E bordei Cristo
Em pontos de cruz.
Fabiano Favretto
Para Karoline, meu amor.
Hoje te vejo com outros olhos,
tão diferentes daqueles que se apaixonaram!
Não tenho mais olhos embaçados,
São olhos certos que a ti desvendaram.
Meus olhos não poderiam estar mais certos
Do que agora, quando estão a te olhar:
Te olhar com olhos de razão do amar
Afirma que te amar é o correto!
O que eu vejo são as formas que tanto quero,
Formas além do que um simples olho pode ver,
Além da simples visão, de modo sincero
Ver sua alma e todo o seu ser,
Tange também o que eu espero:
Através de seus olhos transparecer.
Fabiano Favretto
Pintei vidro
Na tinta a óleo.
A taça quebrou
E a tinta vermelha
De vinho
Escorreu pela tela.
Fabiano Favretto
Na fronte
A frase
Afronta,
E em frente
Frisando
Afrouxa.
A fria
Fruta
Defronta:
A franca
Se sofre,
Se Frustra.
Fabiano Favretto
Recorro agora ao medo,
Sentimento tão contemporâneo.
Ele que cresce nas hachuras
Desenhadas em remendos
Do nosso tempo instantâneo,
Repletos de ranhuras.
O medo que não é só amarelo,
Mas também invisível e covarde
A ponto de pronunciar-se
Ao decorrer do menor pesadelo.
O medo chega sem alarde
Nos fazendo suplicar por catarse.
Ora, tão primitivo e essencial
É esta parte de nosso intelecto:
O medo do que não conhecemos
Tem sido na evolução, crucial,
Em seus diversos aspectos.
O que acontece quando morremos?
Mas talvez o medo
Seja diferente da covardia.
Por detrás do medo há uma defesa,
Enquanto da covardia o enredo
É uma fajuta alegoria
Para o caçador que se torna presa.
O medo é nobre em sua essência,
Pois não é antônimo da coragem.
Há corajosos que por natureza
Não trazem em si sapiência,
Os atos carecem de pairagem.
Traz o medo, em si, a delicadeza.
O medo arrebatador
Nos paralisa e nos move.
O medo do que virá é certo,
E nem por isso é desmotivador.
O medo ao certo nos comove,
Há muito medo sob esse céu aberto.
Este velho amigo
Que é digno de tantos receios
Terei um dia melhor compreendido.
Seja na bonança ou no perigo,
Seja em quais forem os meios
O medo estará sempre comigo.
Fabiano Favretto
Flores são belas
Onde quer que elas nasçam.
Ruas estão em algum lugar
Ainda que não levem a lugar algum.
Brincadeiras sem graça alguma
Oneram o sentido da piada:
Leis são somente palavras
Sem qualquer validade.
Onde reside o rei cego?
Nada contra a correnteza da vida,
Afoga-se em leite condensado.
Rezemos para que larguem
Os ossos que talvez sobraram.
Fabiano Favretto
As estrelas são dentes de leite
Que estão prestes a cair
Em qualquer lugar
Da Via Láctea
Fabiano Favretto
A minha janela cujas madeiras
Foram surradas pelos dias,
Criou com resiliência
Musgos em suas ombreiras.
Olhei com certa curiosidade
Até onde os musgos apareceriam,
E vi que de verde toda a canaleta cobriam;
A janela estava travada com propriedade.
De que maneira havia ignorado
O avanço desta força oxidante?
Percebi estar diante
Da ausência do abrir, jamais executado.
Que falta me faz essa liberdade!
Que falta faz o ar que não mais entra.
O verde-musgo é a ferida que hoje marca
A minha janela nunca mais aberta à tarde.
Fabiano Favretto
- Antigamente isso aqui era tudo mato!
Disse a chefe para a nova depiladora contratada.
Fabiano Favretto
M = Tᴿ
----
E
Onde:
Minha cabeça é uma granada
Pronta para explodir.
Está sem o pino,
E o que venho pensando
É um estopim.
Mas calma, não deixemos
Cair nossos pensamentos,
(eu não atiro palavras)
Eu deveria parar
De pensar bruscamente.
Fabiano Favretto
I - Tremores
Com a viola em cacos,
Buscava encontrar sentido,
De onde havia se metido.
Já sentia um grande asco
De tudo o que havia passado,
Dos monstros, da recente realidade:
Parecia a mais sórdida verdade
De que à loucura estava fadado.
Suas mãos tremiam novamente,
Sua cabeça parecia que ia explodir.
De repente, de joelhos veio a cair
Com as imagens que viu em sua mente.
Eram imagens complexas e densas,
Que estavam além de qualquer compreensão,
E que jamais poderiam até então
Se encaixar em qualquer mundana crença.
Sua visão foi ficando embaçada,
E de bruços foi de encontro ao chão.
Tudo parecia agora uma grande ilusão:
Parecia que sua vida estava acabada.
- Não! Não haverá de acabar aqui
A tua história mal começou!
E o seu trato ainda não pagou,
Então levante e saia agora daqui!
II - Claridade
Do escuro ao claro,
A mente do violeiro retornou.
De joelhos esse tempo ficou,
Apenas havia alucinado.
Possuía uma fraca noção
De que uma voz havia ouvido,
E que isso deu sentido
Para a quebra da alucinação.
Olhou ao redor, mas nada via,
Buscava na relva, no alto,
À distância, no mato,
Mas lá nada havia.
Chamou por alguém,
Nenhuma resposta obteve.
Sentiu a brisa fria de leve
E um assovio mais além.
Seguiu o som que agora aumentava,
Enquanto o vento ainda mais frio,
Foi lhe dando um arrepio
Enquanto se aproximava
De uma árvore grandiosa.
Aparentava ser mais velha
Que tudo ao redor dela,
De uma maneira misteriosa
III - a árvore
Observava com bastante atenção:
A árvore parecia um monumento,
E que com a brisa leve do vento
Assoviava como em uma canção.
De repente os galhos se entortaram,
E em sua grossa casca algo apareceu,
Estupefato o violeiro percebeu
Que os veios em um rosto se transformaram
A paisagem ao redor também se modificou:
Os galhos se tornaram como braços,
E nas raízes apareceram velas e pedaços
De ossos de alguém que um dia ali passou.
Pensou em fugir daquele lugar,
Mas aquela cena o fascinava.
Não era nada do que esperava,
Porém decidiu não recuar.
Decidiu então gritar,
"Se está vivo, dê uma resposta!"
Fez nesse pedido uma aposta
Pensando que não iria adiantar.
Porém os olhos se abriram,
E tudo ao redor ficou escuro.
Não se sentiu mais tão seguro
Depois que as velas se acenderam.
IV - A coisa
"Fugitivo de Sheol, o que você quer?"
Indagou uma voz ofegante,
Que da árvore em tom sufocante
Ao violeiro pediu parecer.
Diante daquele questionamento,
O homem corrigiu sua postura,
Pois já naquela altura
Não havia qualquer alento
Que o desse segurança.
Queria ao menos parecer forte,
Já havia evitado a morte
Acreditava não haver esperança.
Com um ímpeto de coragem
Ele perguntou à arvore imponente:
"Quem é você? Diga rapidamente!
Pois logo quero seguir viagem"
"Sou rejeitado pela terra e vermes,
Não posso ir ao céu, nem ao inferno.
Isto que vês é meu destino eterno
Meu corpo tornou-se cerne"
Fui tão mau que não posso descansar,
A menos que algo bom eu possa fazer.
Meu corpo seco poderá se desfazer.
Eu te ajudo se você me ajudar"
V - A proposta
Desconfiado o violeiro estava
Pela proposta inquietante,
Mas ainda que relutante,
Percebia que nada mais lhe restava.
"Como podes me ajudar,
Se és uma árvore somente?
Como saberei se você não mente
Para depois querer me matar?"
Respondeu a criatura de modo eloquente:
"Estou aqui antes de muitas coisas,
Antes mesmo de tu e de tuas escolhas.
Sei que poderá fazer diferente!
SimA viola que você leva consigo
Está tão quebrada quanto seu fado,
Não precisará mais carregar esse fardo
Se entenderes que não sou seu inimigo.
Quando jovem fui o melhor artesão
De instrumentos do Novo Mundo,
Porém me sentia moribundo
Queria tudo, era muita ambição.
Fiz um pacto com aquele que conhece,
E acabei assim amaldiçoado.
Consertarei tua viola se for de teu agrado
Mas para isso quero que me vingue."
VI - O conserto
Refletindo de maneira preocupada,
O violeiro sentiu-se incomodado:
Deveria acreditar no diabo
Ou naquela criatura enraizada?
Decidiu com relutância
Dar ouvidos aquele medonho ser.
Olhou para ela com desprazer
Novamente ele sentia ânsia
"Te ajudarei. Conserte minha viola!
Como você fará o conserto?
Não sei se é o modo certo,
Mas faça-o que eu quero ir embora!"
A criatura começou a explicar:
"Em meio ao caule que me sustenta,
Uma abertura poderá ser feita.
Ali a sua viola você irá depositar.
Para começar, de teu sangue preciso
Que se misture à seiva que em mim corre,
Assim o que é quebrado morre
Para dar lugar aquilo que será vivo!"
Após a mistura profana encerrada
Uma abertura sombria ali surgiu.
O violeiro a viola introduziu
Achando ter feito a escolha errada.
De cima vemos tudo como uma maquete,
Onde pequenos autômatos vagam
Com certos destinos diferentes.
À noite todos se recolhem
Para dar voz à rua,
Que muito eloquente,
Balbucia
Um latido de cão,
Uma moto distante,
Um assovio de alguém.
No poste a luz de mercúrio
Pisca às vezes sim, às vezes não,
Enquanto mais alto ainda,
Tecendo redes no céu,
Um avião passa
Com seu rugido de monstro
Metálico,
Zombando
De tudo que é janela
Aberta,
Abaixo.
I - O Caminho
Num caminho tortuoso
Caminhando ele estava,
E a toda hora imaginava
Que todo passo é perigoso.
O sol a pico ia queimando
Todo ser que ao relento ia,
Ao olhar para frente sua vista doía
Mas o violeiro continuava andando
Na mente daquele homem
Toda paz virava trevas,
E o caminho longo, deveras,
O deixava sem coragem.
Após andar grandes distâncias,
A torre de uma igreja o violeiro viu.
Da mesma igreja os sinos ouviu
E de receio, sentiu uma grande ânsia.
Encostou-se debaixo de um arbusto
Onde a sombra tornou-se abrigo,
Mas na verdade pensava consigo
Que aquilo que passava não era justo.
Em muito a sede corroía sua garganta
Enquanto ao centro da cidade ia chegando.
Avistou um bar, e nele logo foi entrando:
A bebida seria sua redenção sacrossanta.
II - A donzela
No balcão o violeiro chegou,
E ao bartender pediu um conhaque.
Com rosto franzido, o homem de fraque
Uma dose a ele entregou.
Ouviu uma voz ao seu lado
Que o seu nome havia proferido,
E ao ver quem era, ficou aturdido:
Uma linda donzela o havia chamado.
Ela após um riso cínico fala:
"Por que estás assim em frangalhos?
Ainda não terminou o seu trabalho!
Ou quer novamente encarar a vala?"
A bela imagem se desvaneceu,
Nos olhos vermelhos o mal ele viu.
Uma angústia no momento sentiu,
Mas o medo no momento perdeu.
Questionou assim, aquela mulher:
"Por que a mim apareceste agora?
Terminando meu drink, irei embora,
Então diga o que tem pra dizer!
Tome esta moeda agora,
Pois uma besta sua já derrotei,
E logo, esta parte do trato paguei.
Estou saindo! Te espero lá fora".
III - A tarefa
Estava um tanto cansado.
Esperava ele muito impaciente,
E num estalo, de repente
O Diabo apareceu ao seu lado.
Não tinha mais a forma daquela donzela,
E rindo, o Diabo já foi dizendo:
"Achastes que não sei o que vem acontecendo?
Tenho outra besta, e deve hoje mesmo detê-la"
Então o violeiro de modo sarcástico respondeu:
"Não me diga que é por que hoje é sexta-feira!
Pra mim essa coisa de monstros é tudo besteira,
E por que dentre tantos você me escolheu?"
"Não se sinta tão especial, violeiro,
Eu não te escolhi, apenas aconteceu.
Você teve tanto azar, amigo meu:
Foi você que me chamou primeiro
Deve você saber que não estou brincando:
Tu deverá derrotar hoje esta fera,
Pois ela aparece em uma específica era
Então trate de preparar logo um plano
Tome, pois estas cordas de prata
E afine sua viola de modo profano
Pois o monstro não tem ouvido humano.
Haverá tu de encontrar a afinação exata!"
IV - A afinação
Colou-se a trocar as cordas
Mas sentia-se relutante.
O vento tornava-se ululante
Enquanto passavam as horas.
Ao trocar as cordas, com efeito,
Pensou em uma maneira de afinar
Não tinha ciência por onde começar
As cordas não estariam talvez com defeito?
Tentou de muitas maneiras diferentes,
Mas nenhuma resultou em modo bom
A noite havia chegado, e nenhum som
Parecia sair de uma forma eloquente.
Ouviu uma voz grave ao seu lado,
Havia dito que o Diabo o enganou
Mas ali nada ele enxergou.
Aquelas cordas não deveria ter trocado.
Um desespero começou a ele chegar,
Pois havia muito tempo com isso perdido,
As cordas antigas não mais serviam, e desiludido
Desistiu de pegar as cordas antigas e recolocar.
Detrás de uma grande pilha de lenha veio
A besta que em direção ao violeiro correu.
A esperança do pobre coitado desvaneceu
Quando a besta partiu a viola ao meio.
V - A besta
Estava paralisado por tanta tensão
Pois não entendeu direito o que aconteceu,
Não sabia se era lobo ou homem o que apareceu
E aquilo estava voltando em sua direção
Tratou de mover-se imediatamente
Carregando a viola em pedaços:
Pelas cordas estava pendurado o braço
Balançando de um modo intermitente.
Viu um movimento de soslaio
E em direção à uma árvore alta correu
A besta no mesmo momento o surpreendeu
Aparecendo em sua frente como um raio
Em seguida veio rapidamente ao encontro,
Atropelando rapidamente o violeiro,
Que jogado pro alto por inteiro
Caiu de repente sobre o monstro
As cordas de prata enrolaram-se
No pescoço da fera que alto gritou.
Viu que as cordas de prata a queimou
Entao elas puxou ele mais forte!
De joelhos caiu a fera, com o pescoço queimando,
E logo o que era homem e lobo desistiu,
O violeiro com uma de suas maos ensistiu
Ir ainda mais as cordas apertando.
VI - A aparição
De repente um barulho ressoou:
Em fogo a criatura foi se transformando.
Ele rapidamente foi se afastando,
Mesmo assim uma mao queimou.
A moeda que no chão apareceu
Ele juntou e segurou firme em sua mão.
Estava cansado mais uma vez da situação
O que houve com a viola o entristeceu.
Enquando olhava a palma de sua mão
Novamente uma voz ouviu
Achou que estava ficando senil
Pois era a mesma voz que apareceu de antemão
À uma certa distância avistou alguém
E com passos trôpegos foi em direção.
Viu que era um sujeito com certa mansidão
E que tocava viola como ninguém
O sujeito de chapéu foi lhe contando
Que antigamente havia sido um dos melhores,
E que sabia que ali perto, nos arredores
Conserto para a viola poderia ir procurando
Uma ponte de esperança no violeiro surgiu,
E quando foi aquele homem agradecer,
Viu que ele acabara de desaparecer.
Então com a viola quebrada seu carreiro seguiu.
Fabiano Favretto
O segredo que agora conto
Do vôo que sempre estrova,
O pernilongo tanto tonto
Sua vida pelo sangue trava:
Milenares hematófagos,
Seus antepassados beberam
De faraós, antes do sarcófago;
Do sangue de reis se saciaram,
E voaram pelos jardins da Babilônia,
Picaram também Alexandre,
Que lá em Macedônia
Talvez passou raiva grande.
O pernilongo foi contemporâneo
De Gengis Khan e seu império,
Buscou sangue no subcutâneo
De todo o exército, com certo brio.
Presenciou as insônias de Dalí,
Que dos zumbidos surrealistas
Foi o salvador e agora vai
Ser sonho eterno de artista.
E a ti, mosquito medonho,
Palmas tenho que bater.
Meu dia anda tão enfadonho
Que em minhas mãos tem de morrer!
Fabiano Favretto
Plantei cem razões,
Colhi sem igual.
As piores divisões
Foram exponencialmente
As das raízes quadradas.
Fabiano Favretto
Uma canoa veloz
Descendo o rio
Rasgando os veios,
Veias e velhas
Artérias
Florestais.
Fabiano Favretto
Quando com fome
Saí do Egito,
Eu, Moisés
Pedi para Deus
Separar o mar para viagem.
Fabiano Favretto
O trauma dos gatos
Que foram expropriados
De algumas vidas,
Se caracteriza nas idas
Para uma rotina calma,
Para uma preservação de alma.
Os novelos são agora mais interessantes
Do que o muro alto que subia antes,
E ainda, a caçada que era noturna e constante
Foi trocada pela comida servida num instante.
O trauma ainda silenciosamente esconde
O segredo que começa sem se saber por onde:
A queda do alto não tem mais rotação,
Os pés não aguentam o corpo ao chegar ao chão.
O felino com as vibrissas cansadas
Esconde por detrás delas as miadas
Que não entoará mais nos telhados sozinho,
Somente no sofá, ao sol da tarde, baixinho.
Fabiano Favretto
Tive um dedo de prosa
Com a minha consciência,
De que toda rima
É só coincidência.
Fabiano Favretto
À Alcir Zanini, meu amigo.
Tenho um velho corvo
Que caga em minha cabeça,
Não posso fazê-lo que me obedeça:
Está se tornando para mim, um estorvo.
O corvo não é sombrio igual ao do velho Edgar,
Nem inteligente quanto o da fábula de Esopo.
É um corvo malandro, e de certa forma escroto
Que me faz ter vontade de matar!
Há, porém, tanta discórdia que ele propaga,
E na minha cabeça grita todavia, alto:
Sempre, sempre! E depois de sobressalto
Se discordo dele, o malandro, caga.
Pássaro prolixo e maldito!
Não sei de que maneira aqui chegaste,
Se da fauna brasileira tu não faz parte!
Dentro de minha cabeça, vivo com esse eterno grito:
Sempre!
Sempre!
Sempre!
Sempre!
Fabiano Favretto
Escuridão é o que me habita,
E nenhum pedaço de paz me chega.
Apenas trevas em mim tem espaço
E para o fundo esse caos me leva.
Da luz estou me afastando
Cada vez mais caindo por um precipício
Onde não vejo um fundo a princípio
À medida que vou afundando.
Desistindo sem pensar novamente,
Apenas aceitei a anestesia do nada,
Esperando que essa dor complicada
Desapareça para sempre.
Fabiano Favretto
Hoje só queria um dia cinzento,
Pois o Sol parece ironizar minha dor.
Queria frio ao invés do calor,
Queria chuva sobre o cimento.
Queria que a luz não entrasse pela janela,
Para não fazer eu ter esperanças,
Afinal dela só tenho lembranças
E sei que não é assim tão bela!
Quero acabar com toda vontade
De gritar que a vida é boa.
Sabemos que não é boa nem a metade.
Quero acabar com o sono da realidade
E continuar acordado em essência
Sentindo o frio da verdade pela eternidade.
Fabiano Favretto
Antes eu corria pelo mudo
Sem me preocupar com as sentenças.
Os anos se passaram,
E da mesma maneira que Atlas,
Sinti o peso do mundo.
Como poderia eu suportar
Sem cair de joelhos perante
À minha impotência?
Fabiano Favretto
Água
Queria eu ser
Para que no verbo
A minha queda não fosse cair,