segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Olhos

Para Karoline, meu amor.


Hoje te vejo com outros olhos,

tão diferentes daqueles que se apaixonaram!

Não tenho mais olhos embaçados,

São olhos certos que a ti desvendaram.


Meus olhos não poderiam estar mais certos

Do que agora, quando estão a te olhar:

Te olhar com olhos de razão do amar

Afirma que te amar é o correto!


O que eu vejo são as formas que tanto quero,

Formas além do que um simples olho pode ver,

Além da simples visão, de modo sincero


Ver sua alma e todo o seu ser,

Tange também o que eu espero:

Através de seus olhos transparecer.


Fabiano Favretto


Talhado em pedra

Meu pensamento
Está sempre esculpindo
Formas suas
No mármore
De minha memória.

Fabiano Favretto

Filme

Fotografo um futuro
Em preto e branco.
As cores irão
Se revelando
Com o tempo.

Fabiano Favretto

Eco

De toda a gritaria

O eco apenas

Ria


Fabiano Favretto

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Vidro

Pintei vidro

Na tinta a óleo.

A taça quebrou

E a tinta vermelha

De vinho

Escorreu pela tela.


Fabiano Favretto

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Frase

Na fronte

A frase

Afronta,

E em frente

Frisando

Afrouxa.

A fria

Fruta

Defronta:

A franca

Se sofre,

Se Frustra.


Fabiano Favretto


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O medo

Recorro agora ao medo,

Sentimento tão contemporâneo.

Ele que cresce nas hachuras


Desenhadas em remendos

Do nosso tempo instantâneo,

Repletos de ranhuras.


O medo que não é só amarelo,

Mas também invisível e covarde

A ponto de pronunciar-se


Ao decorrer do menor pesadelo.

O medo chega sem alarde

Nos fazendo suplicar por catarse.


Ora, tão primitivo e essencial

É esta parte de nosso intelecto:

O medo do que não conhecemos


Tem sido na evolução, crucial,

Em seus diversos aspectos.

O que acontece quando morremos?


Mas talvez o medo

Seja diferente da covardia.

Por detrás do medo há uma defesa,


Enquanto da covardia o enredo

É uma fajuta alegoria

Para o caçador que se torna presa.


O medo é nobre em sua essência,

Pois não é antônimo da coragem.

Há corajosos que por natureza


Não trazem em si sapiência,

Os atos carecem de pairagem.

Traz o medo, em si, a delicadeza.


O medo arrebatador

Nos paralisa e nos move.

O medo do que virá é certo,


E nem por isso é desmotivador.

O medo ao certo nos comove,

Há muito medo sob esse céu aberto.


Este velho amigo

Que é digno de tantos receios

Terei um dia melhor compreendido.


Seja na bonança ou no perigo,

Seja em quais forem os meios

O medo estará sempre comigo.


Fabiano Favretto



sábado, 7 de agosto de 2021

Letras capitãolares

Flores são belas

Onde quer que elas nasçam.

Ruas estão em algum lugar

Ainda que não levem a lugar algum.


Brincadeiras sem graça alguma

Oneram o sentido da piada:

Leis são somente palavras

Sem qualquer validade.

Onde reside o rei cego?

Nada contra a correnteza da vida,

Afoga-se em leite condensado.

Rezemos para que larguem

Os ossos que talvez sobraram.


Fabiano Favretto

Estrelas cai-dentes

As estrelas são dentes de leite

Que estão prestes a cair

Em qualquer lugar

Da Via Láctea


Fabiano Favretto

Verde musgo

A minha janela cujas madeiras 

Foram surradas pelos dias,

Criou com resiliência 

Musgos em suas ombreiras.


Olhei com certa curiosidade

Até onde os musgos apareceriam,

E vi que de verde toda a canaleta cobriam;

A janela estava travada com propriedade.


De que maneira havia ignorado

O avanço desta força oxidante?

Percebi estar diante

Da ausência do abrir, jamais executado.


Que falta me faz essa liberdade!

Que falta faz o ar que não mais entra.

O verde-musgo é a ferida que hoje marca

A minha janela nunca mais aberta à tarde.


Fabiano Favretto

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Cera que é verdade?

 - Antigamente isso aqui era tudo mato!

Disse a chefe para a nova depiladora contratada.


Fabiano Favretto

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Ponto de vista

Com o tempo, vi meus cabelos ruivos ficarem cinza. Não sei se envelheci, ou se virei daltônico.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Estado Melancólico-Perpétuo

  1. Estado constante pelo qual alguém não deixa de estar melancólico, devido seu interior ser triste por natureza;
  2. Motor movido à lágrimas (ver coração despedaçado), sem motivo ou razão aparente;
  3. Compreende-se a fórmula:

M = Tᴿ
        ----
        E

Onde:

  • M corresponde à melancolia (resultado a ser obtido);
  • T significa o grau de tristeza do indivíduo. Diferente da melancolia, a tristeza é mais facilmente identificável. Numa escala de 1 a 3 identificamos o número 1 como um nível de tristeza pequeno, enquanto o número 3 como um nível insuportável de tristeza, e por consequência o número 2 um número mediano¹.
  • R é a razão da tristeza. Numa escala de 5 a 10, você definirá o quanto essa razão é responsável pela tristeza.
  • E corresponde à existência. O peso de existir podemos definir como 180. ²

Temos um resultado que varia de ~0,005 a ~328. Quanto mais perto de 328 o valor de M, mais melancólico o indivíduo é. Quanto mais próximo de 0,005 o valor de M, o indivíduo continua melancólico, porém em um grau menor. Vale observar que os resultados podem variar de acordo com a definição da escala de razão de causa, elemento mais subjetivo da fórmula³.











1. Escala com distâncias curtas, pois todas as tristeza, embora tenham origens diferentes, possuem estes três níveis de intensidade (Suave (1), Mediano (2) e Insuportável (3)).
2. Relacionado ao número de graus que definem a existência de um triângulo. Corresponde também à metade inferior de uma circunferência, visto que quem é melancólico nunca deu a volta por cima.
3. Esta fórmula é fictícia e anedótica. Os resultados não devem ser tomados como reais, e sim somente como licença poética. Para definir realmente os motivos de suas tristezas, procure um psicólogo.

Fabiano Favretto

IMT

A Instituição de Minha Tristeza
Tem seu alicerce forjado sobre minhas mágoas.
Possui um sólido regimento interno,
Que apesar de frio, apresenta alguma franqueza.
Nesta instituição, recebi honoris causa,
Devido a minha teoria de Estado Melancólico-Perpétuo,
Comprovado empiricamente pelas minhas lágrimas.
Há quem diga que eu poderia lecionar
A disciplina da tristeza aplicada,
Porém acredito que este tipo de assunto
Hoje está ultrapassado, apesar de nosso tempo sombrio.
O zeitgeist aponta essa desconstrução como necessária,
E eu por isso até poderia mudar meu estado
Se soubesse qual metodologia me ajudasse,
Ou qual linha correta de (meu) pensamento seguir.
Estou cada vez vagando mais
Por estes corredores sombrios,
Cujos livros com verdades
E pensamentos positivos
Estão nas prateleiras mais altas,
Longe do alcance das mãos.

Fabiano Favretto

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Gosto

 A comida é forte

Mas dá pro gastro.


Fabiano Favretto

Gasto

A comida é pouca

Mas dá pro gosto.


Fabiano Favretto

O corte da cebola

Cortando pétala por pétala,
Camada por camada vai se desfazendo.
Pelo ar, os olhos vão ardendo
E na mão há o odor que o corte exala.

Cabe na porção dramática
A transparência que na divisão se cria:
Entre verde claro e branco o sabor se anuncia
Como uma questão resolvida da matemática.

Reduzida a pequenos pontos,
Cubos imperfeitos ali se empilham.
Podem ser irregulares, mas compartilham
Dos paladares picantes e amargos.

Na visão turva que me aparece,
Vejo uma tela que às vezes é esquecida:
Há quem esconda uma lágrima caída,
Mas sabe que das camadas o cheiro permanece.

Fabiano Favretto



DesGRAUçado

A moto passou

Tlac tlac tlac!

Pareciam tiros,

Mas foi só o escape.


Fabiano Favretto

Pino

Minha cabeça é uma granada

Pronta para explodir.

Está sem o pino,

E o que venho pensando

É um estopim.

Mas calma, não deixemos

Cair nossos pensamentos,

(eu não atiro palavras)

Eu deveria parar

De pensar bruscamente.


Fabiano Favretto


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Rigor Mortis III

 I - Tremores


Com a viola em cacos,

Buscava encontrar sentido, 

De onde havia se metido.

Já sentia um grande asco


De tudo o que havia passado,

Dos monstros, da recente realidade:

Parecia a mais sórdida verdade

De que à loucura estava fadado.


Suas mãos tremiam novamente,

Sua cabeça parecia que ia explodir.

De repente, de joelhos veio a cair

Com as imagens que viu em sua mente.


Eram imagens complexas e densas,

Que estavam além de qualquer compreensão,

E que jamais poderiam até então

Se encaixar em qualquer mundana crença.


Sua visão foi ficando embaçada,

E de bruços foi de encontro ao chão.

Tudo parecia agora uma grande ilusão:

Parecia que sua vida estava acabada.


- Não! Não haverá de acabar aqui

A tua história mal começou!

E o seu trato ainda não pagou,

Então levante e saia agora daqui!


II - Claridade


Do escuro ao claro,

A mente do violeiro retornou.

De joelhos esse tempo ficou,

Apenas havia alucinado.


Possuía uma fraca noção

De que uma voz havia ouvido,

E que isso deu sentido

Para a quebra da alucinação.


Olhou ao redor, mas nada via,

Buscava na relva, no alto,

À distância, no mato,

Mas lá nada havia.


Chamou por alguém,

Nenhuma resposta obteve.

Sentiu a brisa fria de leve

E um assovio mais além.


Seguiu o som que agora aumentava,

Enquanto o vento ainda mais frio,

Foi lhe dando um arrepio

Enquanto se aproximava


De uma árvore grandiosa.

Aparentava ser mais velha

Que tudo ao redor dela,

De uma maneira misteriosa


III - a árvore


Observava com bastante atenção:

A árvore parecia um monumento,

E que com a brisa leve do vento

Assoviava como em uma canção.


De repente os galhos se entortaram,

E em sua grossa casca algo apareceu,

Estupefato o violeiro percebeu

Que os veios em um rosto se transformaram


A paisagem ao redor também se modificou:

Os galhos se tornaram como braços,

E nas raízes apareceram velas e pedaços

De ossos de alguém que um dia ali passou.


Pensou em fugir daquele lugar,

Mas aquela cena o fascinava.

Não era nada do que esperava,

Porém decidiu não recuar.


Decidiu então gritar,

"Se está vivo, dê uma resposta!"

Fez nesse pedido uma aposta

Pensando que não iria adiantar.


Porém os olhos se abriram,

E tudo ao redor ficou escuro.

Não se sentiu mais tão seguro

Depois que as velas se acenderam.


IV - A coisa


"Fugitivo de Sheol, o que você quer?"

Indagou uma voz ofegante,

Que da árvore em tom sufocante

Ao violeiro pediu parecer.


Diante daquele questionamento,

O homem corrigiu sua postura,

Pois já naquela altura

Não havia qualquer alento


Que o desse segurança.

Queria ao menos parecer forte,

Já havia evitado a morte

Acreditava não haver esperança.


Com um ímpeto de coragem

Ele perguntou à arvore imponente:

"Quem é você? Diga rapidamente!

Pois logo quero seguir viagem"


"Sou rejeitado pela terra e vermes,

Não posso ir ao céu, nem ao inferno.

Isto que vês é meu destino eterno

Meu corpo tornou-se cerne"


Fui tão mau que não posso descansar,

A menos que algo bom eu possa fazer.

Meu corpo seco poderá se desfazer.

Eu te ajudo se você me ajudar"


V - A proposta


Desconfiado o violeiro estava

Pela proposta inquietante,

Mas ainda que relutante,

Percebia que nada mais lhe restava.


"Como podes me ajudar,

Se és uma árvore somente?

Como saberei se você não mente

Para depois querer me matar?"


Respondeu a criatura de modo eloquente:

"Estou aqui antes de muitas coisas,

Antes mesmo de tu e de tuas escolhas.

Sei que poderá fazer diferente!


SimA viola que você leva consigo

Está tão quebrada quanto seu fado,

Não precisará mais carregar esse fardo

Se entenderes que não sou seu inimigo.


Quando jovem fui o melhor artesão

De instrumentos do Novo Mundo,

Porém me sentia moribundo

Queria tudo, era muita ambição.


Fiz um pacto com aquele que conhece,

E acabei assim amaldiçoado.

Consertarei tua viola se for de teu agrado

Mas para isso quero que me vingue."


VI - O conserto


Refletindo de maneira preocupada,

O violeiro sentiu-se incomodado:

Deveria acreditar no diabo

Ou naquela criatura enraizada?


Decidiu com relutância

Dar ouvidos aquele medonho ser.

Olhou para ela com desprazer

Novamente ele sentia ânsia


"Te ajudarei. Conserte minha viola!

Como você fará o conserto?

Não sei se é o modo certo,

Mas faça-o que eu quero ir embora!"


A criatura começou a explicar:

"Em meio ao caule que me sustenta,

Uma abertura poderá ser feita.

Ali a sua viola você irá depositar.


Para começar, de teu sangue preciso

Que se misture à seiva que em mim corre,

Assim o que é quebrado morre

Para dar lugar aquilo que será vivo!"


Após a mistura profana encerrada

Uma abertura sombria ali surgiu.

O violeiro a viola introduziu

Achando ter feito a escolha errada.


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Maquete

De cima vemos tudo como uma maquete,

Onde pequenos autômatos vagam

Com certos destinos diferentes.

À noite todos se recolhem

Para dar voz à rua,

Que muito eloquente,

Balbucia

Um latido de cão,

Uma moto distante,

Um assovio de alguém.

No poste a luz de mercúrio

Pisca às vezes sim, às vezes não,

Enquanto mais alto ainda,

Tecendo redes no céu,

Um avião passa

Com seu rugido de monstro

Metálico,

Zombando

De tudo que é janela

Aberta,

Abaixo.


Fabiano Favretto








segunda-feira, 19 de abril de 2021

Rigor Mortis II

 I - O Caminho


Num caminho tortuoso

Caminhando ele estava,

E a toda hora imaginava

Que todo passo é perigoso.


O sol a pico ia queimando

Todo ser que ao relento ia,

Ao olhar para frente sua vista doía

Mas o violeiro continuava andando


Na mente daquele homem

Toda paz virava trevas,

E o caminho longo, deveras,

O deixava sem coragem.


Após andar grandes distâncias,

A torre de uma igreja o violeiro viu.

Da mesma igreja os sinos ouviu

E de receio, sentiu uma grande ânsia.


Encostou-se debaixo de um arbusto

Onde a sombra tornou-se abrigo,

Mas na verdade pensava consigo

Que aquilo que passava não era justo.


Em muito a sede corroía sua garganta

Enquanto ao centro da cidade ia chegando.

Avistou um bar, e nele logo foi entrando:

A bebida seria sua redenção sacrossanta.


II - A donzela


No balcão o violeiro chegou,

E ao bartender pediu um conhaque.

Com rosto franzido, o homem de fraque

Uma dose a ele entregou.


Ouviu uma voz ao seu lado

Que o seu nome havia proferido,

E ao ver quem era, ficou aturdido:

Uma linda donzela o havia chamado.


Ela após um riso cínico fala:

"Por que estás assim em frangalhos?

Ainda não terminou o seu trabalho!

Ou quer novamente encarar a vala?"


A bela imagem se desvaneceu,

Nos olhos vermelhos o mal ele viu.

Uma angústia no momento sentiu,

Mas o medo no momento perdeu.


Questionou assim, aquela mulher:

"Por que a mim apareceste agora?

Terminando meu drink, irei embora,

Então diga o que tem pra dizer!


Tome esta moeda agora,

Pois uma besta sua já derrotei,

E logo, esta parte do trato paguei.

Estou saindo! Te espero lá fora".


III - A tarefa


Estava um tanto cansado.

Esperava ele muito impaciente,

E num estalo, de repente

O Diabo apareceu ao seu lado.


Não tinha mais a forma daquela donzela,

E rindo, o Diabo já foi dizendo:

"Achastes que não sei o que vem acontecendo?

Tenho outra besta, e deve hoje mesmo detê-la"


Então o violeiro de modo sarcástico respondeu:

"Não me diga que é por que hoje é sexta-feira!

Pra mim essa coisa de monstros é tudo besteira,

E por que dentre tantos você me escolheu?"


"Não se sinta tão especial, violeiro,

Eu não te escolhi, apenas aconteceu.

Você teve tanto azar, amigo meu:

Foi você que me chamou primeiro


Deve você saber que não estou brincando:

Tu deverá derrotar hoje esta fera,

Pois ela aparece em uma específica era

Então trate de preparar logo um plano


Tome, pois estas cordas de prata

E afine sua viola de modo profano

Pois o monstro não tem ouvido humano.

Haverá tu de encontrar a afinação exata!"


IV -  A afinação

 

Colou-se a trocar as cordas

Mas sentia-se relutante.

O vento tornava-se ululante

Enquanto passavam as horas.


Ao trocar as cordas, com efeito,

Pensou em uma maneira de afinar

Não tinha ciência por onde começar

As cordas não estariam talvez com defeito?


Tentou de muitas maneiras diferentes,

Mas nenhuma resultou em modo bom

A noite havia chegado, e nenhum som

Parecia sair de uma forma eloquente.


Ouviu uma voz grave ao seu lado,

Havia dito que o Diabo o enganou

Mas ali nada ele enxergou.

Aquelas cordas não deveria ter trocado.


Um desespero começou a ele chegar,

Pois havia muito tempo com isso perdido,

As cordas antigas não mais serviam, e desiludido

Desistiu de pegar as cordas antigas e recolocar.


Detrás de uma  grande pilha de lenha veio

A besta que em direção ao violeiro correu.

A esperança do pobre coitado desvaneceu

Quando a besta partiu a viola ao meio.


V - A besta


Estava paralisado por tanta tensão

Pois não entendeu direito o que aconteceu,

Não sabia se era lobo ou homem o que apareceu

E aquilo estava voltando em sua direção


Tratou de mover-se imediatamente

Carregando a viola em pedaços:

Pelas cordas estava pendurado o braço

Balançando de um modo intermitente.


Viu um movimento de soslaio

E em direção à uma árvore alta correu

A besta no mesmo momento o surpreendeu

Aparecendo em sua frente como um raio


Em seguida veio rapidamente ao encontro,

Atropelando rapidamente o violeiro,

Que jogado pro alto por inteiro

Caiu de repente sobre o monstro


As cordas de prata enrolaram-se

No pescoço da fera que alto gritou.

Viu que as cordas de prata a queimou

Entao elas puxou ele mais forte!


De joelhos caiu a fera, com o pescoço queimando,

E logo o que era homem e lobo desistiu,

O violeiro com uma de suas maos ensistiu

Ir ainda mais as cordas apertando.


VI - A aparição


De repente um barulho ressoou:

Em fogo a criatura foi se transformando.

Ele rapidamente foi se afastando,

Mesmo assim uma mao queimou.


A moeda que no chão apareceu

Ele juntou e segurou firme em sua mão.

Estava cansado mais uma vez da situação

O que houve com a viola o entristeceu.


Enquando olhava a palma de sua mão

Novamente uma voz ouviu

Achou que estava ficando senil

Pois era a mesma voz que apareceu de antemão


À uma certa distância avistou alguém

E com passos trôpegos foi em direção.

Viu que era um sujeito com certa mansidão

E que tocava viola como ninguém


O sujeito de chapéu foi lhe contando

Que antigamente havia sido um dos melhores,

E que sabia que ali perto, nos arredores

Conserto para a viola poderia ir procurando


Uma ponte de esperança no violeiro surgiu,

E quando foi aquele homem agradecer,

Viu que ele acabara de desaparecer.

Então com a viola quebrada seu carreiro seguiu.


Fabiano Favretto



terça-feira, 13 de abril de 2021

Parasita

Parasitar

Para citar

A obra 

Sem referenciar.


Fabiano Favretto

Palmas

O segredo que agora conto

Do vôo que sempre estrova,

O pernilongo tanto tonto

Sua vida pelo sangue trava:


Milenares hematófagos,

Seus antepassados beberam

De faraós, antes do sarcófago;

Do sangue de reis se saciaram,


E voaram pelos jardins da Babilônia,

Picaram também Alexandre,

Que lá em Macedônia

Talvez passou raiva grande.


O pernilongo foi contemporâneo

De Gengis Khan e seu império,

Buscou sangue no subcutâneo

De todo o exército, com certo brio.


Presenciou as insônias de Dalí,

Que dos zumbidos surrealistas

Foi o salvador e agora vai

Ser sonho eterno de artista.


E a ti, mosquito medonho,

Palmas tenho que bater.

Meu dia anda tão enfadonho

Que em minhas mãos tem de morrer!


Fabiano Favretto

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Cultivando

Plantei cem razões,

Colhi sem igual.

As piores divisões

Foram exponencialmente

As das raízes quadradas.


Fabiano Favretto

Ortográfico

O céu da noite

Só não é seu

Por um pequeno

Capricho ortográfico.


Fabiano Favretto


Artérias

Uma canoa veloz

Descendo o rio

Rasgando os veios,

Veias e velhas

Artérias

Florestais.


Fabiano Favretto

segunda-feira, 22 de março de 2021

Moisés

Quando com fome

Saí do Egito,

Eu, Moisés

Pedi para Deus

Separar o mar para viagem.


Fabiano Favretto

Intenções

Domingos tem intenções de serem tristes, 
E segundas intenções de serem piores.

Fabiano Favretto

O trauma dos gatos

O trauma dos gatos

Que foram expropriados

De algumas vidas,

Se caracteriza nas idas

Para uma rotina calma,

Para uma preservação de alma.


Os novelos são agora mais interessantes

Do que o muro alto que subia antes,

E ainda, a caçada que era noturna e constante

Foi trocada pela comida servida num instante.

O trauma ainda silenciosamente esconde

O segredo que começa sem se saber por onde:


A queda do alto não tem mais rotação,

Os pés não aguentam o corpo ao chegar ao chão.

O felino com as vibrissas cansadas

Esconde por detrás delas as miadas

Que não entoará mais nos telhados sozinho,

Somente no sofá, ao sol da tarde, baixinho.


Fabiano Favretto




Reforma

As ruínas 

Roídas

Arruinaram-se

Pela reforma.


Fabiano Favretto


sexta-feira, 5 de março de 2021

sábado, 20 de fevereiro de 2021

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Presságio

Devo responder aos anseios
Que latentes me movem para o abismo,
Pelo fogo da revolução que arde forte,
Ou pela necessidade da mudança?

Não há luta que se possa lutar sozinho,
Mas cada luta que se escolhe lutar é uma escolha individual.
Como poderei então lutar em conjunto
Se os filhos desta terra pensam como se fossem meus inimigos?
Onde haverá hoje um pequeno movimento ou pensamento que unam os justos?

O tempo tem passado rápido, e tem sobrado pouco para fazer planos certeiros.
Perdi amigos  e conhecidos para a ignorância, que sepultados hoje em falsas notícias
Obedecem prontamente aos comandos mais sórdidos, sem quaisquer questionamentos.
Vejo agora formado um verdadeiro granfalloon:
Sem alma e sem propósito, servos obcecados por seu líder,
Que se mostra vazio de justiça e ética, mas cheio de ódio e desprezo.

Prevejo que num futuro não muito distante
Haverá um dia em que fogo descerá dos céus,
Pelas trombetas de grandes metralhadoras,
Aniquilando qualquer um que tenha opinião diversa do líder.
Haverá um segundo dilúvio, mas este, de sangue.
A arca transportará os corpos daqueles que deverão ser esquecidos,
E tudo será negado perante as mídias que aceitarão qualquer verdade.

Haverá também fome, doenças e pragas
Que se resolverão apenas por orações a preço fixo.
Erguer-se-ão templos majestosos para idolatrar o líder 
Que se fará ser acreditado como enviado de Deus,
E no final, crucificará aqueles que propagam o amor e a dignidade humana.

A nossa bandeira será devidamente alterada:
As estrelas cairão por terra.
Na faixa que atravessa o globo azul-anil
Não haverá ordem nem progresso,
E o verde representará os campos dos grandes proprietários,
Em coloração referente ao dólar exportação.
O amarelo representará a covardia, o medo e a falta de vontade
De lutar pelo o que um dia foi nossa pátria,
Nosso lar.

Fabiano Favretto

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Poesia prosa

Tive um dedo de prosa

Com a minha consciência,

De que toda rima

É só coincidência.


Fabiano Favretto

O corvo que caga em minha cabeça

À Alcir Zanini, meu amigo.


Tenho um velho corvo

Que caga em minha cabeça,

Não posso fazê-lo que me obedeça:

Está se tornando para mim, um estorvo.


O corvo não é sombrio igual ao do velho Edgar,

Nem inteligente quanto o da fábula de Esopo.

É um corvo malandro, e de certa forma escroto

Que me faz ter vontade de matar!


Há, porém, tanta discórdia que ele propaga,

E na minha cabeça grita todavia, alto:

Sempre, sempre! E depois de sobressalto

Se discordo dele, o malandro, caga.


Pássaro prolixo e maldito!

Não sei de que maneira aqui chegaste,

Se da fauna brasileira tu não faz parte!

Dentro de minha cabeça, vivo com esse eterno grito:


Sempre!

Sempre!

Sempre!

Sempre!


Fabiano Favretto


Tempo-espaço

Até esse momento 
De minha vida
Não sei o quando
Escrevi.

Fabiano Favretto

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Fundo

Escuridão é o que me habita,

E nenhum pedaço de paz me chega.

Apenas trevas em mim tem espaço

E para o fundo esse caos me leva.


Da luz estou me afastando

Cada vez mais caindo por um precipício

Onde não vejo um fundo a princípio

À medida que vou afundando.


Desistindo sem pensar novamente,

Apenas aceitei a anestesia do nada,

Esperando que essa dor complicada

Desapareça para sempre.


Fabiano Favretto

Pela eternidade

Hoje só queria um dia cinzento,

Pois o Sol parece ironizar minha dor.

Queria frio ao invés do calor,

Queria chuva sobre o cimento.


Queria que a luz não entrasse pela janela,

Para não fazer eu ter esperanças,

Afinal dela só tenho lembranças

E sei que não é assim tão bela!


Quero acabar com toda vontade

De gritar que a vida é boa.

Sabemos que não é boa nem a metade.


Quero acabar com o sono da realidade

E continuar acordado em essência

Sentindo o frio da verdade pela eternidade.


Fabiano Favretto

domingo, 24 de janeiro de 2021

A partir de hoje, todos os participantes que apareceriam em meus sonhos devem ficar cientes que cancelei meu plano vitalício de sonhos. Logo, peço que encontrem outros sonhos onde possam marcar presença. Minhas noites serão de sono profundo daqui em diante. Caso apareça algum plano que cobre menos horas de sono ou traga um pacote menor de pesadelos, posso considerar voltar a sonhar novamente com prévio aviso. Grato a atenção,

Fabiano Favretto

Oração Insubordinada

Dai-me Senhor,
Paciência e virtudes!
Se algo me restar,
Que não seja culpa.

Amém.

Fabiano Favretto

Noite a dentro

Avançando, noite adentro,
Sinto o vento que ousa soprar 
No escuro que na capital nunca chega, 
Através da janela que está mal fechada 
Ao meu braço (agora ouriçado) 
Insistente em querer ocultar a claridade 
Que a meus olhos chegam. 

Vento invento 
Luz reluz 
Noite adentro

Fabiano Favretto

Atlas

 Antes eu corria pelo mudo

Sem me preocupar com as sentenças.

Os anos se passaram, 

E da mesma maneira que Atlas, 

Sinti o peso do mundo.

Como poderia eu suportar

Sem cair de joelhos perante

À minha impotência?


Fabiano Favretto

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Fóssil

Dizem que as preguiças gigantes foram extintas há milhares de anos, mas não acho fóssil ter que levantar da cama todo dia de manhã.

Fabiano Favretto

terça-feira, 12 de janeiro de 2021