Para Nhô Filisbino, o dia de hoje é triste, frio e cruel. Mas carrega consigo esperanças.
O caipira, coitado, derramava as lágrimas quentes sobre a madeira gelada que estava a serrar.
É madrugada de domingo, e o Sol preguiçoso, custa a nascer. Ele não quer que nasça.
Com tábuas e pregos, vai tecendo a estrutura. Martela, bate e queixa-se do frio.
Ele pega uma pá e começa a fazer uma cova. O trabalho o deixa satisfeito, mas lembra-se que o dia é triste.
Às 6 e meia da manhã os raios solares iluminam a estrutura em formato de caixão.
O dia amanhece, e antes que sua esposa acorde, ele volta à sua casa e deita-se à cama. Poucos minutos depois, Nhá Gertrudes acorda.
- Ô véio, ocê não cumprou a cama pra minha mãe inda? Ara, ela chêga hoje ômi.
- Num precisa não véia! Eu mêmo que fiz a cama. Tâmo meio sem dinhêro.. a prantação de cebola esse ano num deu boa não. Mais, como adoro minha sogrinha resorvi fazê uma surpresinha. Tenho certêza que ela vai caí dura de felicidade.
- Crédo veio! Num diz isso não!
- Ué! Pode acontecê.. Ela pode gostá taanto da cama, que se batê as bota, vai querê sê sepurtada juntinha com a cama. Pois é. E como sô um cara previnido, fiz até um quarto pra ela!
- Como assim, véio? Exprica direito isso!
- Num é iguar aqueeeles quartão que tem na casa do barão lá.. Mais até que tem uns sete parmo de artura!
- Sete parmo? Ocê feiz uma cova pra minha mãezinha? Foi? Seu bocó de mola!
- Eita lasquêra! Muié que só recrama mêmo! Se quisé dêxo uns quatro pármo só...
Fabiano Favretto