão.
Arou a vida, mas não simplesmente,
Que saudades da roça, que tempo "bão".

Agora, foste integrado à própria terra
Que outrora um dia lavrou.
As dores desta vida, esta guerra,
Tudo o que foi obstáculo, tu superou.

O caipira se foi, e não mais voltará.
O caipira com seus causos e histórias
Teve de partir. Por onde que ele andará?
Custa muito guardar suas memórias?

Disseste não ter medo da morte,
E me disseste para eu ter medo dos vivos.
Porém a ti chegou a morte;
O que virá durante este tempo em que vivo?

Durante sua vida, deixaste doze sementes,
Cujas quais somente quatro vingaram:
Neusa, Niva, João, Joanina - Descendentes
Seu sangue neles corre - os filhos cresceram.

E em mim tem corrido também:
Sangue de caipira tem deixado efeito
Neste neto que escreve a ti, no além,
Embora não seja eu ainda caipira perfeito.

Observava em ti vasta experiência,
Na sua visão política do nosso Brasil.
Se houvesse mais estudo e ciência,
Talvez seria o melhor político que já se viu!

Tiveste também invejável inocência,
Nas palavras que às vezes proferiu;
Não posso descansar minha consciência,
Em frente às críticas que tu inferiu.

Foste sábio e certo na vida,
Embora lágrimas nunca o vi soltar.
Vida dura, mais que sofrida
Foste valente em não chorar.

Não chorou, mas choramos nós
Com sua partida e sua ausência.
Lembraremos sempre de vós,
Dos dias conosco, de sua permanência.

Fostes embora desta vida terrena
E nos deixastes em pranto e dor.
Que a luz de Deus, forte e plena
Deixe-o na paz de Nosso Senhor.

Fabiano Favretto


terça-feira, 10 de maio de 2016

É Samba

Quando a noite é samba,
No céu o palco é feito
De astros, brilhos perfeitos
Porque a noite é bamba.

Samba, samba centenário,
Em noites de alegria
Que mostram um cenário
De pronfunda harmonia:

O pandeiro de lua
E estrelas rítmicas,
Constelações artísticas
Que iluminam a rua,

Dão compasso ao mulato
Que sorri e abraça
Seu companheiro cavaco
E anima a praça.

É esse samba exato
Que à vida se enlaça.
É esse samba, o ato
Da vida toda, a graça.

Fabiano Favretto

domingo, 8 de maio de 2016

Água e Sal

Quais janelas orvalhadas
Do mais translúcido cristal,
Estão as vistas enuviadas
Envoltas em água e sal.

Lágrimas que hora transbordaram
E agora como cachoeiras chovem,
Antes nas pálpebras lagos formaram
Ao passo que agora as dores dormem.

E no cerrar dos olhos tristes,
Esconde-se todo brilho verdadeiro
Do valor real e transparente;
Da dor que sempre vem primeiro.

Fabiano Favretto

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O patinho de borracha sabe:

Há mais mistério
Em uma banheira com espuma
Do que em todo
O vasto oceano.

Fabiano Favretto

Conjugando-me vampiro

Eu,
Nós
Fe
Ra
Tu

Fabiano Favretto

Como ousa o Sol

Como ousa o Sol
Esquentar minhas tensas
Tardes de ficar à toa?

Como ousa o Sol
Iluminar minhas pensas
E covardes pontas da coroa?

Como ousa o Sol
Encontrar minhas intensas
Imagens da luz que se amontoa?

Como ousa o Sol
Penetrar minhas densas
Nuvens cinzas de garoa?

Fabiano Favretto

Déjà vu

Jurei já ter-lhe escrito
Embora nunca ter ousado
Escrever-te.

Fabiano Favretto

Luz-Sombra

O que sou à sombra 
Dos mestres poetas?
Assombrado talvez...
Assombroso nunca!
Assombra-me também
A assombração da petulância:
O que é minha sombra
À luz dos mestres poetas?

Fabiano Favretto

Qual pena

Peguei na pena
Para pagar a pena.
Que isto valha a pena!
Não vale... Que pena.

Fabiano Favretto