Mas o que é a morte, e o que é o tempo
Senão desventuras desta vida que passa?
Há um fúnebre e um lúgubre lamento
Quando a vida esvai-se tal qual fumaça.
E se os relógios não fossem regrados
À este nosso pequeno pedaço de tempo?
E os sinos das igrejas não fossem soados
Haveria-se de poupar entristecimento?
Como haveria um começo a propor-se
Se a terra virgem nunca fosse maculada?
Com os ossos e os espinhos a decompor-se
Nascem flores da semente germinada.
Como pode o homem, água e carbono
Acovardar-se perante ao fim eminente,
Abandonando sonhos neste sono eterno
Desta sua vida tola, banal e decadente?
Caixa de madeira, anéis de ouro e vermes
O relógio da natureza limpa o desnecessário.
Sobram cabelos, ossos sem tons de peles,
Faz o ouro a decoração do novo ossário.
E se os ponteiros dos relógios que avançam,
Retrocedessem de formas não-parnasianas:
Abririam-se os olhos que um dia se fecharam
E pouparia-nos de uma vida fria e profana?
Nesta vida a qual chamamos de tempo,
E nesta dança a qual chamamos de morte
Estamos nós nesta valsa com intento
De sobreviver a elegia da própria sorte.
Fabiano Favretto