quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O medo

Recorro agora ao medo,

Sentimento tão contemporâneo.

Ele que cresce nas hachuras


Desenhadas em remendos

Do nosso tempo instantâneo,

Repletos de ranhuras.


O medo que não é só amarelo,

Mas também invisível e covarde

A ponto de pronunciar-se


Ao decorrer do menor pesadelo.

O medo chega sem alarde

Nos fazendo suplicar por catarse.


Ora, tão primitivo e essencial

É esta parte de nosso intelecto:

O medo do que não conhecemos


Tem sido na evolução, crucial,

Em seus diversos aspectos.

O que acontece quando morremos?


Mas talvez o medo

Seja diferente da covardia.

Por detrás do medo há uma defesa,


Enquanto da covardia o enredo

É uma fajuta alegoria

Para o caçador que se torna presa.


O medo é nobre em sua essência,

Pois não é antônimo da coragem.

Há corajosos que por natureza


Não trazem em si sapiência,

Os atos carecem de pairagem.

Traz o medo, em si, a delicadeza.


O medo arrebatador

Nos paralisa e nos move.

O medo do que virá é certo,


E nem por isso é desmotivador.

O medo ao certo nos comove,

Há muito medo sob esse céu aberto.


Este velho amigo

Que é digno de tantos receios

Terei um dia melhor compreendido.


Seja na bonança ou no perigo,

Seja em quais forem os meios

O medo estará sempre comigo.


Fabiano Favretto



sábado, 7 de agosto de 2021

Letras capitãolares

Flores são belas

Onde quer que elas nasçam.

Ruas estão em algum lugar

Ainda que não levem a lugar algum.


Brincadeiras sem graça alguma

Oneram o sentido da piada:

Leis são somente palavras

Sem qualquer validade.

Onde reside o rei cego?

Nada contra a correnteza da vida,

Afoga-se em leite condensado.

Rezemos para que larguem

Os ossos que talvez sobraram.


Fabiano Favretto

Estrelas cai-dentes

As estrelas são dentes de leite

Que estão prestes a cair

Em qualquer lugar

Da Via Láctea


Fabiano Favretto

Verde musgo

A minha janela cujas madeiras 

Foram surradas pelos dias,

Criou com resiliência 

Musgos em suas ombreiras.


Olhei com certa curiosidade

Até onde os musgos apareceriam,

E vi que de verde toda a canaleta cobriam;

A janela estava travada com propriedade.


De que maneira havia ignorado

O avanço desta força oxidante?

Percebi estar diante

Da ausência do abrir, jamais executado.


Que falta me faz essa liberdade!

Que falta faz o ar que não mais entra.

O verde-musgo é a ferida que hoje marca

A minha janela nunca mais aberta à tarde.


Fabiano Favretto

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Cera que é verdade?

 - Antigamente isso aqui era tudo mato!

Disse a chefe para a nova depiladora contratada.


Fabiano Favretto

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Ponto de vista

Com o tempo, vi meus cabelos ruivos ficarem cinza. Não sei se envelheci, ou se virei daltônico.

Fabiano Favretto

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Estado Melancólico-Perpétuo

  1. Estado constante pelo qual alguém não deixa de estar melancólico, devido seu interior ser triste por natureza;
  2. Motor movido à lágrimas (ver coração despedaçado), sem motivo ou razão aparente;
  3. Compreende-se a fórmula:

M = Tᴿ
        ----
        E

Onde:

  • M corresponde à melancolia (resultado a ser obtido);
  • T significa o grau de tristeza do indivíduo. Diferente da melancolia, a tristeza é mais facilmente identificável. Numa escala de 1 a 3 identificamos o número 1 como um nível de tristeza pequeno, enquanto o número 3 como um nível insuportável de tristeza, e por consequência o número 2 um número mediano¹.
  • R é a razão da tristeza. Numa escala de 5 a 10, você definirá o quanto essa razão é responsável pela tristeza.
  • E corresponde à existência. O peso de existir podemos definir como 180. ²

Temos um resultado que varia de ~0,005 a ~328. Quanto mais perto de 328 o valor de M, mais melancólico o indivíduo é. Quanto mais próximo de 0,005 o valor de M, o indivíduo continua melancólico, porém em um grau menor. Vale observar que os resultados podem variar de acordo com a definição da escala de razão de causa, elemento mais subjetivo da fórmula³.











1. Escala com distâncias curtas, pois todas as tristeza, embora tenham origens diferentes, possuem estes três níveis de intensidade (Suave (1), Mediano (2) e Insuportável (3)).
2. Relacionado ao número de graus que definem a existência de um triângulo. Corresponde também à metade inferior de uma circunferência, visto que quem é melancólico nunca deu a volta por cima.
3. Esta fórmula é fictícia e anedótica. Os resultados não devem ser tomados como reais, e sim somente como licença poética. Para definir realmente os motivos de suas tristezas, procure um psicólogo.

Fabiano Favretto